Às vezes fico me perguntando o que leva uma pessoa a não gostar/valorizar a música, seja ela independente ou não. Tento ignorar também o tipo de música que estamos falando, mas isso é impossível. Vira uma coisa muito pessoal e me incomoda ver gente tão inteligente (e bonita) com gostos tão abaixo da expectativa. Quando será que um gênero musical ultrapassa a barreira de “momento de distração” para uma coisa mais “intelectual”? Quando foi que eventos como o Eletronika, que acontece desde 1999 em Belo Horizonte, se tornou reduto exclusivo dos moderninhos? Onde estão as outras pessoas? É triste ver que tão poucos (e sempre os mesmos) se importam com tecnologia (tá, essa é mais nerd mesmo), música e tempo para refletirem sobre o futuro cultural.
O Eletronika nadou contra a maré de mesmice e trouxe um evento moderno em um local muito interessante (um galpão localizado próximo da praça da Estação no centro da capital mineira). Inspirados no festival francês Les Transmusicales de Rennes, a programação conta com muitos shows, debates com personalidades como o produtor Rafael Ramos e André Midani, cinema e oficinas. E o melhor, que por sinal tem se tornado habitual em praticamente todos os eventos que acontecem no mundo, com atrações simultâneas em outras casas noturnas da cidade, como A Obra e o Deputamadre. Com todas essas qualidades, fica realmente dificil entender o que se passa na cabeça da mineirada, que cisma em ignorar os bons eventos culturais da cidade.
Black Drawing Chalks
Como de costume, fui para o show do Black Drawing Chalks conhecendo praticamente nada. Sei que a banda concorreu em três categorias no último VMB, uma delas com o bom vídeoclipe de “My Favorite Way” e outra na categoria de Rock Alternativo. Não levaram nenhum prêmio para casa, mas as indicações não foram mero acaso. A banda de Goiania é (realmente) uma das coisas mais legais que apareceram em 2009 e ao vivo, bem, tempos que não via tanta energia no palco de uma banda que faz um rock n’roll cru e sem firulas. As influências vão de Queens of the Stone Age até (as coisas boas do) Jet, com um pouquinho de Hellacopters e Kings of Leon. Como disse, tenho esse hábito de conferir shows sem conhecer muito a banda e nunca me decepcionei: ter o primeiro contato com uma banda durante um show é bem diferente de ouvir as músicas na internet. Acabamos entrando na onda sonora e a chance de gostar (muito) é alta. Foi o caso da noite passada.
O Black Drawing Chalks é uma porrada na orelha. No começo do show não era possível ouvir o baixo de Dênis Pereira e som estava bem embolado, mas logo depois que o técnico de som resolveu o problema e os goianos mostraram o motivo de serem a banda da vez no mp3 player dos seguidores do underground. Apresentaram as músicas de seu segundo cd Life is Big Holiday For Us e em uma performance animal, os musicos literalmente bateram nos instrumentos. Tudo em nome do bom e velho rock n’roll que esses caras fazem muito bem. Uma banda imperdível.
Virna Lisi
Porém a grande carta da noite não era a apresentação agressiva do Black Drawing Chalks. Já na metade final do show dos goianos, um público diferente começou a dominar a pista. Muita gente que já passou dos trinta, quarenta e outros de idade bem mais avançada. Todos esperavam ansiosos pelo começo da festa que marcava o retorno aos palcos de uma das bandas mais lendárias do cenário mineiro. A mística da banda é tão forte que entre os diversos músicos conhecidos (e desconhecidos), estavam integrantes do Tianastácia e do Jota Quest. Isso sem deixar de falar nos inúmeros curiosos que nunca haviam ouvido nada do som do grupo e que pretendiam descobrir o motivo daquela expectativa toda. E foi justamente nesse clima de ansiedade e empolgação que o Virna Lisi subiu aos palcos do Eletronika.
A banda havia se separado em 1997 e para esse show especial, apenas o guitarrista Marden Veloso não retornou. Sua vaga foi ocupada por Henrique Matheus, que também é titular na banda Transmissor (vale dizer que o Xi está apaixonado pelo som dos caras). Ronaldo Gino (guitarra), César Maurício (voz), Marcelo de Paula (baixo) e Luiz Lopes (bateria) continuam firmes e fortes no meio musical e mostraram-se em forma. Para alguns fãs antigos, a banda conseguiu fazer um show bem mais pesado que os dos anos 90. E aqueles que conferiam a banda ao vivo pela primeira vez não se decepcionaram também. Seria dificil conseguir se decepcionar com o show do Virna Lisi, que tem uma pegada que lembra o resultado de uma mistura química entre Titãs e Nação Zumbi com tempero mineiro.
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Virna Lisi – Sua Cara Ao vivo no Eletronika (via Rodrigo Honório do jornal O Tempo)
Encerrando a noite de celebração pelo (desejado) retorno do Virna Lisi aos palcos, a banda fez o bis só para deixar aquele gostinho de quero mais. Quem deixou de comparecer nessa primeira noite do Eletronika perdeu uma lição importante do que é fazer música. Hoje o evento continua com shows de Dead Lover’s Twisted Heart Band, Garotas Suecas, Copacabana Club e Minitel Rose (FR). E novamente, irei perder a minha virgindade sonora com a maioria desses grupos, exceto a mineirada do Dead Lovers que já apareceu aqui no Rock in Press antes. Ainda hoje a resenha dessas bandas aparecem na nossa página.
O primeiro dia foi ótimo, Black Drawing Chalks eu já conhecia de um tempo atrás, mas nunca tinha visto ao vivo, me surpreendi com a qualidade do show. Eles fazem rock para ninguem botar defeito, sem falar que ainda são muito gente boa, troquei uma ideia rapida com eles no final.
Agora Virna Lisi nunca tinha ouvido antes, tanto música como da banda, e não mi decepcionei. Um show cheio de energia e uma presença de palco foda.
Cara, Black Drawing Chalks é demais, mesmo! E curti o Virna Lisi, tb não conhecia – sou novo e, até poucos anos atrás, não morava em BH.
E esse vídeo do Virna Lisi fui eu que gravei!!! Vou citar vocês no meu blog. Podem colocar meu crédito, por favor?
Grato!
[…] e 06/11/2009: Eletronika @ Belo Horizonte – MG. [Leia Aqui: 1º Dia e 2º Dia] Um dos mais antigos e respeitados festivais mineiros vem com mais uma impressionante edição. […]