Uma grande banda tocando num grande parque para um grande público
Hoje eu vi um show de uma banda grande, com estrada, história e importância. Bem, pelo menos era o que parecia. Ao contabilizar as cerca de mil e quinhentas pessoas que trocaram a Copa do Mundo e um domingo de descanso para acordar cedo, enfrentar uma chuva torrencial e assistir a um show apenas, penso que aquilo deveria ser realmente importante para estes presentes.
Quando você quebra o formato tradicional da madrugada no palco e encaminha ao seu público uma opção alternativa para apreciar o som, surge uma brecha para um novo direcionamento. Neste show que vi, esse tal ‘grande artista’ parecia tocar para o mesmo público das madrugadas somado pelos anos de estrada. Em resumo, vimos ali senhoras, adultos e crianças formando um público de quem já foi fã, que é fã e que passou a ser, renovando os seguidores da atração.
Todos os elementos que propõem o estereótipo de um grande show de um grande artista estavam lá. Eu vi todos cantarem a música juntos mais alto que o próprio vocalista, vi um fã invadir o palco e agarrar o músico no meio de uma canção, sendo retirado por um dos 5 seguranças que protegiam o palco, vi palmas e coros coreografados, vi declarações de amor para amadas e até um pedido de casamento, vi público pulando, vi garotas gritando, vi pedidos de músicas dentro de um show com mais de vinte tocadas, vi outros também grandes artistas fazendo participação especial, vi danças, vi público vidrado, vi pessoas fazendo com a boca o som de teclados e guitarras, vi air guitar, vi solo psicodélico, vi longas palmas ao fim das músicas, vi pedidos de bis, vi sorrisos, vi olhares, vi lágrimas, vi alegria, vi um grande show de uma grande banda.
A tal banda fez o sol nascer após uma tempestade, os pássaros do parque voltarem a cantar e os funcionários correrem para ver quem eram e pedir CDs e autógrafos. O vendedor da banquinha de CDs gritava alto: “É o último, vendeu esse acabou”, logo após quase 50 discos evaporarem com furor da lojinha da banda. O baixista, ainda novo na formação, não se cansou de escrever dedicatórias no disco que não gravou, seguindo isso durante há mais de uma hora de autógrafos, declarações de amor, anúncios de ser o maior fã da banda e até pedidos para tirarem foto com o filho pequeno no colo do frontman do trio. O celular foi muito usado, principalmente um que tinha capa do Romero Britto. Não por acaso, uma busca no nome da banda pelo Twitter e Instagram revela mais de 50 citações em menos de duas horas.
Alguém deve estar pensando: “Aquela banda de estrutura, com produtores, assessoria, roadie, um palco grande, um som de qualidade absurda, várias câmeras e até um drone filmando o público, deve estar gravando um DVD de 20 anos de carreira”.
A Maglore, a tal banda, está chegando ainda aos 5 anos de formação, tendo dois discos e nenhuma ligação com gravadora ou até mesmo um selo independente. Em casa, tocaram apenas canções próprias e convidaram Giovanni Cidreira, um promissor cantor e compositor, e Pietro Leal, vocalista do grupo Pirigulino Babilaque, para cantarem canções para um público diverso e em êxtase.
Talvez eu esteja errado e não saiba direito o que aconteceu, mas o que eu percebi era que os grandes artistas se fazem no coração do público e que, principalmente, eles estão longe de serem diferentes dos chamados ‘grandes artistas’. Grande foi aquilo que os quase dois mil presentes viram, pediram bis e agora, como eu, querem de novo e de novo e de novo e sempre.