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Um título curioso, bom humor e composições inteligentes marcam o novo disco do Charme Chulo

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Eles são ousados: lançaram um álbum duplo com vinte faixas no total bancado via crowdfunding. O impecável Crucificados Pelo Sistema Bruto é o terceiro disco dos curitibanos da banda Charme Chulo, formada por Igor Filus (voz), Leandro Delmonico (guitarra e viola caipira), Hudson Antunes (baixo) e Douglas Vicente (bateria). Os rapazes são um nome de peso do rock caipira brasileiro e comprovam isso no novo trabalho repleto de diversão, reinvenção musical, canções de protesto e um título pra lá de legal.

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O Igor Filus bateu um papo com o RockinPress e afirma que a ousadia da banda vai desde o formato de álbum até o conteúdo. “Neste terceiro disco a música caipira encontra-se resolvida, assimilada, apesar dela estar o tempo inteiro presente, o foco principal é outro”, conta. Fique agora com a entrevista completa:

Qual a mudança mais marcante no álbum novo?

Sem dúvida uma maior agressividade, de modo geral, no texto, na musicalidade, na arte. Trabalhamos desta vez com elementos mais sujos, mais chulos, por assim dizer. Esse disco resumidamente buscou a essência do nome da banda, Charme Chulo, algo que aliás, pra gente sempre esteve além da simples mistura de rock com música caipira (que acabou virando a principal marca da banda). Sempre quisemos fazer jus ao nome e a essência contundente, conflituosa das ideias e da estética do grupo. Então chegou a hora.

A faixa “Fuzarca” do novo disco combinou muito bem com a voz do Helio Flanders, do Vanguart, e trouxe uma sonoridade mais folk rock no som do Charme Chulo. Como surgiu a ideia da parceria?

Cada música do Charme Chulo tem uma personalidade própria, e sempre sonhamos em fazer uma música tipo “Fuzarca”, um foxtrote de alta rotação, com essa pegada bem folk, típica da banda Vanguart, nossos colegas de longa data. Então quando a música terminou, na mesma hora pensamos, poxa temos que convidar os caras pra colocar a cereja final no bolo e o resultado não poderia ser melhor. A voz do Helio e o Hammond do Lazza caíram como uma luva.

O nome do disco é uma brincadeira com o álbum Crucificados Pelo Sistema do Ratos de Porão e a música “Aqui o Sistema É Bruto” do Chitãozinho & Xororó. Você acredita que a marca do novo álbum é esse contraste ainda mais intenso entre estilos?

Existe sim essa brincadeira literal na musicalidade do Crucificados, não é somente isso, o título do disco diz muito mais, mas sim esses extremos. Por exemplo, na abertura do disco, “Palhaço de rodeio” é praticamente um sertanejo anos 90, com guitarras em terça e tudo mais e “Com o diabo no corpo” (a oitava música na sequência) é um punk rock, anti-clerical contendo arranjos com ecos de Trashmetal, a praia dos Ratos. Mas o mais legal pra gente é o título do disco remeter ao rock caipira do Charme Chulo e de quebra homenagear ao mesmo tempo a maior dupla caipira/sertaneja de todos os tempos e a maior banda punk brasileira de todos os tempos. Punk rock caipira! É tudo muito simbólico, se você observar.

O Crucificados Pelo Sistema Bruto carrega uma crítica ou inquietação da banda sobre o espaço que o sertanejo universitário tem tomado atualmente no Brasil?

Francamente pra gente sim, pois nós começamos a tocar em 2003 com esta proposta do rock caipira, antes do sertanejo universitário se quer existir. E ironicamente enquanto desenvolvemos nossa carreira alternativa, vimos tudo isso surgir e tomar conta da indústria cultural e do gosto geral das pessoas, da forma assustadora como tomou. Então por vezes nossa proposta musical soou como se tivéssemos intuitivamente profetizado essa “nova onda caipira” que se abateu sobre o Brasil, no mau sentido da expressão. Uma “new wave” realmente industrial, publicitária e assombrosa, como é esse gênero. Por isso estar crucificado pelo sistema bruto significa sim, estarmos crucificados pelo sertanejo universitário. Pra gente mais uma das leituras a respeito do título.

O que a banda mais ouviu no período de composição e gravação do Crucificados Pelo Sistema Bruto?

A banda é muito eclética no gosto musical, o que reflete sem dúvida na sonoridade ousada do Charme Chulo. Eu particularmente passei por um período muito radical, livre de toda e qualquer amarra ou preconceito, no que eu ouvia, enquanto compunha as músicas do novo disco, ao lado do Leandro. Pois no fundo, qualquer coisa que tem o mínimo de conteúdo e apresente uma beleza melódica e harmônica daquelas que transportam a gente para outra dimensão quando ouvimos, tem valor. Quando tem alguma particularidade, algum regionalismo, melhor ainda, músicas populares do mundo inteiro, de qualquer tempo, em qualquer língua. Vou de Calypso a Serge Gainsboug, de Axé anos 80 até Dance music anos 90, sem nenhuma dificuldade. Flash backs é comigo, hits empoeirados. Me satisfaço com a viagem e a excentricidade. E de tudo é possível beber um pouco e usar da mais improvável forma em suas próprias composições.

Lançar um disco duplo com 20 faixas em uma tacada só não soa um pouco arriscado? Já que atualmente a tendência dos lançamentos de música independente é outra.

Estamos crucificados pelo sistema bruto, estamos prontos para o risco, para o suicídio mercadológico, não temos nada a perder. Ou melhor, só temos a perder em querer ser comercial. E isso o verdadeiro público percebe, e a ele apenas neste momento que estamos interessados em atingir, somente a ele. É um disco feito por financiamento coletivo, literalmente para quem apoiou, para quem está próximo da banda, para nossos fãs fieis espalhados pelo Brasil. O resto é resto e a discografia da banda ficou linda.

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Quer ver o Charme Chulo? Os rapazes vão rodar o Paraná em novembro e dezembro com o lançamento do disco. Seguem as datas:

27 de novembro – Ponta Grossa (PR) – Phono Pub

28 de novembro – Campo Mourão (PR) – Bahrein

29 de novembro – Londrina (PR) – Vitrola

30 de novembro – Maringá (PR) – MPB

14 de dezembro – Curitiba (PR) – Teatro Paiol (Lançamento da versão física do novo álbum)

Aproveita também que o novo disco está disponível para download no site da banda.

 

 

 

 

 

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