Resenha: Gentileza Gera Música Boa
Artista: Banda Gentileza
Lançamento: 06/09/2009
Selo: Pato Fazendo Jóia
Myspace: http://www.myspace.com/bandagentileza
Rockometro: 9
Nesse cenário atual da música, onde – como o Gustavo Martins citou em seu excelente texto – está cada vez mais difícil ser original, percebe-se com a Banda Gentileza que mentes criativas ainda existem, e estão prontas para tomarem o espaço de clichês ganhadores de prêmios do VMB.
Tudo começou em 2005, com Heitor, um estudante curitibano de Jornalismo, que cantou e levou seus amigos no embalo. O embalo em questão era o Festival Universitário de Cinema e Música de Curitiba, e a repercussão da banda – lá composta por Heitor, Jota, Garapa e Diogo – foi tão boa que decidiram mantê-la. Heitor e Banda Gentileza gravou dois EPs, e o primeiro álbum finalmente saiu esse ano, pelas mãos do mago musical Plínio Profeta, que levou nada menos que um Grammy Latino por seu trabalho em Falange Canibal, clássico da discografia de Lenine. Plínio produziu ainda Pedro Luis e a Parede, O Rappa, Xis, Lucas Santtana, Tiê, entre outros. Diante da diversidade de sons da banda, ninguém melhor que Profeta. A Banda Gentileza conta agora com seis integrantes: Heitor Humberto (vozes, guitarra, violino, cavaquinho), Emílio Mercuri (guitarra, violão, viola caipira, ukelele, backings), Artur Lipori (trompete, guitarra, baixo, kazuo), Diego Perin (baixo, concertina), Tetê Fontoura (saxofone, teclado) e Diogo Fernandes (bateria) .
O difícil, além de se fazer música com qualidade, é situar o som dos caras. Poderia compará-los com o Los Hermanos, e ir adiante com essa petulância ao falar que, enquanto sobra melancolia no LH, transborda ousadia na BG. As duas bandas tratam do amor, por vezes de forma profunda, por vezes de forma criativa, por vezes de forma sarcástica, por vezes de forma dordecotovelovoumorrer. A diferença é a maneira de se tratar desses temas. E é aí, meu amigo, que a Banda Gentileza ganha méritos pela inovação.
“Coracion” abre o disco, com um toque a la “Corazon Espinado” do Maná. É nessa hora que você pensa: “Putz, música em espanhol?”. Mas o que temos é uma bela canção de abertura, que dá uma dica sutil do que vem pela frente: belos arranjos, refrões grudentos, e letras muito inteligentes. “O indecifrável mistério de Jorge Tadeu” merece comentário pelo fato de que o nosso companheiro de palavras, Marcos Xi, uma vez disse: “Essa faixa merece atenção por vários motivos, mas o mais legal é que tem uma citação ao maravilhoso hitmaker brega e eterno figura das mesas de bar, Reginaldo Rossi e seu single número 1 na Billbord do Nordeste, ou você não pescou que eu to falando da maravilhosa “Garçon”?” Hahahahaha. “Afinal de contas” tem um jogo de palavras que, aliás, aparece em grande parte das músicas (e que me lembrou letras geniais do mestre Lenine, como “Rosebud” por exemplo).
Logo no começo de “Pia de prédio” já é possível farejar o primeiro hit. É a mais melosinha do álbum, sem deixar de ser boa. “O estopim”, com seus efeitos na guitarra e baixo marcante (que passeia por todo o disco), é de longe uma de minhas preferidas, juntamente com a seguinte, “Teu capricho, meu despacho”, que está aí para provar que a flexibilidade musical é um leque de opções, sem preconceitos. Estou falando de uma autêntica moda de viola, que nos primeiros acordes me remeteu a Almir Sater. “Sintonia” também faz as honras, com uma levada meio black, meio rock. “Preguiça” tem um quê de chorinho, daqueles de dançar juntinho com a pessoa amada, assim como “Sempre quase”, que tem um quê de infantilidade; impossível não se mexer de um lado pro outro com o ritmo fofinho. “33B” merece destaque, um rock altamente grudento. E ao final, ouvimos a sentença: “quem precisa de poética, quando tem maior com sétima?”. Essa é “Maior com sétima” que, em minha opinião, seria o carro-chefe do álbum, a melhor auto-definição que eles poderiam se dar. Samba animado, pura descontração, contagiante! Para fechar com chave de ouro, “Pseudo eu” e o já citado jogo de palavras, ferramenta de artistas geniosos.
Com uma pegada diferente, que mistura metais com percussão, riffs e efeitos nas guitarras, além de um baixo e percussão marcantes, a Banda Gentileza estréia mostrando que não tem medo da “limitada” cena brasileira atual. Mas é aquele negócio né, quem arrisca não petisca, e eu arrisco dizendo que esse álbum é dos melhores do ano, e que a promissora carreira da Banda Gentileza está apenas começando.