Resenha: Porão do Rock @ Buenos Aires – Argentina 24/10/09
por Rafael Ribeiro
O segundo dia do Porão do Rock veio tão imponente quanto o primeiro. A organização mostrou competência e colocou logo a casa para balançar ao som de várias bandas que praticamente duelaram para conseguir chamar a atenção dos espectadores – não que fosse porque o show estava realmente bom – mas sem dúvida foi mais uma noite memorável ao rock dos dois países.
Como no primeiro dia, o Porão do Rock começa com a galera de casa: The Thandooris. Os caras são mais pontuais e abrem a noite poucos minutos após as marcadas 20.15h, mas não mostram lá muita energia para tirar o público da inércia. São paradões e sem qualquer tipo de performance, além de terem um estilo bem disperso e difícil de sintonizar. É alguma coisa que resulta da mistura da velocidade do som do New Wave 60´s e a aparência do Hard Rock e Glam Rock dos 80´s, isso com o comportamento e a atitude indiferente do Indie moderno. O batera usa uma jaqueta de couro cavada, o vocal/guitarra tem o cabelo do Oasis e usa as mesmas medidas do Bon Jovi, já o baixista se veste de White Stripes com Onde está Wally?. Foi um rock bem estranho de digerir.
Satan Dealers entra logo depois – 21.05h. Rock cru, sujo, desprentensioso e dos bons. Garage rock e Hard Rock dos puros. O nome da banda não é dos mais simpáticos, mas o gordinho e vocalista da banda, Adrián Outeda, é bem amigável, e diz que fazem rock inspirado nos The Stooges, MC5, e que hoje tem a mesma pegada da escandinava Hellacopters. Destaque para a música “Psycothic Pills” que alucina a galera.
Macaco Bong é a primeira banda brasileira a entrar em cena na segunda noite as 21.40h, é o power trio de Cuiabá. A banda é baseada na desconstrução dos arranjos da música popular tradicional e é aliada à linguagem das harmonias tradicionais da música brasileira com o jazz/fusion/pop. Já circulou os principais festivais de música do Brasil (além de Argentina e Canadá), e teve seu cd Artista Igual Pedreiro eleito o melhor de 2008 pela revista Rolling Stone Brasil e lançado na Argentina pelo selo Scatter Records. Ou seja, foram muito bem recebidos e compreendidos pelos porteños, afinal os caras já são reconhecidos e muito respeitados pelo circuito alternativo de Buenos Aires. Segundo a banda esse intercâmbio cultural é o resultado do que tem acontecido na música mundial: o diálogo entre artistas. Temos que destacar organizações como ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais Independentes, e o Circuito Fora do Eixo, além do Festival Calango de Cuiabá, produzido pelo Espaço Cubo, o qual a banda faz parte e que já convidou bandas argentinas.
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Móveis Coloniais de Acajú. Por Yamilla do RockTails
As 22.20h entram no palco os originais Móveis Coloniais de Acaju com seu rock, ska, samba e carnaval adicionados a famosa feijoada búlgara como se definem. Na verdade chegam por baixo e pelos fundos, aparecem por trás da platéia que se desorienta sem saber de onde vem o som. Chegam os dez completamente envolvidos por seus instrumentos do meio do povo que abre passagem até o palco. Um início triunfal que foi o suficiente para enlouquecer os brazucas até o final do show e despertar a mais refinada atenção e admiraçao porteña pelo carismático ritmo brasileiro.
Segundo Esdras, o jogo que existe entre banda e público, e brasileiros e argentinos, representa a democracia e a troca de informações, o respeito pelo próximo. E enfatiza que todo o material está disponível na rede e que é para ser baixado por todos aqueles que se consideram parceiros.
As 23.30h para fechar a segunda e última noite da primeira ediçao do festival brazuca na Argentina, sobe ao palco os apocalipticos Los Natas. A banda é a maior representante do rock argentino do festival. Muitos dos porteños rockeiros foram ao Porão do Rock impulsionados pela banda. A banda de Stone Rock/Metal tem como influência musical o cru e psicodélico som de bandas dos anos 70 como The Doors, Black Sabbath, The Who, Pink Floyd, e a pionera do rock stoner: Kyuss. Os caras têm um som com forte presença de equipamentos valvulares e instrumentos vintage. Sao viscerais, psicodélicamente pesados, e já fizeram shows abrindo para MOTORHEAD, Marilyn Manson, NIN, Black Rebel Motorcycle Club, Queens of the Stone Age. E assim fechou o festival, que sem dúvida continuará com as portas abertas ao intercâmbio Brasil e Argentina e promete ser ainda melhor nos próximos anos. Hermanos, uni-vos!