Resenha: Eletronika @ Belo Horizonte 05/11/2009

Às vezes fico me perguntando o que leva uma pessoa a não gostar/valorizar a música, seja ela independente ou não. Tento ignorar também o tipo de música que estamos falando, mas isso é impossível. Vira uma coisa muito pessoal e me incomoda ver gente tão inteligente (e bonita) com gostos tão abaixo da expectativa. Quando será que um gênero musical ultrapassa a barreira de “momento de distração” para uma coisa mais “intelectual”? Quando foi que eventos como o Eletronika, que acontece desde 1999 em Belo Horizonte, se tornou reduto exclusivo dos moderninhos? Onde estão as outras pessoas? É triste ver que tão poucos (e sempre os mesmos) se importam com tecnologia (tá, essa é mais nerd mesmo), música e tempo para refletirem sobre o futuro cultural.

O Eletronika nadou contra a maré de mesmice e trouxe um evento moderno em um local muito interessante (um galpão localizado próximo da praça da Estação no centro da capital mineira). Inspirados no festival francês Les Transmusicales de Rennes, a programação conta com muitos shows, debates com personalidades como o produtor Rafael Ramos e André Midani, cinema e oficinas. E o melhor, que por sinal tem se tornado habitual em praticamente todos os eventos que acontecem no mundo, com atrações simultâneas em outras casas noturnas da cidade, como A Obra e o Deputamadre. Com todas essas qualidades, fica realmente dificil entender o que se passa na cabeça da mineirada, que cisma em ignorar os bons eventos culturais da cidade.

Black Drawing Chalks

Como de costume, fui para o show do Black Drawing Chalks conhecendo praticamente nada. Sei que a banda concorreu em três categorias no último VMB, uma delas com o bom vídeoclipe de “My Favorite Way” e outra na categoria de Rock Alternativo. Não levaram nenhum prêmio para casa, mas as indicações não foram mero acaso. A banda de Goiania é (realmente) uma das coisas mais legais que apareceram em 2009 e ao vivo, bem, tempos que não via tanta energia no palco de uma banda que faz um rock n’roll cru e sem firulas. As influências vão de Queens of the Stone Age até (as coisas boas do) Jet, com um pouquinho de Hellacopters e Kings of Leon. Como disse, tenho esse hábito de conferir shows sem conhecer muito a banda e nunca me decepcionei: ter o primeiro contato com uma banda durante um show é bem diferente de ouvir as músicas na internet. Acabamos entrando na onda sonora e a chance de gostar (muito) é alta. Foi o caso da noite passada.

O Black Drawing Chalks é uma porrada na orelha. No começo do show não era possível ouvir o baixo de Dênis Pereira e som estava bem embolado, mas logo depois que o técnico de som resolveu o problema e os goianos mostraram o motivo de serem a banda da vez no mp3 player dos seguidores do underground. Apresentaram as músicas de seu segundo cd Life is Big Holiday For Us e em uma performance animal, os musicos literalmente bateram nos instrumentos. Tudo em nome do bom e velho rock n’roll que esses caras fazem muito bem. Uma banda imperdível.

Virna Lisi

Porém a grande carta da noite não era a apresentação agressiva do Black Drawing Chalks. Já na metade final do show dos goianos, um público diferente começou a dominar a pista. Muita gente que já passou dos trinta, quarenta e outros de idade bem mais avançada. Todos esperavam ansiosos pelo começo da festa que marcava o retorno aos palcos de uma das bandas mais lendárias do cenário mineiro. A mística da banda é tão forte que entre os diversos músicos conhecidos (e desconhecidos), estavam integrantes do Tianastácia e do Jota Quest. Isso sem deixar de falar nos inúmeros curiosos que nunca haviam ouvido nada do som do grupo e que pretendiam descobrir o motivo daquela expectativa toda. E foi justamente nesse clima de ansiedade e empolgação que o Virna Lisi subiu aos palcos do Eletronika.

A banda havia se separado em 1997 e para esse show especial, apenas o guitarrista Marden Veloso não retornou. Sua vaga foi ocupada por Henrique Matheus, que também é titular na banda Transmissor (vale dizer que o Xi está apaixonado pelo som dos caras). Ronaldo Gino (guitarra), César Maurício (voz), Marcelo de Paula (baixo) e Luiz Lopes (bateria) continuam firmes e fortes no meio musical e mostraram-se em forma. Para alguns fãs antigos, a banda conseguiu fazer um show bem mais pesado que os dos anos 90. E aqueles que conferiam a banda ao vivo pela primeira vez não se decepcionaram também. Seria dificil conseguir se decepcionar com o show do Virna Lisi, que tem uma pegada que lembra o resultado de uma mistura química entre Titãs e Nação Zumbi com tempero mineiro.

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Virna Lisi – Sua Cara Ao vivo no Eletronika (via Rodrigo Honório do jornal O Tempo)

Encerrando a noite de celebração pelo (desejado) retorno do Virna Lisi aos palcos, a banda fez o bis só para deixar aquele gostinho de quero mais. Quem deixou de comparecer nessa primeira noite do Eletronika perdeu uma lição importante do que é fazer música. Hoje o evento continua com shows de Dead Lover’s Twisted Heart Band, Garotas Suecas, Copacabana Club e Minitel Rose (FR). E novamente, irei perder a minha virgindade sonora com a maioria desses grupos, exceto a mineirada do Dead Lovers que já apareceu aqui no Rock in Press antes. Ainda hoje a resenha dessas bandas aparecem na nossa página.