Resenha: Não precisamos de romance

Álbum: Romance Is Boring

Artista: Los Campesinos!

Lançamento: 01/02/2010

Gravadora: Arts & Crafts

Myspace: http://www.myspace.com/loscampesinos

Rockometro: 9,0

A vida não é um romance novelesco. A vida é ordinária, mas pitoresca.

Em seu terceiro álbum de estúdio, Los Campesinos! cantam sobre raiva, decepções, ressentimentos, morte e, principalmente, amor. Mas como o próprio título sugere, o amor retratado aqui não é aquele inocente e quase platônico. Pelo contrário, é um amor imediatista, sexual e cínico.

O imediatismo pós-adolescente parece delicioso quando embalado por uma guitarra caprichada, uma mistura de metais e cordas entusiasmados, riffs duplos e sintetizadores descompromissados, tudo sintonizado em camadas e mais camadas de efeitos que conferem uma hiperatividade adorável ao conjunto.

Logo na primeira faixa, “In Medias Res”, somos introduzidos a um mix de sensações que passeiam entre melancolia, resignação, revolta e aceitação. Todos os estágios do luto resumidos em 4:42 minutos de arranjos de cordas, metais e sintetizadores que tornam a música dançante, apesar do tema aparentemente depressivo.

A faixa-título é uma negação do ideal romântico de relacionamento com seu refrão que ecoa na mente: ‘You’re pouting in your sleep / I’m waking still yawning / We’re proving to each other that romance is boring’. Os riffs grudentos e os sintetizadores nos jogam num mundo onde a revolta e a negação dos valores são estranhamente animadores.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=8auuEDedkKo]

“Romance Is Boring”

A excelente “Straight in at 101” é um hino niilista com seus versos inicais ‘I think we need more post-coital / And less post-rock‘. Aqui é perceptível o que garante tanta personalidade ao grupo: a capacidade de combinar as letras revoltadas dignas de bandas hardcore à sonoridade divertida do indie pop com muita naturalidade.

Toda a energia hiperativa que emana da maioria das faixas é balanceada por algumas relativamente melancólicas, que enfocam mais as cordas e mantém a percussão e os metais mais comportados, como a intensa “The Sea Is a Good Place to Think of The Future” e a derradeira “Coda: A Buun Scar In The Shape of The Sooner State”, que cumpre com louvor seu papel de despedida.

Este terceiro álbum é mais pop e mais “normal” que os predecessores, o que pode parecer uma baixa no que é a marca do grupo, mas também é mais acertado, mais lapidado e mais contido nos excessos que tornavam Hold On, Youngster… e We Are Beautiful, We Are Doomed densos e quase cansativos.

As letras inteligentes e sarcásticas, os versos cacofônicos, os refrões grudentos, as onomatopéias, a torrente de efeitos e tudo mais que confere o ar alegre e adoravelmente esquisitinho da trupe galesa está presente aqui, mas em versão podada e aperfeiçoada. A evolução poderia ser maior, considerando que Romance Is Boring é um terceiro álbum, mas foi acertada de modo a manter a identidade do grupo e fazê-lo destacar-se ainda mais entre tantos ditos similares.