Tibério Azul: Entender é parede

“Com influencia da música pop da metade dos anos 50 da região de tal e tal lugar a partir de letras contemporâneas contectadas as ideias de coisa e coisa junta, somos uma banda com proposta de resgatar os trecos esquecidos com nossos próprias negócios e etcetera”.

Leio uma bula de remédio.

Uma peça publicitária com vários splash e cabum e poing para aquele cliente ansioso, e chato.

Uma conta matemática daquelas que cansavam os adolescentes: “para que saber dessa função invertida ao quadrado?”, bradavam com indignação (eu também nunca entendi).

Leio um orientação de endereço. Um descrição de funções de uma empresa de serviços. A hora em um relógio digital. A latitude e longitude em um mapa. A ata de uma reunião de condomínio sem discussões sem brigas sem piadas apenas o tesoureiro descrevendo as contas. Leio a fatura do cartão de crédito.

E gostaria de ler poesia.

Arte.

Inspiração.

Poesia não é pra compreender, nos cansa de ensinar Manoel de Barros, o poeta feito de lama.

“Entender é parede. Procure ser árvore”.

De razão subimos um prédio. Fazemos viadutos ligando estradas a estradas. Um chão firme maçico geometricamente desenhado. Mas arte é água.

Arte é circular e não é uniforme. Gelo ou gás ou rio ou oceano.

De razão alcançamos objetivos.

De arte alcançamos vazio.

De razão batemos nossas metas.

De arte batemos em retirada.

Numa entrevista recente me perguntaram como funciona o meu processo de composição. Ao perceber a resposta, já estava encantado por ela:

Não tenho a mínima ideia.