Por Paco D. Lee do Cidadão Kang
O festival MADA (Música Alimento Da Alma) nasceu em 1998 na Ribeira, bairro histórico de Natal onde se concentra a cena pop/rock da capital potiguar e hoje é realizado na Arena do Hotel Imirá, espaço mais amplo à beira do mar. Ele surgiu como uma alternativa para uma cidade que tem uma cultura musical baseada no forró e axé – sediando o Carnatal, maior carnaval fora de época do Brasil.
Em dez edições (em 1999 o evento não foi realizado) o festival que prima pela mescla de bandas emergentes com headlines prestigiados já contou com grandes nomes do cenário nacional, além de revelar outros nomes que hoje ganham o Brasil. Um bom exemplo foi o ano de 2004, em que os palcos do MADA receberam numa mesma noite Sepultura e O Rappa.
A edição 2009 do festival não saiu facilmente, a já comentada dificuldade de se realizar um evento com estilos musicais não predominantes no Nordeste fez com que o principal patrocinador dos últimos anos, a Tim, se desligasse do evento, diminuindo em cerca de 30% seu orçamento total. Mesmo assim as atrações estiveram bem e empolgaram um público de mais de 10 mil pessoas em cada um dos dois dias.
PRIMEIRO DIA
O amplo espaço acidentado da Arena do Imirá permitiu a disposição de uma tenda eletrônica que conta com uma grande variedade de DJs durante toda a noite, estandes culturais, barracas e uma das boas sacadas do evento: dois palcos de iguais dimensões, um ao lado do outro. Quase anulando a perda de tempo por preparação de palco, algo importante visto a quantidade de bandas que se apresentam em cada noite.
Dessa forma, às pontuais 20h30 o Carcará na Viagem (RN) abriu o evento para um ainda pequeno público que acompanhou a mistura de hip-hop com reggae com forte influência regional. Em seguida veio o MC Priguissa (RN), que intercalado por diversos problemas técnicos, mostrou muita disposição e animou os poucos que o acompanhavam com seu rap e embolada.
A noite prossegue com Calistoga (RN) mostrando que apesar de independente e local consegue impor peso sobre o palco, em uma apresentação forte com bons arranjos e letras em inglês a banda empolgou com seu genuíno rock, as vezes repetitivo, mas intenso. Na seqüência subiram ao palco os mossoroenses do Sick Life (RN) (imagem), a banda que se consolidou em Natal após atuações destacadas em vários eventos independentes encheu os ouvidos do público com new metal de boa qualidade – misturando o peso das guitarras com som eletrônico, uma mistura ponderável, mas eficiente.
Era a vez da já tradicional nos festivais MADA DuSouto (RN) que seguiu a tendência eletrônica das músicas da noite e fez um show agradável misturando-a com rock e ritmos regionais. A seqüência que conferia ao evento tons de festival indie regional foi quebrada com o Fungos Funk (MG), a banda que talvez o Xi conheça melhor que eu mostrou uma incrível presença de palco misturando ritmos diversos como funk e rock, com influência dos primórdios do Red Hot Chili Peppers.
Com uma platéia já bastante considerável e sons cada vez mais qualificados chegava a hora do Chico Antronic Embola Dub (SP/RN) (imagem), uma surpresa agradabilíssima para quem não conhecia os caras. Como sugere o nome a mistura de sons oscila entre a embolada, o dub, o rock e o eletrônico com boas composições, como as do repentista potiguar Chico Antônio. A pegada da banda lembrava o destaque da noite seguinte, Nação Zumbi, e era intensificada pela apresentação performática do esquálido Dan Elétrico, vocalista do grupo.
Encerradas as bandas independentes era a vez do primeiro destaque da noite, o genuíno reggae do Natiruts (DF). Pouco empolgante com o ritmo lento, o vocal quase inaudível no início do show e as letras ainda misteriosas do novo disco Raçaman o show pegou logo no tranco. Em meio a uma turva de Cannabis Sativa o ritmo dançante engrenou com a presença de palco da guitarrista Monica Agena, o marcante backing vocal de Luciana Oliveira e as músicas mais conhecidas da banda, como “Natiruts Reggae Power”.
A noite se encerrou com a agitação de Marcelo D2 (RJ) (imagem) – uma apresentação frenética, constante e de altíssima qualidade. O rapper carioca já pode dizer que se sente em casa em solo potiguar, entre suas várias apresentações foi aqui onde o Planet Hemp fez seu último show. Dessa vez apresentou composições novas, clássicos como Qual É e até variou bastante, chegando a arriscar um Led Zeppelin. Destaque para o encerramento em que chamou várias garotas da platéia para sambar no palco, chegando a ser agarrado por uma, que lhe fez alguma proposta que foi rebatida com um “Eu sou casado, moça”.
SEGUNDO DIA
A noite começou razoável com a banda Nublado (PB) (imagem), contando com um pequeno público foi desenvolvido um rock melódico com batida inconstante e que se arriscou até em um cover dos beatles, que poderia ter sido evitado. Na seqüência veio a grande surpresa da noite, que juntamente com os paulistano-potiguares do Chico Antronic foram os grandes destaques independentes do evento: Ganeshas (RJ). Estilizados, com bastante humor e uma mistura de ritmos interessantes onde predominava o rock indie os cariocas corresponderam quem já estava junto às grades de proteção antes do início do show.
Em seguida veio o pessoal do Tricor (RN), que tiveram a infelicidade de passar o som enquanto o show dos Ganeshas estava à toda. Além de tudo foram um contra-peso do festival, fizeram a apresentação mais fraca, talvez ocasionada pelo nervosismo de estar gravando o DVD ao vivo da banda no momento. Foram um exemplo de como a caracterização é importante na performace de uma banda – apesar de tocarem rock os integrantes se trajavam como a maioria dos músicos genéricos de forró que lotam os palcos do estado. O show, como dito de baixa qualidade, mostrava composições pops que deveriam agradar o vasto público da (extinta) dupla Sandy e Júnior.
Para reanimar o público veio também o já conhecido do MADA Sonic Júnior (AL) (imagem), a “banda de um nome só”. Quando apresentado dessa forma há quem achasse que fosse apenas um título, mas definia-o perfeitamente. O irrequieto alagoano é DJ, vocalista, baterista e percussionista. Preenchia o palco em cada centímetro quadrado e levantava o público. Em seguida vieram os Lenzi Brothers (SC), os irmãos (realmente são três irmãos) tocam um típico rock sulista com influência em Cachorro Grande – embora tenham me deixou com um pé atrás logo de cara, exemplos que me desmentem existem, mas é muito raro três irmãos apresentarem talento musical não-forçado, KLB e Jonas Brothers que me desculpem.
Vinha então outra relativa decepção da noite – Copacabana Club (PR). Banda que ganhou notoriedade graças à MTV e apresenta composições simplistas em inglês e sustenta sua apresentação na sensualidade da vocalista Cacá V. Fez um show que pode ter agradado os fãs da banda, mas não mostrou nada demais a quem pretendia ouvir boa música na noite – eles começaram em 2007, ainda têm muito a evoluir.
Numa noite de altos e baixos subia ao palco um dos picos – Ana Cañas (SP) (imagem), que estava pela primeira vez em Natal. Para quem esperava um show morno de uma cantora considerada da nova geração da MPB teve uma grata surpresa. Talvez consciente do desconhecimento do público para com suas composições a cantora que apresentou um estilo bem original variou entre clássicos de Elvis, Cazuza, Titãs, Raul Seixas, Led Zeppelin, entre outros – levando o público ao delírio, com o perdão do lugar-comum. Para os ouvintes casuais que apenas assistiam aos shows foi bem legal poder acompanhar o artista em composições como Metamorfose Ambulante e Sonífera Ilha.
Era a vez para o destaque que havia garantido boa parte do público, em sua maioria adolescente, da noite – a cantora Pitty (BA) também mesclou clássicos de seus primeiros discos com músicas do último, todas acompanhadas verso a verso pelos fãs. Mesmo mostrando boa presença de palco, músicos de excelente qualidade e até surpreendendo os desavisados com um cover do Queens of the Stone Age a apresentação foi como um pacotão básico, sem novidades, algo como mais um dia de trabalho para a cantora de notoriedade nacional. A curiosidade da noite foi o infeliz comentário da cantora ao fim do show: “É, Nordeste é tudo igual”. Provavelmente se referindo à energia do público, que é intensa em todos estados, mas a forma como foi dita não soou agradável, apesar dela ser também nordestina.
O encerramento revestia grande expectativa, Nação Zumbi (PE) apresentava a comemoração de 15 anos do disco Da Lama ao Caos com a participação do músico Otto – que apesar de não ter tirado o vocal de Jorge du Peixe se mostrou muito agitado, correndo por todos cantos do palco, tocando vários instrumentos, sumindo em alguns momentos. Certamente havia tido uma concentração bem animada, visto que seu grande amigo Lenine estava na cidade onde se apresentara na UFRN na noite anterior. Enfim, a banda mais que correspondeu, foi o grande show do festival apresentando arranjos muito bem construídos, uma batida dançante e um som que formigava no corpo de quem ali estava, impedindo quem quer que fosse de ficar parado. Após tocadas todas músicas de Da Lama ao Caos vieram alguns especiais, como Maracatu Atômico, tirando as últimas energias do público em frenesi.
Estava encerrado o MADA, festival que para muitos apresentou uma queda em relação a anos anteriores, onde grandes bandas já haviam se apresentado. Algumas falhas como o preço da água, cerveja e refrigerante a 3 reais fixado em todas pontos de venda devem ser corrigidos, mas o organizador Jomardo está de parabéns por sustentar um evento dessa magnitude em uma terra que não tem o rock em sua cultura musical mantendo um bom nível.
É isso, agradeço o Marcos Xi pela oportunidade de estar escrevendo neste blog que representa bem a boa música!
Maldita seja, prova de embriologia que não deixou eu sair no final de semana que teve o MADA.
maldita seja! è.é