Resenha: De M(allu) para W(ilco)
Álbum: Wilco The Álbum
Artista: Wilco
Lançamento: 30/06/09
Gravadora: Nonesuch
Myspace: myspace.com/wilco
Rockometro: 6
Ao chegar em casa por volta das 2 e meia da matina, por curiosidade resolvo abrir o meu MSN para espiar meus fiéis companheiros de madrugada. Pouco tempo depois, Daniel, um grande amigo, resolve me bipar e após perguntar pelas novidades me informa:
– Nossa Guilherme, teve uma resenha que destroçou o disco novo da Mallu [Magalhães].
Embora eu não seja exatamente um entusiasta da cantora, pedi para o Daniel me repassar o link com tal crítica. Entrei no site e no mesmo instante fiquei particularmente indignado. O motivo? Uma tendência que ocorre frequentemente no jornalismo musical de simplesmente tecer críticas sem argumentação sólida.
Há mais uma preocupação efetiva de se questionar a repercussão do fenômeno Mallu Magalhães do que propriamente em observar se ela de fato tem ou não alguma qualidade musical. Não acho Mallu genial. E eu diria até que ela teve sorte por ter caído nas graças do titio Lúcio Ribeiro. No entanto, seu trabalho deve ser analisado de maneira coerente com críticas consistentes sobre O DISCO, pois de fato elas hão de existir realmente.
Por outro lado chama a atenção o fato do mesmo jornalista traçar um panorama demasiadamente limitado das grandes canções de 2009, colocando em primeiro lugar em seu top “Wilco, The Song”, da “Wilco, The Band”, além de colocar “I’m Throwing My Arms Around Paris”, do Morrissey, na quarta posição. Não porque sejam músicas ruins, o que de fato não são, senão por carecerem de relevância – alguém falou em “Crazy/Forever” do Japandroids, “Criminals”, do Atlas Sound ou “Silver Moons” do Sunset Rubdown?
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“Wilco The Song” Live
Verdade seja dita, a coisa mais difícil para um fã é admitir que seus grandes referenciais perderam a mão há algum tempo. Morrissey, que hoje tem mais valor mítico, apenas atualiza seu choro copioso – o que pode ser até “divertido” em dias nublados, mas só. O Wilco, por sua vez… Ah, o Wilco… Que saudade!
O principal motivo do Wilco ter se tornado referência em termos de importância e reconhecimento é o próprio “RG” da banda: sua trajetória musical marcada por constantes processos de ruptura e reinvenções. Não que toda banda tenha necessariamente de se modificar a cada novo trabalho. Às vezes, esse pode até mesmo ser um problema – oi Strokes!
No entanto, quando a sua marca registrada são as freqüentes alterações de percurso, a frustração acaba sendo enorme quando ficamos com a sensação de “já ouvi isso antes…” e pouco depois constatamos estupefatos “na própria discografia da banda?!”. Pior do que isso é podermos até mesmo dizer de onde o repertório foi derivado. Isso sem falar na decepção de notarmos que a canção foi plagiada de outro artista!
E este é o principal problema de “Wilco, The Album”, último petardo lançado pela banda em meados deste ano. E olha que na opinião deste escriba não se trata sequer do pior trabalho da banda, que fica a cargo do insosso Sky Blue Sky, de 2007. Mas pelo menos em Sky Blue Sky ainda havia ao menos uma ambição: a de ser chato. Não por acaso, o “álbum do camelo” – cuja capa, vamos combinar, é horrorosa – passou praticamente despercebido mesmo entre os mais antenados.
Pois bem, tirem vocês mesmos a prova dos 9:
Bull Black Nova = Side With The Seeds + Spiders (Kidsmoke) – bem que se diga, nos últimos discos a obsessão de Tweedy parece ser tentar recriar a todo custo uma nova Spiders.
You Never Know = My Sweet Lord – o refrão é um plágio descarado; dá até pra cantar o aleluia se vocês tentarem!
Country Disappeared = Hate It Here versão “soft”.
Sunny Feeling = I’m Wheel versão Being There + introdução de Velouria dos Pixies.
Isso apenas para ficar nos exemplos mais claros – ou descarados, dependendo de como se queira enxergar. Em todo caso, repito: não se trata de um disco ruim. Acaba sendo frustrante sim pelas expectativas que envolvem o padrão de qualidade estabelecido e consolidado pela banda ao longo de seu tempo de estrada.
Wilco the Song – com seu clima “A Ghost Is Born” mas sem melancholia -, I’ll Fight – e sua clara referência a musicalidade de Summerteeth -, Everlasting – algo que parece ser alguma sobra de Sky Blue Sky, mas curiosamente melhor que praticamente todo o disco anterior -, Sunny Feeling e Country Disappeared são legais. Mas do Wilco puro sangue, memorável, há apenas uma canção: One Wing. O resto do disco se divide entre pieguismo barato (You And I, que conta com a participação de Leslie Feist nos vocais), pedantismo (Bull Black Nova) e mais chatice (o resto).
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Wilco e Feist – You And I
Há quem reclame que a recente queda de qualidade nos recentes trabalhos da banda se deva a fase de tranqüilidade e alegria que Jeff Tweedy, líder e principal compositor da banda, atravessa atualmente. Em seus momentos mais turbulentos o pinta pariu obras-primas como o celebrado Yankee Hotel Foxtrot e o belíssimo A Ghost Is Born.
Se o problema for a falta de problemas, ainda nos resta solução, ou ao menos esperança. Porém, existe outra hipótese menos comentada e mais perigosa porque insolúvel: Jay Bennett. Ao que parece, o multi-instrumentista demitido por Tweedy durante as sessões da gravação de Yankee Hotel Foxtrot realmente faz falta. Ele fazia parte da formação da banda desde 1994, quando foi integrado durante a turnê do disco A.M.
Curiosamente ou não, após sua saída, Jeff Tweedy só conseguiu parir apenas mais um discaço, justamente A Ghost Is Born, o sucessor de Yankee Hotel Foxtrot. O grande problema é que além de Tweedy, Deus também resolveu demitir Bennet: o músico faleceu em maio deste ano. Fica então uma pergunta a ser respondida pelos próximos álbuns da banda: seria Jeff Tweedy realmente “O” verdadeiro cabeça do Wilco?