Em todo abraço apertado está tocando uma canção. Por baixo da pele talvez, por dentro dos orgãos, pelo vento ao redor ou em alto falatantes sensíveis a quem ouvir com cuidado.
Preste essa atenção alguma quando cruzar novamente por um casal apaixonado: está tocando uma canção. Quando presenciar um filho que corre para os braços do pai. Ou dois amigos que se reecontram após longo tempo ou daqueles que se reencontram todos os dias. Quando presenciar um mendigo que se sente abraçado com um olhar carinhoso ao menos ou alguém sufocado que percebe uma mão amiga estática e paciente a espera do momento própio da saída.
Ouça o rock a girar o abraço que sela o fim de um desentendimento.
O samba que antevê um abraço por vir.
O folk de comparsas caminhantes.
O frevo de um sim demorado.
O maracatu de uma paixão que se anuncia.
O punk de uma paixão que se despede.
Em todo abraço apertado está tocando uma canção. Uma mágica que não se define se do abrasante ou do abraçado, mas que surge dessa energia intensa circular:
Quem abraça é abraçado quem é abraçado abraça.
Nesse círculo temos arte. Por isso nossos discos são redondos, por isso dançamos abraçados. Por isso mesmo não pensamos a música em linha reta e quando nos encantamos por uma melodia nos sentimos rodeados por ela. É por isso e só por isso que o violão é cheio de curvas.
Porque quando alguém consegue se perder por amor a ponto de não saber onde é continente e onde é oceano,
quando alguém consegue se perder de amores a ponto de não se interessar em saber onde é continente e onde é oceano,
quando alguém consegue se perder por amar e percebe-se assim tanto continente quanto oceano,
estará tocando uma canção.
Porque todo abraço sincero é música.
É a vida de cada um marcada por sua trilha sonora!
"Em todo abraço apertado está tocando uma canção."