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O caminho da arte é um caminho preguiçoso
Daqueles que ora se encurva sem motivo e ora se estende em retas infinitas quando tenta abraçar o horizonte.
Com cheiros que variam conforme a estação, transita continuamente entre opiniões antigas e vanguardista sem buscar qualquer conciliação intrometida.
Balança como um balanço na árvore do quintal com duas cordas e um pneu antigo pendurados no galho que cresceu com mais volúpia e destino para tal balanço.
Pernas para cima, enquanto vai e vem na rede observa atentamente se os pequenos pássaros virão beber a água posta na fonte de pedra perto da varanda. Tudo mudará se eles vierem. Assim como mudará com a ausência.
O caminho da arte é um caminho preguiçoso.
O artista produz absolutamente nada. Mas se abraça com tudo.
Como um rio corre divinamente, o poeta abre caminho para as águas. Mas não é a água. Tampouco a cria.
Retira pedras, pedregulhos e mágoas equivocadas. Desentope canos, vias e sentimentos. Realoca pequenos montes e medos a granel. Abre caminho.
Abre caminho e senta. Senta na cadeira que balança a felicidade e no fim da tarde se esbalda entre a grama, a terra e o tronco da árvore que acaricia masculinamente as costas.
O artista tem o dom da preguiça.
Um talento nato que o mundo mataria para ter. E por não ter justo busca despedaçá-lo.
Porque só o artista senta de verdade e percebe que espera nada.
E nesse nada preguiçoso é que a arte escorre como um rio acha o oceano.
O caminho da arte é o caminho do vazio.