Resenha: Flaming Festival @ Music Hall – Santa Efigênia, BH 28 e 29/05/10
Texto: 2tdias
Fotos: Diego Soares
Veja mais fotos aqui.
O que se viu no último fim de semana em Belo Horizonte foi uma verdadeira overdose de eventos musicais. De apresentações dos gringos do UFO aos jazzistas norte-americanos na praça da Liberdade, houveram eventos para todos os tipos de público.
Dentre as muitas opções, a que mais se destacou foi a que o selo 53HC produziu e armou no palco do Music Hall, a fênix das casas de shows mineiras. Famosa por ter um dos melhores ambientes acústicos da capital mineira, foi uma escolha acertada para sediar os dois dias da festa do Flaming Festival.
Os eventos anteriores costumavam ser realizados quase que exclusivamente no Lapa Multishow e a troca pode ter causado um certo estranhamento inicial no público mais cativo, mas foi só a primeira banda começar a tocar para que ficasse comprovado que o Music Hall casou perfeitamente com a energia de um bom show de rock alternativo. E não foram poucas as atrações: Mombojó, Cachorro Grande, Copacabana Club e Canastra foram os nomes fortes do festival, que contou ainda com pratas da casa como os garotos do Utopia!; o The Hells Kitchen Project; Fusile; e o country rock do The Folsoms.
Aliás foram essas bandas que deram um verdadeiro show de iniciativa e determinação de tocar. Quem acompanha eventos independentes sabe muito bem que ser responsável pela abertura de um evento não é nada simples. Quase sempre se toca para um público apático e isso na melhor das hipoteses, já que normalmente as pessoas ficam do lado de fora e só entram na casa quando a banda principal começa a tocar.Tanto o Utopia! quanto o Folsoms conseguiram arrastar muito mais que os amigos e as namoradas para acompanhar o show. E o resultado não poderia ter sido melhor.
A noite de sexta começou quente. Um bom público já marcava presença na fila antes mesmo do horário marcado para o começo dos shows. Os jovens mineiros do Utopia!, um quarteto de indie rock que consegue mesclar influências de Radiohead, Arctic Monkeys, Los Hermanos e Incubus em um único e coeso projeto, fizeram uma abertura incendiária e que agradou bastante.
The Hells Kitchen Project
Há cerca de três anos a banda ainda engatinhava (mas sempre com uma qualidade inegável) pelos cenários underground de Belo Horizonte com suas excelentes covers de Strokes e Arctic Monkeys. Hoje já conseguiram fortalecer o nome e ser uma referência na música independente mineira. E o melhor de tudo, sem perder nenhum pouco o carisma e um pouco de atitude inconsequente (nunca vou lidar direito com pessoas que sobem na bateria e agem como se estivesse tudo bem e equilibrado) que fazem o show do Utopia! ser sempre divertido.
O The Hells Kitchen Project é uma banda mais antiga e que tem o diferencial de contar apenas com bateria e baixo. Não por acaso, a cozinha da banda é mesmo infernal e as músicas dançantes contagiaram o público. E para os puristas que defendem a presença de guitarra em uma banda, é melhor rever conceitos e escutar o som dos caras.
O Fusile foi a terceira atração da primeira noite e uma agradável surpresa. Depois de conferir as duas primeiras apresentações e sentir toda aquela vibe boa que só encontramos em um evento desses, não foi tarefa difícil para a banda conquistar o público. Com um som vibrante que poderia ser classificado como o verdadeiro punk cigano que é usado para descrever o ritmo do Gogol Bordello, a mineirada acertou em cheio na dose e saiu de lá com um saldo positivo.
O clima estava tão bom no sabado que até mesmo o som do Copacabana Club, a atração seguinte, conseguiu chamar a minha atenção. Foram alguns “encontros” ruins e que soaram esquisitos demais para os meus ouvidos, mas que conseguiram (finalmente) quebrar o gelo e mostrar que eles são bem mais que “Just do It”. O destaque da apresentação ficou por conta das linhas de baixo do músico Tile Douglas (a vocalista também deu um show a parte, mas a Camila é de outro mundo mesmo). Parafraseando a turma do Cachorro Grande, o show do Copacabana Club foi mesmo uma verdadeira aula de dance music e serviu para me fazer esquecer as apresentações antigas e esperar ansiosamente pelas próximas.
O encerramento ficou por conta dos gauchos do Cachorro Grande, a banda mais esperada da noite. Acompanho pouco o trabalho dos caras, que no dia seguinte abriram a apresentação do Aerosmith em São Paulo, e o que pude conferir no palco foi um show empolgante e sem grandes firulas. Tocando seus maiores sucessos e regendo o público com maestria, a banda do vocalista Beto Bruno detonou.
Destaque para as clássicas “Você Não Sabe o Que Perdeu”, “Hey, Amigo” (responsável pela maior roda da noite) e a balada “Sinceramente”, que mostra um lado bem diferente da habitual baderna sonora da banda. O encerramento ficou por conta de uma cover irada de “My Generation” do The Who.
Após uma noite mal dormida e outra jornada de trabalho de oito horas, era chegada a hora de conferir a segunda noite de shows do Flaming Festival. Se o dia anterior havia sido impecável tanto na parte da organização quanto nas performances das bandas, a expectativa (não dá para evitar alimentar a expectativa quando se trata de determinadas coisas) era de que o mesmo se repetisse com as apresentações de bandas como o Mombojó, que não aparecia há um bom tempo em terras mineiras. E o que se viu foi exatamente isso.
Ao contrário do dia anterior, a produção não exagerou na fumaça que atrapalhou um pouco o trabalho dos fotografos mais exigentes (como o Diego Soares, responsável pelas imagens que ilustram o post) e respeitou os horários programados mesmo quando uma das atrações principais se atrasou (por conta de um problema na estrada). Ruim para os paranaenses do Hillbilly Rawride que perderam boa parte do público que foi embora após a apresentação da última banda, mas muito respeitoso com o público incansável que esperou até as quatro horas da manhã pelo último acorde do show que encerrou a turnê do Homem-Espuma da turma do Mombojó.
A apresentação do The Folsoms foi capaz de fazer até mesmo o sujeito mais sem graça e reto dançar feliz. Não que isso signifique algo bom de se observar numa apresentação de rock, afinal ninguém frequenta shows para se acabar de rir de pessoas vestidas a carater para a fazenda da Maggie ou com outros que dançam freneticamente desferindo chutes e cabeçadas no ar.
Foi em meio a tantas figuras engraçadas no meio do público que o Folsoms abriu o domingo com suas versões de Johnny Cash. De todas as músicas, apenas a versão de “Hurt” deixou a desejar. O próprio Trent Reznor deve ter noção de que Cash fez uma versão muito melhor que a sua original e provavelmente esse é um daqueles tesouros musicais que ninguém deveria encostar mais.Destaque para a épica “Ghost Riders in the Sky” que deveria ter encerrado a apresentação da banda, que acabou estendendo o show além da conta para tentar suprir a lacuna deixada pelo imprevisto com o Hillbilly Rawride. O que poderia ter sido um show excelente acabou manchado pelo excesso, mas dada a situação foi compreensível.
Quando o Vanguart entrou no palco, me lembrei da apresentação da banda no Planeta Terra e em outras ocasiões e tive a curiosidade (e novamente a expectativa) de saber se o baixista iria, finalmente, mudar aquela equalização média que torna praticamente impossível ouvir o seu instrumento nitidamente. Para a minha tristeza parcial, não, ele não mudou a configuração do baixo, mas pelo menos nos presenteou com um solo digno dos melhores admiradores do lendário Jaco Pastorius.
O Vanguart é uma banda que poderia oferecer bem mais do que as boas “Semáforo” (onde novamente o sorriso estampado no rosto do público foi o suficiente para contagiar descrentes, como eu) e “Cachaça” e seu clima naturalmente ébrio. Pelo menos por enquanto, posso dizer que a banda do vocalista Helio Flanders ainda não me conquistou. Mas é inegável que dentre as atuais promessas/realidades musicais da nossa cena independente, o Vanguart é um nome forte e merece todo o destaque.
Com uma introdução épica, os cariocas do Canastra entraram destruindo tudo. Brincando com os temas da Fox e fazendo os fãs mais nerds terem orgasmos múltiplos ao ouvirem várias canções da série Star Wars (tocaram o tema principal; a marcha imperial e até mesmo a canção da cantina de Mos Esley), a banda esbanjou humor e carisma. Se a apresentação do Vanguart esfriou um pouco os animos do público e seus respectivos dancing shoes, o Canastra injetou adrenalina nos mineiros e fez uma de suas melhores apresentações na terra do pão de queijo. E olha que não foram poucas as oportunidades que o grupo desembarcou aqui e menos ainda foram os shows ruins.
Quanto ao Mombojó, poucas são as bandas nacionais que conseguem ser tão competentes no palco quanto as suas próprias influências. Fizeram um show chapante e que conforme o Xi havia adiantado recentemente em um texto sobre o grupo, é uma daquelas bandas imperdíveis para os fãs do rock alternativo.
Aqui, vocês podem conferir um relato mais completo e exclusivo sobre aquele que foi o melhor show do Flaming Festival e um dos melhores que tive a oportunidade de conferir nesse ano de 2010. Espero que a experiência não demore a se repetir, pois no próximo dia 6 todo mundo vai dançar enquanto espera a missa recomeçar e eu também quero fazer parte da brincadeira.