Resenha: Mombojó @ Flaming Festival – Music Hall, Santa Efigênia-BH 29/05/10

Texto: Thiago Coffran
Fotos: Diego Soares

Seria necessário um longo preâmbulo para analisar o show do Mombojó na 53HC no sábado (29/05/2010). É desnecessário afirmar que a apresentação da banda foi de longe o ponto alto da noite; ela era a grande atração do festival. Por isso havia, claramente, além do desejo de vê-los, a apreensão de como soaria ao vivo a nova formação. Como era inevitável, a banda perdeu bastante de sua riqueza musical. Há sempre a impressão que falta algo, uma reação normal para os já iniciados. O lado positivo é que o Mombojó continua sendo, de muito longe, uma das mais interessantes bandas do país.

Como parecia óbvio, uma das formas de contornar os problemas, foi agregar peso às músicas (processo que, sejamos sincero, começou com o Homem-Espuma). E assim Felipe S., o vocalista, passa também a tocar guitarra. Além disso, Chiquinho, que faz o teclado e o sampler, tem que se desdobrar no seu computador. O resultado convence, não é a banda com que as pessoas se acostumaram, mas é competente até o último fio de cabelo.

Um show do Mombojó é sempre uma experiência gratificante pelas diferentes sensações produzidas. Ao contrário de apresentações sem variações, monocórdias, idênticas do início ao fim (estou olhando para você Vanguart), a banda recifense permite que numa mesma noite o público experimente o rock, o samba, o suingue, o funk, o dub, o melódico, muitas vezes na mesma música. Por esse motivo, assistir à banda sempre leva a uma atitude mais ativa, menos cômoda. As pessoas devem (ou pelo menos podem) sair de seu lugar passivo, prestando mais atenção ao que é tocado.

Começando de forma serena com “Duas Cores”, logo a banda mostrou o peso em músicas como “Realismo Convincente” e “Faaca”. Mas os momentos mais interessantes do show (não necessariamente melhores) foram a execução de “Swinga” e “Pára-Quedas”, nas quais o público dançava de acordo com a quebra das músicas, demonstrando a pluralidade da apresentação.

O próprio encore, que é o que existe de mais irritante nos shows, por sua artificialidade, foi interessante, com a banda saindo um a um do palco, ficando apenas o baterista Vicente, que por fim sai também, embora a música continue (lembrando o Kraftwerk), o que leva a pensar (o que é sempre difícil em um show) sobre o conceito de artificialidade de uma apresentação que se utilize tanto de computadores.

Porém, o destaque fica mesmo com o desempenho das músicas antigas, principalmente “A Missa” e a já clássica “Deixe-se Acreditar” (esse epíteto, aliás, não é gratuito; inúmeras reportagens, principalmente sobre esportes radicais, usam a introdução da música, sendo o riff conhecido por muito pessoas que nunca ouviram falar da banda) que cativaram o público, levando-o ao delírio.

Se a ausência dos dois membros realmente traz uma perda, o guitarrista Marcelo e o baixista Samuel seguram bem a onda, imprimindo uma energia que muitos críticos dizem que o Mombojó não possui. A performance enlouquecida de Felipe S. e da banda ao final de “Deixe-se Acreditar”, e do show, demonstra como a banda ainda tem muito a oferecer (e a fazer) à música brasileira. Ainda que soando diferente, o Mombojó, e aqui me entrego ao clichê, ainda são os monarcas do reino da alegria.