Não-Dica: Master Disco Piloto
São 4 da manhã. Eu e o Cassius Augusto (baixista do Dorgas) estamos atravessando mais uma madrugada falando mal de outras bandas, relembrando canções de bandas pseudo-cults e descobrindo novas pessoas dispostas a serem o próximo rock star da semana. Tem uns caras que conseguiram juntar todas esses quesitos de nossas conversas musicais em um só som. Em resumo, é uma banda horrível. Mas de tão ruim é que nasceu a beleza da questão. É a melhor pior merda que escutei em anos.
A começar pelo nome: Master Disco Piloto. São uns guris do sul que resolveram se auto-sabotar e fazer um som que emule de tudo um pouco na mais escrota qualidade de arranjo. As faixas de divulgação são de uma gravação ao vivo de ensaio com uns teclados que parecem ser da marca Cassio (daqueles para iniciantes no instrumento), as guitarras tem timbres vazios e distorções vergonhosas que dão a entender terem sido tiradas de um pedal Zoom 505, daqueles que você compra junto com sua primeira guitarra Tonante (que agora se chama Clave) por 200 reais.
E aí que começa a ironia: o grande desafio de criar o melhor som com o que se tem de pior. Quem não sabe, o saudoso Grandaddy começou assim, com instrumentos desse naipe e hoje são considerados uma entidade-mor na música indie mundial. As letras são um caso a parte e refletem esse clima de ‘tosqueira bonita’ que a banda tenta imprimir. Já na primeira estrofe de “Apollo (Muy Bien)” o Jece Valadão é citado e a canção termina, depois de um solo faroeste copiado, com o verso “tá pegando fogo, chama o bombeiro, o índio, o mecânico, o cowboy e o motoqueiro. A noite é uma festa e o diabo é o dj”.
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De primeira, demora para entender a piada, a ficha cair. Você tem que passar para a segunda música e prestar atenção na letra de “Loser’s Party” e entender que eles não estão se levando tão a sério. A letra fala literalmente de uma festa loser, cheia de criancinhas e bebidas não-alcoolicas, até que um momento entra um rap bizarro estilo Tico Santa Cruz e uns ‘papapa’ quase chegando num B’52 dos anos 2000. “Você pode apertar as teclas luminosas do meu sintetizador; alterar o espaço tempo desta noite, revolucionar o amor”, letra de “Sintetizador”, que obviamente, tem o tal instrumento tocado de maneira repetitiva durante toda a música, que assim como todas as outras canções, carrega uma veia pop estranhamente gostosa. Algo como o Jota Quest tocando Shoegaze. Isso lembra os primeiros eps do Minus The Bear, banda que fazia questão de por letras e nomes bizarros nas músicas por simples preguiça iniciante.
“Bomba G” chamou me atenção de cara pelos versos que ecoaram milhares de vezes na minha adolescência pelo pessoal do DeFalla: “Eu tenho a força, cavaleiro de Jedi, então vem poposuda vai”. Sim, a “Melô da Popozuda“, música que em 2000 colocou o DeFalla de volta no cenário brasileiro e a Joana Prado, mas conhecida como a Feiticeira, no meu imaginário. Por fim, quando você já estiver cansado da mesma distorção de guitarra em todas as outras canções, “Baita Profissional” parece um hino aos técnicos de som relapsos e/ou curiosos que cuidam da mesa de som dos estúdios, shows e tal – um mal que todo o músico já passou/passará. Não por nada, nessa faixa, o vocal começa com um volume bem mais baixo.
O que o MDP realmente parece querer é apontar os clichês musicais e criticar o pop atual com letras que refletem o atual mau gosto radiofônico que a massa consome. A discussão que eu e Cassius travamos sobre a banda acabou quando encaramos a dúvida de a banda realmente existir ou ser apenas mais uma brincadeira de Gabriel Von Doscht (guitarra, programação e vocal), Gustavo Foster (bateria) e Cintia Loureiro (baixo), que um dia já assinaram com Os Vilsos e hoje, com a adição de Caetano Barreto (guitarra e teclado) formam o Master Disco Piloto.