A versatilidade do Twin Shadow

Álbum: Forget

Artista: Twin Shadow

Lançamento: 15/11/2010

Gravadora: 4AD

MySpace: Twin Shadow

Rockometro: 8,0

Para alguns artistas rege a sina de andarem em cima de uma linha reta como se não houvesse fim traçando como único objetivo a repetição de notas, arranjos unitários que refletem cada vez mais o cotidiano musical deles injetando as mesmas substancias em seu corpo com um efeito colateral já diagnosticado e porque não achar que acaba sendo tudo previsível. Não é de todo mal, a questão é que às vezes se faz necessário dentro de um único disco colocar válvulas de escape para que o saturamento seja evitado e que o parecer final não seja tão redundante.

Dentre aquelas gratas surpresas que apareceram nesse ano apontasse o Twin Shadow, nome artístico do americano George Lewis Jr, com direito a aparição honrosa na Rolling Stone como banda da semana em Outubro e na Pitchfork. O dito cujo é maleável e não faz jus a um valor unitário e prefere seguir aonde o vento sopra a seu favor, conscientemente é claro, e onde ele aterrissa tira uma casquinha daqui outra dali e assim foi criando seu debut, Forget, que pode ser designado como uma verdadeira miscelânea musical, porém sem apelar a extremos com George situando-se feito um residente forasteiro em estilos circunvizinhos na sua empreitada brilhante.

O Twin Shadow caracterizasse pela sua versatilidade em lidar com sons de varias estirpes e encaixá-los perfeitamente revelando afinidade ou impondo discrepâncias entre eles no seu disco. Sujeito de bigode avantajado revela desde um ambiente ruidoso vindo de seu lo-fi caseiro, músicas que evocam alguns passos modestos na pista até a ascendência do obscuro post-punk de outrora e seu criado new wave. O cantor e instrumentista manuseia suas máquinas com praticidade e aptidão traçando os elementos criados por fiapos isolados ou enlaçados que são desenrolados por nós facilmente, ou seja, a abstração é quase que instantânea e multi saborosa.

Forget foi produzido por Chris Taylor, do Grizzly Bear, eis aí uma das reais causas de haver incessantes experimentos inseridos no disco que quando agregados realçam valores, distorcem formas ou intercalam com elas. A começar pela tenebrosa ‘Tyrant Destroyed’ cantada com uma voz sussurrada que logo é abafada quando manipulada pelas máquinas para adaptar-se a um ambiente sinteticamente flagelado. Para não transparecer certa indolência no início, em ‘When We’re Dancing’ George disponibiliza um timbre mais descontraído perante uma batida metódica preenchendo-a com loops e consideraveis efeitos que lembram o Grizzly Bear – coincidência – e afins. Sem imaginarmos, ele evoca uma guitarrada do noise, disparando vigor em segundos, como o marco do ponto de partida de uma transição inexistente. Seca e avassaladora, ‘Slow’ é uma menção honrosa a Joy Division e New Order, talvez essa seja inferência mais lógica que devemos fazer ao cantor.

Twin Shadow relaciona épocas com ‘Shooting Holes At The Moon’ em meio camadas experimentais na calada da new wave toques monofônicos de 8-bits fazem a festa que nos induzem a trocar passos na pista sorrateiramente. Esses detalhes vão se somando em cada faixa e quando adicionados aos já existentes dão um sabor a mais. ‘At My Heels’ recheada de quitutes sonoros, teclado e percussão andando de mãos dadas e uma guitarra acentuada nos envolve facilmente.


Forget é uma caixinha de surpresas e nunca se sabe com certeza o que pode sair dela como diferencial. Na nova onda do Twin Shadow em ‘Yellow Ballon’ a guitarra recua pra trás e lá fica esperando ser acionada enquanto uma bateria eletrônica irradia energia e ilumina o ambiente sombrio que a voz aveludada de George cria. Seu espírito saudosista parece predominar e aparece com momentos mais fortes e profundos em ‘Tether Beat’ em contraste com sua gêmea bivitelina ‘Castles In The Snow’ de maior lucidez vocálica.

Em meio a tudo sintetizado um solo de guitarra mais avantajado chama nossa atenção em ‘For Now’ as gratas surpresas que o cantor nos proporciona. Dando a idéia de que cada canção tratasse de um novo episódio da sua carreira, ‘I Can’t Wait’ reconstitue o post-punk sob uma perspectiva mais contemporânea endossada pelo pop disfarçado surgindo em meio ao estado arrebatador que a canção vai tomando, mas novamente em segundos ele arrasa qualquer característica sobressalente, num bom sentido, com efeitos rústicos e barulhentos descarregados no meio da canção. Esses efeitos são uns caprichos à parte. Cada vez mais George ganha crédito ao lançar sublimemente peripécias no trajeto de uma faixa.

No final, as coisas são sempre mais tensas. Onde tudo parece controlado e manipulado em sintetizadores, um solo de guitarra não ruminante beliscando a psicodélia interrompe essa saga com um apetite voraz. Nesse caso, o que era essencial torna-se apenas um experimento inserido no essencial para George Lewis Jr.

Sem ser um sujeito leviano e superficial o Twin Shadow faz Forget funcionar perfeitamente bem explorando, aproximando e revitalizando sons.