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A história do Tiago Iorc é, no mínimo, pitoresca. Se há dois, três anos atrás ele tinha um repertório contendo apenas músicas em inglês emendados com alguns covers inesperados, hoje ele parece ser o garoto novato, começando de novo, apenas com músicas em português.

Seu novo disco, Troco Likes, mostra essa sonoridade e direcionamento prioritariamente radiofônico, feito sob medida para a jovem plateia feminina que orgulhosamente o acompanha com tanto afinco e destreza. Sua turnê nacional mostra praticamente todas as músicas deste novo trabalho e dá destaque aos suas outras canções em língua pátria, esquecendo sumariamente o segundo álbum, Umbilical, mostrando ainda três versões (“My Girl”, do The Temptations, “Sorte”, famosa na voz de Gal Costa, e “Bossa”, da banda gaúcha Cidadão Quem) e apenas uma faixa em inglês – uma lembrança de seu primeiro disco.

O show é altamente ensaiado e o repertório, a tirar o momento solo voz e violão, parece imutável, abusando de playbacks para sustentar o duo bateria e baixo que acompanha o músico no palco. Se Tiago esquece a letra, o público prontamente se dispõe a cantar por ele, gerando até coros tímidos, brincadeiras e trocas de elogios entre platéia e artista.

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Tiago peca por não nomear seus músicos, mesmo em momento de solo deles, e pelo excesso de playback, facilmente resolvido se colocar mais um músico na banda. Não há momento de catarse da plateia, tirando a esquisita parte que os músicos fazem uma coreografia ensaiada de uma canção em total playback em inglês, de um artista internacional,  para se despedir do público – mesmo que o show seja focado em música brasileira.

A turnê parece relativizar uma carreira de quase ou mais de dez anos como se estivesse em recomeço, numa reestreia, apagando singles, clipes, público internacional para um formato padrão pop que torna o artista apenas mais um cantor de MPB. As vezes, parece indistinguível o show com uma apresentação da dupla Victor e Leo, por exemplo. Não que isso seja ruim, mas não é isso o presente está querendo ouvir. Quem for buscar um pouco do Iorc do começo, dos dois ou três primeiros discos, sairá certamente decepcionado quando ver que o espaço destinado para faixas fora do novo álbum são ocupadas por covers e canções com menos da metade de views no Youtube que vários outros singles deixados de fora da apresentação.

Talvez falte um pouco do Tiago Iorc de antes, talvez parte da meia lotação do TCA, em Salvador, tivesse gostado de ouvir “Story of a Man”, “It’s a Fluke” e tantas outras faixas quando foi para frente do palco – a pedido do próprio músico. Mas por enquanto, a apresentação soa morna e faltando mais Tiago Iorc no repertório.

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Músico multi-instrumentista, DJ, viajante, criador e editor-chefe do site RockinPress, colunista e curador convidado do Showlivre, ex-colunista do portal de vendas online Submarino e faz/fez matérias especiais para vários grandes meios culturais brasileiros, incluindo NME, SWU, Noize, Scream & Yell, youPIX e os maiores blogs musicais do país. É especializado em profissionalização de artistas independentes e divulgação de material através da agência Cultiva, sendo inclusive debatedor em mesas técnicas sobre o assunto na Universidade Federal Fluminense (RJ) e no Festival Transborda (MG).

3 COMENTÁRIOS

  1. O Troco Likes chega a ser engraçado de tão ruim que é. Pelo nome, eu esperava um disco com músicas que criticassem a nossa geração, nossa necessidade constante de aprovação, mas tem só UMA música que (quase) faz isso. Parece que o nome do álbum foi só pra chamar atenção mesmo.

    As músicas desse disco, ao contrário dos anteriores, não me dizem nada. O que eu escutei foi um monte de músicas com apelo comercial, rimas que chegam a ser infantis e refrões que se repetem infinitamente. Se fossem as primeiras composições em português do Tiago, eu até relevaria, mas Forasteiro e Um Dia Após o Outro estão aí pra provar que ele consegue fazer melhor. Parece que o Troco Likes foi feito às pressas, de forma preguiçosa, sem vontade.

    Eu tô MUITO decepcionada com o rumo que a carreira do Tiago levou. Nunca perdi um show dele aqui em Brasília, mesmo os três últimos tendo basicamente o mesmo repertório. Dessa vez nem cogitei comprar o ingresso. Se for pra ver mais do mesmo, vejo pelo Youtube!

    Enfim, espero que ele "se encontre" de novo nas composições em português, ou qualquer outra língua, e volte a fazer músicas que realmente faça diferença no meio de tanta coisa que é lançada todos os dias.

    Usei o box de comentário como desabafo, sorry! Mas é que eu tava com isso engasgado. haha

  2. Particularmente gosto muito do Iorc no Zeski e principalmente no Umbilical, um disco de cabeceira para mim. Mas esse novo não rolou. O show é tão focado na busca por uma nova fase que realmente me incomodou, soou estranho. Quem sabe numa próxima.

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