Tibério Azul @ Santander Cultural, Recife Antigo-PE 29/10/2011
“Nasci pra poesia, das sensações, do sol, nasci pro dia”. Este verso da faixa “Lá em casa” do primeiro disco solo de Tibério Azul, Bandarra, descreve perfeitamente o cantor e compositor. E foi inclusive com esta música que o vocalista da banda Seu Chico iniciou seu primeiro show depois do lançamento do CD, no último dia 29, no Recife. Depois de emendar com a música “Veja só”, Tibério tomou a palavra e explicou que a ideia do show era transformá-lo em no mais intimista possível, e que a plateia era muito bem-vinda para fazer perguntas.
E como se fosse planejado para combinar com as influências de ritmos regionais na música de Tibério, alguém permitiu-se dizer o placar do clássico dos clássicos pernambucano: Náutico X Sport. “Foi 2 a 0 pro Naútico!”. Após brincar com a decepção do resultado, o cantor rubro-negro disse que “como dizem, azar no jogo…”, e sorriu timidamente. Tibério entoou “Trabalho”, “Vamos ficar sol” e “Alquimista Tupi”, entre outras, junto aos músicos e amigos, além de musicar o famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, “E agora José?”.
O “Alquimista Tupi”, quinta faixa do disco, tem curiosamente a mesma melodia que Bandarra. A música que originou o nome do CD surgiu de uma brincadeira de mesa de bar com o pianista e companheiro da Seu Chico, Vitor Araújo. Tibério gravou escondido a melodia improvisada pelo amigo e escreveu uma letra para ela. Depois de mostrar o resultado final, Vitor quis aprimorar mais a melodia e Tibério decidiu compor outra letra, que denominou de “O Alquimista Tupi”.
Entre uma música e outra, duas crianças arriscaram perguntar o que devia estar passando pela cabeça de muitos: afinal, o que é Bandarra? Tibério riu e elogiou a pergunta que, na verdade, ilustra também uma das faixas do CD. Em “Abóbora”, sob o fundo musical do guitarrista e amigo do cantor, Yuri Queiroga, os dois sobrinhos de Tibério compartilham suas teorias sobre o que seria esta tão misteriosa Bandarra. Entre raça de cachorro japonês e um tipo de gripe suína, a verdadeira origem do título do disco vem de um poema de Manoel de Barros.
Ao tentar explicar melhor, o também fundador da banda Mula Manca & a Fabulosa Figura se deu conta da confusão que poderia estar causando na cabeça das duas jovens ouvintes. “A música e a poesia tem que ser um pouco confuso mesmo. Não pode ser como a matemática não, que é pra gente entender por nós mesmo”, concluiu o cantor para a alegria das meninas, e de todos os adultos presentes também.
Um público, aliás, privilegiado. A plateia não contava com mais de 100 pessoas e a proximidade física com os músicos permitiu criar o clima intimista que Tibério tanto queria. Afinal, segundo ele mesmo disse antes de revelar a surpresa que havia sobre algumas cadeiras um pedaço de um poema e passar o microfone para os seletos sortudos lerem seus trechos, a música é a melhor igreja que existe, pois ela tem a força de unir as pessoas. E foi isso que eu – e tenho certeza todos que estavam presentes naquele dia – me senti durante cada minuto em que Tibério cantava e falava.
Ao definir seu primeiro CD como muito orgânico, que surgiu “da mesma maneira que as plantas brotam quando menos se espera”, Tibério Azul nos mostra que ele é exatamente como sua música: natural, aberto, leve, bem-humorado e, acima de tudo, poeta.