Hermeto Pascoal disse uma vez que “nada fica para trás. Porque roda, gira, se encontra.” Logo logo, segundo o genial compositor e instrumentista, aquilo que teríamos que fazer um esforço para enxergar estará na nossa frente. De certa forma este ensinamento se encaixa no novo trabalho do Sobre a Máquina, quarteto carioca formado por Emydgio Costa, Ricardo Carneiro, Alexander Zhemchuzhnikov e Cadu Tenório.
O grupo carioca lançou no início desta semana, através do selo Sinewave – que já vem acompanhando a banda desde o registro de estreia, Decompor, de 2010 – seu terceiro álbum, Sobre a Máquina. Em entrevista ao Floga-Se, o integrante e idealizador do grupo Cadu Tenório explicou a escolha do nome por ser “um fim e um começo (…) queríamos que tivesse o nome da banda apenas… conseguimos chegar numa linguagem que nos renova, acho que nos traz à tona finalmente, considero um nascimento”
O álbum começa passeando pelo free jazz em “Dia“, dá uma pausa para as batidas eletrônicas em “Oito” e continua até final do disco sem se desviar do caminho do experimentalismo. É fácil imaginar algumas faixas sendo pano de fundo de um documentário sobre problemas urbanos e verticalização das cidades.
À medida que os minutos vão passando, o que poderia soar como barulho vai se transformando em sons coesos e coerentes entre si. Os ruídos sonoros são, na verdade, uma construção musical. E é aí que está a beleza do Sobre a Máquina e cabe a nós decifrar a organização melódica dentro do aparente caos instrumental. Um trabalho que lembra por vezes o do saxofonista pernambucano radicado na Itália Alípio C. Neto.
Sobre a máquina não é um disco para todas as horas, assim como não são os registros anteriores da banda. O álbum não é daqueles que você decide ouvir quando está feliz, empolgado ou triste; não tem rótulo de emoção. É tudo isso junto e de um jeito não óbvio nem fácil.
A última faixa, “Árvore“, além de ser a mais longa – com 21 min e 36 seg -, é também a que parece passear mais pelos improvisos. “Pulso” é a única que traz falas – mas atenção, não canto. Destaque para “Vão“, “Um” e “Árvore“.
A bela arte de capa é de Antonio Simas. Para baixar Sobre a Máquina é só clicar aqui.