Álbuns: Dorgas | Semanas Góticas
Artista: Dorgas
Lançamento: 15/05/2012 e 04/07/2012
Selo: Independente
Rockometro: 2
Lembro bem quando o Dorgas apareceu na cena. Era o contra ponto de tudo o que se tinha noção de música. Era o avesso do pop, e o experimental popular. Era instrumental ao mesmo tempo que era cantado e tinha a mais absurda escolha de timbragem de instrumentos possível. Passou o tempo, dois EPs e também a surpresa. Restou um vazio sem graça.
Essa é a grande questão por trás do que saiu da banda em 2013. Um disco e um EP que são perfeitamente definíveis como ‘sem graça’, explorando a dúvida da própria banda de que caminho seguir. O frescor da novidade foi embora junto com o quase boom da cena instrumental/experimental que começou a nascer no Rio de Janeiro, cidade natal da banda. Além disso, a demora inestimável para lançar o disco, aliado por uma recepção fria da mídia – ao contrário do hype que a banda um dia ostentou – demonstram o baixo rendimento do álbum de estreia do quarteto.
O disco é preso, travado dentro da sua própria batida, mais ‘pop’ e ‘normal’ que os lançamentos da banda. Um bom exemplo disso é a diferença entre “Faisão Dourado (Tendência e Cor)” lançada no disco e a divulgada no programa da RayBan, com participação do Jards Macalé. A versão ao vivo, mais solta, trabalha muito melhor com a variação de ritmo e leveza da voz, não deixando de ter a marca Dorgas com aqueles falsetes esquisitos, algo que é abafado no álbum por uma leitura mais dura e presa da canção, simplificando seu potencial.
Para quem conheceu algumas músicas antes do período de gravação, o tormento soa pior, já que nota-se a compressão das canções, ou talvez até uma quase completa mudança de direcionamento, como em “Campus Elysium” e “Vice-Homem”. O momento que mais chama atenção acaba sendo o riff propositalmente plagiado de “Miss You”, dos Rolling Stones, na faixa “Egocentrica”, e a voz de Letícia Novaes, do Letuce, em “Vander” – a melhor canção do disco, principalmente por sua melodia vocal mais adocicada e arranjo mais dark. Nem os nomes trazem mais tanta surpresa e graça como antes. A banda parece tão normal, momentânea.
Talvez, entendendo que não tivesse sido o direcionamento correto das músicas ou que perderam o tempo de lançamento do trabalho, um mês e meio depois de por o álbum na roda a banda lançou um novo EP, chamado Semanas Góticas, e contendo duas faixas instrumentais e inominadas. Além de assumirem a fraqueza do trabalho de estreia, o EP é ainda mais superficial, menos objetivo e reduz a banda apenas a ‘músicas de elevador’. O trabalho aboli os teclados e sinth, além de não explorar os efeitos na guitarra como nos primeiro álbuns, tornando o registro ainda mais simplista e menos atrativo. Semanas Góticas foi todo gravado ao vivo, sem overdubs, com timbres, distorções e repetidas dentro das duas canções. Com isso, as músicas se parecem e fica aquela questão já citada: “sem graça” e “música de elevador”.
É sabido que o Dorgas nunca se importou com erros, público, crítica, fãs e sempre tocou para si, como gosta. Talvez não se importe mais como sua música, com sua produção, seu direcionamento e agrade aos senhores que esperam pacientemente o elevador chegar no 15º andar, onde automaticamente esquecerão o que ouviram e que artista estavam tocando – se é que irão se importar em saber quem era.
Isso é sério? Isso é realmente sério? Que crítica mais destoada, argumentos bem estranhos