Resenha: Jovens Demais Para a MPB

Álbum: Apanhador Só

Artista: Apanhador Só

Lançamento: 11/04/2010

Gravadora: Independente

Myspace: /apanhador

Rockometro: 8,5

Dizem que a expressão mais sincera da música enquanto arte ocorre quando se consegue unir a qualidade sonora à qualidade poética, sem perder a espontaneidade. Bem, se não dizem isso, eu estou dizendo agora e uso como exemplo o Apanhador Só.

A banda gaúcha, já muito elogiada web afora, enfim lançou seu primeiro disco em abril deste ano. Se os dois primeiros EPs foram uma mostra da identidade da banda, este primeiro LP é uma confirmação dessa identidade e uma demonstração de um som multifacetado, cuja mensagem se renova a cada audição.

Apanhador Só, o álbum, apóia-se principalmente no rock, na MPB e no pop, mas a sonoridade não se limita a isso, com influências que passam pelo folk, samba, country e, em certo momento, pelo tango. Embora as canções soem pop e digeríveis, o som é recheado de um experimentalismo sutil, calcado principalmente no uso de sucata como instrumentos improvisados, como a recorrente roda de bicicleta, que já se tornou um ícone da banda.

Apesar da identidade forte, Apanhador Só, assim como qualquer outra banda, não está livre de clichês. Quase todas as canções caem no lugar-comum universal chamado amor. Mas até esse clichê é retratado de um modo único, com versos que parecem resultado de um encontro entre a literatura de cordel e o realismo fantástico. Situações cotidianas são contadas através de um fluxo de consciência quase constante, com neologismos, versos soltos, rimas inteligentes e uma poética simples, mas longe de ser simplista.

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“Maria Augusta”

O rock suave, apoiado por diversas outras influências, é complementado pelos versos peculiares de Alexandre Kumpinski – que já pode ser considerado um dos letristas mais brilhantes da nova safra da música brasileira –, que receberam contribuições do poeta Diego Grando. O resultado é um retrato pitoresco de uma versão mágica da realidade.

As particularidades poéticas podem ser vistas em sua melhor forma em “Balão-de-Vira-Mundo”, que parece retratar um mundo à parte, onde a fantasia é embalada por uma sonoridade densa, com uma guitarra pesada que ultrapassa a fronteira para flertar com o tango argentino.

A poesia toma ares mais populares em “Maria Augusta”, que soa quase como uma cantiga de amor. O quase hit aparece aqui em uma versão mais intensa, com as linhas de baixo excepcionais combinadas a guitarras mais marcantes, que garantem um clima quase dançante, mas sem perder a ligação com a MPB. Esse vínculo entre o rock e a MPB se faz mais marcante em “Pouco Importa” que, não por acaso, é a faixa que mais usa da herança ‘hermanística’ do indie rock contemporâneo.

As linhas de baixo e os riffs espertos que marcam o som do Apanhador são combinadas a uma quebra de ritmo e a metáforas quase irônicas na animada “Prédio”. As tão comentadas linhas de baixo, aliás, ganham um clima denso com guitarras mais presentes e unem-se a versos melancólicos em “Nescafé”, que explora com excelência as rimas inteligentes e cria um jogo fonético sutil.

Mostrando que o Rio Grande do Sul produz mais do que apenas bandas de rock cru, Apanhador Só combina com muita harmonia a leveza poética com a intensidade do rock e a facilidade do pop. O resultado é um pop inteligente e lírico na sua forma mais elementar: música popular.