Resenha: O Interpol e seu Interpol
Artista: Interpol
Lançamento: 7 de setembro
Selo: Matador
Myspace: /interpol
Rockometro: 8
Três anos se passaram desde que o Interpol lançou o introspectivo Our Love to Admire. Muito criticado por parte dos fãs, foi com a turnê de divulgação desse album que a banda veio realizar três concorridos shows no país em 2008. Satisfeitos ou não com o momento da banda, ninguém foi capaz de criticar negativamente a performance do Interpol.
Apesar da banda não ser vista como uma espécie de segunda família pelos seus integrantes (eles sempre declararam publicamente que não são amigos uns dos outros), era incrível a magia no palco e a execução perfeita de cada uma das faixas escolhidas para o repertório do show. Porém os problemas de relacionamento persistiram e acabaram resultando na saída do baixista Carlos D, logo após a finalização da gravação do auto-intitulado quarto trabalho de estúdio.
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Clipe oficial de “Lights”
A primeira impressão de Interpol é que soa como uma continuação do trabalho anterior. Com melodias ainda mais suaves e obscuras, Paul Banks (vocalista/guitarrista), Daniel Kessler (guitarrista), Sam Fogarino (baterista) e – a partir de agora – David Pajo (baixista) se afastam ainda mais das empolgantes canções dos dois primeiros discos e objetos de devoção dos fãs mais antigos.
Para o bem ou mal, não me encaixo nessa categoria e continuo admirando o trabalho do melhor grupo de rock que Nova York produziu nos últimos anos. O clima arrastado das músicas pode acabar afastando definitivamente aqueles que esperavam um disco com mais pegada e que tivesse canções como “PDA” ou “Slow Hands”.
A abertura do disco fica por conta dos acordes com um leve overdrive recheado de delay, som característico da guitarra de Kessler e da identidade sonora do Interpol. A faixa “Sucess” poderia muito bem ter sido escolhida como o primeiro single, ao invés de “Lights”. Desde já, toda a suavidade que vai evaporando lentamente até se transformar em um desabafo triste transforma essa canção em uma das melhores do grupo e que chega perto de superar a faixa de abertura do disco anterior (que sim, é o meu favorito da banda). “Memory Serves” soa como um lamento sincero, contando com uma bela guitarra base como tapete para os versos de Paul Banks.
A quarta faixa é a soturna “Lights”. Quando a música foi disponibilizada na internet, a reação inicial foi de susto. “O que esperar do resto do album?”, “Estou na dúvida se gostei dessa música ou não.”, “Letra bonita, música legal, mas que clipe escroto, hein?”. A verdade é que o primeiro single do novo trabalho consegue resumir bem a atmosfera que Daniel Kessler e Paul Banks criaram para o cd.
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“Barricade”
Em “Barricade” e “Safe Without” encontramos os únicos vestígios que preservam as origens e soam como primos distantes dos primeiros sucessos da banda. Não por acaso, ambas são responsáveis por alguns dos melhores momentos de Interpol (o disco e não a banda).
“Try it On” começa com um piano estranho que lembra filmes da série Além da Imaginação ou de alguma ficção científica pré-Donnie Darko, e que se repete por toda a música. E o final fica por conta da bela e com influências pink floydianas “All of the Ways” e de “The Undoing”.
São 10 faixas muito bem trabalhadas que formam um album coerente e que, mesmo sem ter grandes destaques individuais, funciona como um conjunto. Interpol pode até não ser (ainda) o melhor trabalho do Interpol, mas é um divisor de águas e conclui a direção musical que a banda passou a assumir em Our Love to Admire. Resta saber se o grupo vai sobreviver aos conflitos de ego durante a próxima turnê e conseguir lançar um disco com competência o suficiente para se reinventarem de novo.