Resenha: Lautmusik – Lost In The Tropics

Álbum: Lost In The Tropics

Artista: Lautmusik

Lançamento: 27 de novembro de 2012

Selo: Independente

Ouça: soundcloud.com/lautmusik/sets

Rockometro: 8.0

Enquanto boa parte da imprensa musical brasileira ainda insiste em manter seus olhos apontados para o que se desenrola no panorama internacional, um verdadeiro fenômeno tem bombardeado os quatro cantos do cenário brasileiro. No norte e o nordeste é cada vez maior a profusão de artistas mergulhados em referências ao rock alternativo dos anos 90, além de todo um conjunto de novas formas de absorver o Heavy Metal e as várias influências que dele brotam. Já o sudeste vivencia o apogeu dos “novos paulistas” – com o Rio sendo marcado por uma cena em renovação -, mantendo no sul do país uma espécie que QG para bandas afundadas nas cruas e sujas referências ao shoegaze.

Focando nessa última região e passeando entre nomes como Loomer (RS), This Lonely Crowd (PR), Medialunas (RS) e Badhoneys (RS), torna-se visível como cada vez mais surgem grupos capazes de em pouquíssimos segundos edificar gigantescos paredões sonoros de puro ruído. Enormes e quase intransponíveis concentrados de distorção que lentamente vão sendo esculpidos, revelando um catálogo mais do que rico de belas e fortes composições. Mais “novo” integrante desse exclusivo grupo, os também gaúchos do Lautmusik (que em alemão quer dizer “música alta”) encontram em grandes acúmulos de distorção a matéria-prima para dar vida a um dos trabalhos mais intensos de 2011.

“Música alta”, poucas são as bandas capazes de ostentarem um título tão coerente com o som que propagam quanto o quinteto gaúcho formado por Alessandra L. (voz), Cassio JD (guitarra), Murilo Biff (guitarra), Guilherme Nunes (baixo) e Rodrigo Prati (bateria). Entre rajadas de guitarras cacofônicas, um baixo de potência imensurável e uma bateria que está além de um mero mecanismo de condução, a sonoridade proposta pela banda aos poucos vai resultando no catálogo de 11 faixas que caracterizam Lost In The Tropics, um disco que mesmo marcado por um jogo de referências clássicas vai com parcimônia evidenciando uma naturalidade sonora própria do grupo.

Entre apontadores óbvios ao trabalho de bandas veteranas como The Jesus and Mary Chain, My Bloody Valentine e Joy Division – além de um fundinho de Sonic Youth -, o quinteto parece mais interessado em promover um som que possa (realmente) ser chamado de seu. E se essa for a intenção da banda, eles realmente conseguiram. Contra boa parte de artistas similares (e até alguns conterrâneos) que insistem em plagiar o que é feito lá fora, o quinteto vai desde a faixa de abertura, “Afraid To Fly”, até a canção de encerramento,”Walk The Walk”, promovendo uma série de músicas movidas por um forte apelo melódico, fazendo desse oposto com as guitarras poluídas uma espécie de mistura agridoce que transpassa todo o registro.

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clipe oficial de “Mai”

A sensação ao ouvir Lost In The Tropics é a de que a banda se comporta como vários artistas em apenas um. Se a faixa de abertura pende obviamente para o rock alternativo do Pixies (a linha de baixo faz lembrar alguma coisa do álbum Doolittle), logo na música seguinte, “Mai”, a banda altera as referências, apontando diretamente para um Sonic Youth pós-Dirty. Até o fechamento da obra esse constante aspecto de mutabilidade vai se desenvolvendo, como se a banda estivesse ciente de suas aspirações, porém, aproveitando de cada segundo do disco para passear e brincar em diferentes campos da música.

Ao término do trabalho – que tem todas as canções do disco cantadas em inglês – o ouvinte se sente ao mesmo tempo satisfeito e exausto, afinal, é como se a banda atravessasse duas ou talvez três décadas de música em menos de uma hora de duração. Depois de dois EPs – um lançado em 2007 e outro no ano seguinte – o quinteto gaúcho converte Lost In The Tropics em uma estreia definitiva, transformando o presente álbum não apenas em um debute de boa formatação, mas em um trabalho de tamanho fôlego e distinção que acaba por converter a Lautmusik em uma banda que você precisa ouvir o mais cedo possível, de preferência, agora.