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Resenha: Wado – Vazio Tropical

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Wado Vazio TropicalÁlbum: Vazio Tropical

Artista: Wado

Lançamento: 07/06/2013

Selo: Oi Musica

Ouça: http://www.rdio.com/artist/Wado/album/Vazio_Tropical/

Rockometro: 7,5

Vazio Tropical é um disco arrastado. Homogêneo, parece se completar musicalmente a cada faixa, sendo talvez o mais fácil de se assimilar da carreira de Wado. O álbum teve algumas guias gravadas no Brasil e embarcou na bolsa do produtor Marcelo Camelo para a criação dos arranjos em Portugal, por três meses, com participação de Fred Ferreira (baterista dos grupos Buraka Som Sistema e Orelha Negra).

A presença de Marcelo Camelo dentro do álbum desencadeia muito do estilo pessoal do músico carioca. Suas produções costumam seguir uma linha de raciocínio muito parecida com seus trabalhos, baseado em seu próprio estilo e acabando se repetindo nos outros artistas que cuida. Marcelo tem uma preferência por timbres secos de bateria, guitarra quase limpas, arranjos doces em flerte com a bossa, fraseados pontuais de metais, percussão detalhada e outros pequenos pontos que acabam criando sua marca, deixando fácil adivinhar de quem foi a mão guiou tal arranjo ou instrumento. A pergunta que fica em Vazio Tropical é: O que mudaria se fosse Marcelo ou a Mallu cantando?

O que acabamos vendo é exatamente o filho da união de Toque Dela (último álbum de inéditas de Marcelo Camelo) com Pitanga (trabalho de Mallu produzido pelo marido, Marcelo Camelo): Vazio Tropical soa como uma pequena continuação, talvez mais melódica, pop e com menos detalhes esquizofrênicos que seus trabalho-pais. Entenda: isso não é uma crítica. São estilos de sucesso virando uma fórmula baseada no gosto de Marcelo Camelo. O sucesso de público e crítica dos álbuns de Mallu e Camelo são provas incontestáveis e não há porque Wado não se aproveitar disso.

marcelo camelo cicero momo wado

Claro, há momentos que o formato muda e se adapta ao convidado. “Canto dos Insetos” dialoga diretamente Cadafalso, último álbum de MoMo: voz e violão, o clima denso e a velocidade da canção acusa rápido a influência. “Zelo”, outra composta pelo trio Wado, MoMo e Cícero, onde o último participa diretamente da canção como se fosse uma continuação de Canção de Apartamento, álbum lançado em 2011. A vocalização, a catarse final, a melodia vocal remete diretamente aos trabalhos de Cícero, diferenciado pelo tom mais doce da música e trocando o caos das guitarras pelo fraseado de metais que tanto marca Camelo desde o Los Hermanos.

A voz imponente de Camelo toma de assalto os ouvidos com a entrada de “Tão Feliz”, música gravada por MoMo no álbum A Estética do Rabisco, de 2007. A faixa, datada de 2003, é uma das retiradas de sobras dos álbuns de Wado e encontraram caminho em Vazio Tropical. “Flores do Bem”, um dos momentos mais emocionais do disco, esconde a liberdade e luta por ela, seja em casa ou seja contra a sociedade, como trata em “Primavera Árabe” – faixa carregada no cunho social e amoroso. As letras críticas poéticas não acabam por ai: “Carne” (com participação de Gonzalo Deniz, do grupo uruguaio Franny Glass) e “Cidade Grande” acusam a falta de educação das pessoas, o tratamento uma com as outras e o despeito humano.

A faixa título pontua o que não precisa de ponto. Soando como uma experimentação abstrata de teclado e violão, a canção de pouco menos de um minuto destoa de todo o registro e basicamente faz o trabalho inverso do que se procura num disco: querer ouvir mais. Talvez a canção soe como um momento de intervalo das gravações dentro do verão tropical carioca (aparentemente foi gravada em dezembro) e mostra que a falta de elementos diferentes e o término repentino causa um vazio dentro do arranjo tropical do violão.

O problema de Vazio Tropical é ter que procurar um pouco de Wado dentro das participações em seu próprio disco, deixando as belas letras (algumas de autoria dividida) e sua voz metálica como o resquício maior do autor do álbum. Mesmo soando homogêneo, o trabalho acaba sendo ainda mais colaborativo e baseado em participações (e no caso, do produtor), do que o próprio Samba 808, trabalho anterior do músico repleto de convidados. O resultado é belo, mas ainda sim aleatório. Se isso mistifica o ‘quem é realmente o Wado‘ ou ‘qual o som que ele faz’, que pelo menos não soe como o trabalho de outros e faça de sua música única e não de seus convidados.

 

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Músico multi-instrumentista, DJ, viajante, criador e editor-chefe do site RockinPress, colunista e curador convidado do Showlivre, ex-colunista do portal de vendas online Submarino e faz/fez matérias especiais para vários grandes meios culturais brasileiros, incluindo NME, SWU, Noize, Scream & Yell, youPIX e os maiores blogs musicais do país. É especializado em profissionalização de artistas independentes e divulgação de material através da agência Cultiva, sendo inclusive debatedor em mesas técnicas sobre o assunto na Universidade Federal Fluminense (RJ) e no Festival Transborda (MG).

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