Seletiva SWU Oi Novo Som @ Estúdio Emme – SP 10/09/2010

E quando lhe pedem para você não ser o que você é?

Na verdade a questão pura e simples que invade qualquer âmago sensorial sináptico é:
E se por acaso tudo que você acredita não fosse o suficiente para ser considerado relevante?
Como expandir a fuga da consciência do fato que as coisas pelas quais você quebra pedras diárias, fossem meras cópias de algo que outras pessoas (e algumas vezes você mesmo) consideram abominável?

Despencar de castelos de cristal, erguidos na superfície de Marte por um ser azul onipresente, pode mostrar-se definição perfeita de asfixia. Mas quando a luta pela transcendência especificamente passa pelo julgamento de terceiros, a queda é o menor de seus problemas.

Talvez isso explique a sensação anti climática que transpassou o ventrículo esquerdo de quase todos os presentes ontem no Estúdio EMME, na Vila Madalena em São Paulo. Acomodadas em sofás laterais, carregando máquinas e desviando de obstáculos produzidos pela própria geometria do chão da casa. Fotógrafos em seus postos no profundo labirinto de luzes que teimavam em parecer apenas sombras ao redor de um palco que tinha vida própria.

Mas observar cada detalhe, dessa vez tinha um obstáculo evidente. Algo parecia querer mostrar que muitas vezes as situações tem fechamentos se não inesperados, muito mais algozes para as convicções singulares de cada pessoa. E isso estava muito distante do que acontecia em cada ato de três músicas, das bandas que competiram por uma vaga dentro do line up do festival SWU.
Uma batalha que o inimigo encontrava-se sorrateiramente escondido atrás de fios ao longo do palco.

Observar duas realidades assim, muitas vezes cria lotes de confusão mental que tem o formato de capitanias hereditárias. Linhas paralelas que isolam hermeticamente a capacidade aproximação. Mesmo essas linhas sendo imaginárias.

E aí inicia-se, meu sensorial leitor, uma outra guerra de nervos. Os de cada componente das quatro finalistas (FORCEPS, SINGLE PARENTS, ESTARTE E LOCOMOTRON). Imagine-se em cima de um tablado, onde apenas quinze minutos irão decidir se um pedaço de sua vida vale o quanto toca, para ter seu nome naquele poster de festival junto com nomes como Rage Against The Machine, Pixies, Queens Of Stone Age, Superguidis, Autoramas, tal e etc.

Momentos onde navalhas cortam narinas e impedem que a última nota saia, segundos onde seu corpo parece cansar depois de correr pelo palco nas duas primeiras canções. Sua velocidade diminui, mas o suor é combustão de membros inferiores. Tente dentro de sua mente regressiva entender o misto de raiva e rebeldia que explode quando o microfone não consegue parar estático e o som da casa parece torrar suas expectativas. Tudo isso acontecia ali, em frente aos olhos do primeiro sofá lateral, local onde o juri do evento permanecia em conversas de sinais.

E mesmo com os problemas de som e levando em consideração que as pessoas que trabalhavam com o palco, por muitas vezes apareciam mais do que as bandas, os músicos fizeram a sua parte. Munidos apenas daquilo em que acreditam, ou seja, o som que produzem. Mas é aí que a grande celeuma cataclísmica surge….

Obviamente existem expectativas, mas elas nem ao menos são levadas em consideração durante as apresentações. Existe a torcida, mesmo a imparcialidade sendo a dona da noite. Porque julgar algo, passa necessariamente pelos quesitos parâmetros de grandiosidade e gosto. Duas grandezas físicas que forma um sistema heterogênio, mancha de óleo e água.

Mas então como explicar o simples fato de que ao final de uma noite onde aconteceram escorregões, palavrões e sons, a banda que lutou mais em cima do palco parece ter ganho apenas o prêmio de injustiçado?

Quando presencia-se à um show de rock, não podemos apenas esperar uma audição do disco de estúdio ao vivo. Os padrões foram postados para que músicos quebrem paradigmas de consciência e tele transportem mentes à lugares onde a sensorialidade seja sentida em cada centímetro de intraderme cercada de dermátomos. Esperamos o clímax evidente de fim de mundo traduzido em claves de sol lisérgicas, nada menos.

Mas esse parâmetro é o correto?

A banda que traduziu o rock na atitude de remar contra a maré do mal funcionamento, parando a canção nos primeiros acordes e dizendo para o mundo que aquele grunhido da microfonia não definia aquilo que eles eram, mas sim toda a maré de explosões que seguiu-se depois, não levou.
Muito menos os que batalharam contra o nervosismo e mostraram suas crenças até o fim. Outrora pudessem ter sido os defensores do hardcore, que pareciam brigar contra vilões de notas decafônicas, mostrando que a cada batalha travada nas músicas o cansaço era evidente.

Nenhum deles foi julgado como merecedor. O ganhador foi portador de fórmulas batidas, produção e presença de palco que transbordavam como maiores qualidades. O som não tinha transpiração, mas moldes de gesso de uma polaróide que parece não querer tornar-se sépia dentro do rock nacional. O glam rock new wave que foi julgado merecedor da vaga entre os maiores, parece um assassino serial que copia os traçados de qualquer dexter seminal. O brado feroz de uma platéia formada por descontentes urrou alto, sendo percebido do lado de fora do Estúdio Emme.

Mas aí mora uma outra realidade que fermenta mais questões. Do lado de fora acompanhando a saída dos vencedores, ouve-se bordões de alegria pura. Olha-se nos olhos dos integrantes e nota-se que a felicidade da vitória está lá. Algo que todos da banda acreditam como verdade de alma traduzida em notas, venceu e os colocou no topo.
Mas então como dizer para esses rapazes que aquilo que eles acreditam e fazem não vale nada?

Esperamos sempre do rock aquela guitarra clamando por pureza e crença, que a banda mostre-se de uma urgência visceral que derreta transcendência pelas suas bordas. Demonstre uma atitude que os mais puristas poderiam chamar de roots. E queremos que os músicos acreditem nisso com corpo, suor e sangue.

E é aí, que mora a capciosa pergunta. Como recriminar a escolha de uma banda que acredita no que faz. Que batalha todo o dia para tornar-se algo a mais. Mesmo sabendo que o som não agrada, mas a verdade é deles.
E verdades são complexas e possuem várias faces.
Ao tripudiar a escolha dos ganhadores, estamos montando um paradoxo perigoso sobre o que temos por verdade. Queremos que a banda escolhida seja aquela que toca com batidas de furacões instalados nas mais íntimas câmaras cardíacas e que creia nisso como matéria atômica de vida. Quando ganham aqueles que acreditam, nos revoltamos.

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Obviamente que a equação produção versus o talento mostrou-se de tamanha não linearidade que interrompeu a sequência da física matemática metafórica. E que é difícil entender o funcionamento do que é considerado bom ou ruim. Pode-se argumentar, que é clara a concretização de um padrão que está afastando tudo aquilo que músicos como os Mutantes ou Chico Science trouxeram para o rock nacional. A brasilidade fica cada vez mais parva dentro de conceitos californianos de rock de botique.
E essa loja de bandas não tem a fúria pistolniana necessária.
Mas como não dar os parabéns à quem ganha acreditando na sua verdade?

Jack Black ou xeque mate?

O que aconteceu ontem na batalha de bandas, tem uma aura de anti climax que oferece muitas interpretações, mas uma coisa é certa.
Se estamos sendo enganados, deve-se repensar conceitos e tentar buscar sempre algo a mais. Porque a pompa de uma competição não mostra realmente uma história toda. Apenas foto cambaleante de momento. A “decadence avec elegance” de um tempo onde “não há mais festa nem carnaval”.

E as bandas selecionadas foram: Locomotrom, Overal e Enfuga.