Show: Manacá @ Estrela da Lapa – RJ 30/11/2009

A vida é feita de escolhas. Desde as mais decisivas – faculdade, casamento, camisinha… – as mais simples. A Lapa, famoso reduto boêmio carioca, estava vazia. O povo se concentrava em apenas uma área, e mesmo que Caetano Veloso, Marisa Monte, Kassim e outros mais, escolheram assistir aos Dirty Projectors no Teatro Odisséia; logo em frente – no Estrela da Lapa – os cariocas do Manacá lançavam seu primeiro e tão esperado álbum – e essa foi a minha escolha.

Por Marja Abreu

Carregando o fardo de estarem sobre as mangas de uma grande gravadora, o Manacá é a expressão do indie com o mainstream; do rock e de qualquer som desse Brasil de tantas culturas. Essa personificação rocker do folclore brasileiro montou uma estrutura de qualidade surpreendente, e mesmo que toda a produção seja caseira, a beleza da casa de shows escolhida já fez todo o clima ‘futuro do pretérito’ funcionar tão bem. Vale lembrar que estamos falando da banda que abriu o show do Beirut em São Paulo, não é pouca coisa.

Talvez, os quase dois anos de atraso no lançamento dessa bolacha é que tornaram a banda tão segura a ponto de trocar suas próprias melodias por outras, as vezes tão diferentes e irreconhecíveis, num processo de quase reinvenção. A palavra de ordem aqui é: Compre o cd e ame; Vá aos shows e venere. A qualidade dos músicos, tão versáteis e trajados especialmente, não os deixam escapar de pequenos erros e falhas técnicas, mas nada que atrapalhe o espetáculo. Acho desnecessário falar das danças de Letícia Persiles (vocalista) e de sua magnífica voz. Fica o convite para você ver/ouvir.

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Diabo (Ao Vivo)

Das canções, “Desejado” apareceu totalmente reformulada, acústica e bem ‘abrasileirada’; outra mudança ocorreu em “Lamento”, uma das mais cantadas pelo público, e alçada de uma bateria quase tribal. “O Galo Cantou” teve o público acompanhado por palmas o término da música e “Diabo” o foi quase um grito do público – que permaneceu tímido durante a apresentação. Claro que a versão de “Canto de Ossanha”, de Baden Powell e Vinícius de Morais estava presente, acompanhada de “Lua Branca”, de Chiquinha Gonzaga. O show terminou com “A Flor do Manacá”, belíssima faixa, que teve seu início cantado pelo público.

E são dessas escolhas que todos vivemos. Ali, eu vi um show totalmente diferente daquele que apreciei a quase um ano atrás, e tive a certeza que as pessoas podem se reinventar, recriar seu repertório e fazer um público fiel ser cada vez mais feliz com a banda que acompanha. Não sei se na casa da frente estava com um som tão bom e agradável quanto estava ali, se o público interagia com a banda tal como foi com o Manacá, mas eu vi uma nova banda e agora quero ve-la mais algumas vezes, quem sabe até enjoar – se é que isso é possível.