Resenha: Jay Vaquer @ Teatro Alterosa, BH 08/05/2010
*Essa semana sai entrevista com o artista
A Rolling Stone Brasil não se enganou quando disse que se Jay Vaquer fizesse músicas em inglês, o público brasileiro que frequenta shows de rock iria se derreter. Por enquanto apenas uma parcela desse público consegue ter a mente aberta o suficiente para perceber que valorizar um cantor nacional não significa ter mal gosto ou algo parecido. Existem artistas que não deixam nada a desejar em comparação com bandas internacionais e Belo Horizonte, depois de mais de 10 anos de espera, pôde conferir no sabado um exemplo dessa safra criativa. Os fãs lotaram o Teatro Alterosa, um local bem estranho para quem esta acostumado com o empurra-empurra das pistas das casas de shows. O resultado foi um show bem intimista, onde os fãs ficaram tão próximos do palco (poucos foram os que decidiram entrar na vibe européia de assistir shows sentados) que Jay Vaquer chegou a se divertir e comentar que parecia que ele seria ‘atropelado’ a qualquer momento. Aliás, o tom descontraído dominou a apresentação. Jay Vaquer estava muito a vontade e respondia diversas perguntas dos fãs, enquanto apresentava suas canções.
Quinze minutos depois do previsto, o que já é um ponto a ser valorizado na produção do show, a banda entrou no palco com uma formação bem diferente daquela que gravou o DVD Alive in Brazil. Com Kelder Paixa (bateria), Renato Pagliocci (guitarra) e Fernanda Iglesias (aquela mesma baixista linda do clipe de “Cotidiano de Um Casal Feliz”) formam o power trio que acompanha Jay Vaquer nesses novos shows. A primeira música foi “Mondo Muderno”, que nem tinha entrado no refrão quando fez todo o público presente se levantar das cadeiras e grudar no palco. Ficou fácil descobrir quem estava ali de curioso para conhecer o som e quem era fã cativo da carreira do cantor carioca: a molecada gritava todos os versos da música e foi ao delírio quando a banda iniciou “Você não me Conhece”. Com o público ganho logo no começo, as coisas só foram melhorando e o repertório não caiu no marasmo em momento algum. Houve até um momento em que uma fã invadiu o palco no começo de “A Falta que a Falta Faz” e representou os fãs mineiros que esperaram por esse show por tanto tempo. O show continuou com “Cotidiano de Um Casal Feliz”, um de seus maiores sucessos na MTV e das mais conhecidas do repertório do cantor.
Jay Vaquer fez versões bem distintas de várias canções, dentre elas “A Miragem”, primeiro single do cantor. Uma versão bem superior a original e que funciona como uma máquina do tempo para 10 anos atrás, quando conheci o trabalho dele e tinha os meus quinze anos. Boa parte do público presente no show devia ter entre 16 a 20 anos, o que chega a ser curioso perceber que existem sim jovens interessados em acompanhar artistas que tenham algo bom para acrescentar. E nas músicas de Vaquer, esse público carente de referências musicais inteligentes, encontra um prato cheio: além de compor excelentes letras, o cara consegue se reinventar facilmente em arranjos sofisticados para as músicas antigas.
Durante a apresentação foi possível perceber as diversas referências musicais que cercam as músicas de Vaquer. A mais marcante é a dos vocais agudos de Jeff Buckley, que são evocados em faixas como “Idade se eu Quiser” (que foi o melhor momento da cozinha da banda) e, principalmente, “Breve Conto de um Velho Babão”. Já na introdução de “Abismo” o power trio mostrava toda a força, remetendo ao som de várias bandas de new metal, o que acabou resultando em um dos momentos mais intensos do show. E as referências não ficaram apenas nas canções. O cantor/dançarino Fred Astaire surge no nome da canção responsável pelo segundo momento mais bonito do show: “Quando fui Fred Astaire” é uma balada lenta e com uma letra simples, que conquista facilmente. Jay mostrou maturidade e em meio aos pedidos dos fãs, cantou trechos de diversas faixas ‘a capella. Uma pena que uma de suas melhores músicas tenha ficado apenas nessa: “Estrela de um Céu Nublado”, que conta com a participação da cantora Meg Stock, ex-Luxúria. A ausência da música foi compensada com a interpretação energética de “Pode Agradecer”, que também ganhou uma versão bem diferente. “Longe Aqui” encerrou a primeira parte do show.
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“Quando Fui Fred Astaire”
Na volta para o bis, Jay comentou sobre o disco que a sua mãe vai lançar no segundo semestre e resolveu arriscar com uma música pouco tocada ao vivo: “Alguém no seu Lugar”, que resultou no momento mais bonito do show. Acompanhado apenas da guitarra de Renato Pagliocci, Vaquer cantou os versos que em breve poderemos ouvir na voz de Jane Duboc e Milton Nascimento (e concordo quando ele diz que vai ser uma versão matadora, já que a música é linda). Ao som dos versos “sem você eu deixo de ser o que desejo, eu não sei reconhecer o que não vejo. Não vou fabricar alguém para o seu lugar”, alguns casais se colaram e tiveram o “momento romântico” da noite. Difícil resistir. Para o encerramento, Jay Vaquer e sua banda tocaram “Formidável Mundo Cão”, que tem uma das letras mais provocantes com versos que ironizam religião, política e a justiça. Apenas mais um exemplo do motivo que faz Jay Vaquer ser considerado como um dos melhores compositores nacionais dos anos 2000, ao lado de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Sergio Filho e alguns poucos.
Resta esperar agora pelo próximo show, previsto para o segundo semestre junto do lançamento do novo trabalho. Os mineiros agradecem e fica a esperança de que mais pessoas tenham acesso ao trabalho de Jay Vaquer e tenham a mente aberta para apreciarem sem medo.