Resenha: Ecletismos
Artista: Cymbals Eat Guitars
Lançamento: 20/01/2009
Selo: Sister’s Den (NA) / Memphis Industries (Europe)
Myspace: /cymbalseatguitars
Rockometro: 9
Suponhamos que você acaba de conhecer uma pessoa bacana. Papo vai, papo vem até que inevitavelmente é chegada a hora da verdade:
– Mas que tipo de som você curte?
Você prende a respiração enquanto espera pela fatídica resposta:
– Ah, você sabe… Eu sou eclética, gosto de tudo um pouco, afinal, música depende do momento, não é?
Pronto: seus ouvidos acabaram de escutar um palavrão: e-clé-ti-ca. Como não poderia deixar de ser, no mesmo instante imagens começam a ser projetadas em sua mente. Você e sua bela pretendente deitados, trocando carícias em cima da cama de um quarto na penumbra, quando suavemente o contra-regra aciona a trilha sonora…
“É o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim…”
“Era uma vez o amor, mas tive que matá-lo” bem disse o grande escritor colombiano Efraim Medina Reyes. Ficar em cima do muro atesta apenas falta de personalidade musical, pois, convenhamos, quem diz gostar de tudo um pouco, gosta, inclusive – ou talvez principalmente – de música ruim. E música ruim é apenas o inverso da música que a gente considera como boa.
Pessoas ecléticas já são perigosas. Mas nada soa mais temeroso do que um disco eclético. Em geral trata-se de um sincretismo vazio: aponta para todos os lados e não acerta nenhum. Porém, de tempos em tempos – com intervalos cada vez mais espaçados – costuma aparecer um álbum capaz de tirar leite de pedra, fazendo do ecletismo não um estigma, mas uma verdadeira virtude. Why There Are Mountains?, a ousada estréia dos novaiorquinos do Cymbals Eat Guitars, certamente é um desses trabalhos.
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Cymbals Eat Guitars – Wind Phoenix (Live on KEXP)
As nove canções do CD compõe uma verdadeira viagem pela música alternativa das últimas duas décadas. A sinuosidade estrutural de cada uma das faixas serve pra criar climas que amplifiquem ao máximo as sensações de surpresa e emoção. “And The Hazy Sea”, extraordinário abre-alas, só pode ser descrito por meio de um paradoxo: uma suave agressividade. “Indiana”, por sua vez, começa nublada para, em seguida, entrar numa daquelas divertidas tardes ensolaradas típicas dos momentos mais divertidos do Belle and Sebastian. “Share” é um épico de sete minutos repleta de ecos de My Bloody Valentine, enquanto “The Living North” com suas guitarras espaciais remete às melhores canções do British Sea Power.
Mas os grandes destaques do disco ficam mesmo por conta de “Cold Spring”, “Wind Phoenix” e “Like Blood Does”. São faixas em que a insanidade do conjunto é levada ao extremo, com mudanças de andamento bruscas que criam transições perfeitas que vão desde a melancolia até a pista. Impressiona a naturalidade com a qual a banda transita entre vertentes musicais diferentes em uma mesma canção, o que revela incrível maturidade para um trabalho de estréia. “Like Blood Does”, por exemplo, começa com um clima etéreo a lá Radiohead e em seguida entra num momento gótico que remete aos arroubos oníricos de Disintegration, do Cure. Então se transforma num pop palatável e grandioso para terminar com uma avalanche de barulho que chama um falsete de cortar os pulsos. E isso tudo sem soar como um Frankenstein!
Fica então a pergunta: qual o próximo grande disco cujo ecletismo não será sinônimo de palavrão?