Resenha: Contador de Histórias
Artista: The Tallest Man On Earth
Lançamento: 09/11/2010
Selo: Dead Oceans
Myspace: http://www.myspace.com/thetallestmanonearth
Rockometro: 8,4
Fazer uma introdução sobre a situação da música atualmente é inútil. Não existem mais tendências ou preferências e o que antes era impossível agora é mais do que possível com toda a tecnologia usada a favor da música e com o “fácil” acesso à criação musical. O que dizer então, já que nada mais é complicado, de artistas que, mesmo com toda essa tecnologia, preferem gravar seus trabalhos usando um único instrumento (no geral) e deixar de lado os zumbidos do ambiente na hora da gravação onde é possível até escutar sua respiração e sua sinceridade em seus desabafos emocionantes?
Kristian Matsson, sob o pseudônimo The Tallest Man On Earth, se apoderou desta técnica em todos os seus lançamentos – desde seu lindo debut, Shallow Graves, passando por seu segundo álbum (que é deste ano), The Wild Hunt, e agora por seu novo EP, Sometimes The Blues Is Just a Passing Bird –, o que apenas aflorou toda a crueza e fragilidade de seus sentimentos cantados perfeitamente por sua voz marcante sobre os arranjos incríveis de seu violão puramente folk.
A curta discografia de Kristian é um bom e o mais simples exemplo de que este rapaz sueco de apenas 27 anos é um gênio: a mudança entre seus trabalhos é quase nula; o que diferencia instrumentalmente um lançamento de outro é adição, sempre com uma coisa nova, de instrumentos em cada álbum. Em Shallow Graves, veio o banjo; em Wild Hunt, veio o piano; e agora em seu novo e lindo EP, que (vide seu título) deixa óbvia a certa proximidade do blues, veio a guitarra. Mesmo mantendo tecnicamente a mesma fórmula durante toda sua carreira, quando algo novo vindo dele é lançado, nos vemos loucos para conhecer mais o ego de Kristian, como se este fosse um contador de histórias que nos encanta a cada novo trabalho. E é exatamente isso o que acontece.
Depois de “Little River”, linda e simplória música que abre o EP, vem “The Dreamer” com a comentada guitarra. A aura confiante da música somada à inigualável voz de Kristian cria um ambiente espontâneo e inexperiente ao redor da guitarra e de seu blues solitário – algo que não tira, e sim aumenta a beleza da canção.
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Na sequência vem a faixa do meio – talvez propositalmente – que é o grande ponto alto do EP: “Like the Wheel”, uma das faixas mais belas do ano, arranca um arrepio visceral quando a voz do homem mais alto na Terra toca nossos tímpanos e chega a tirar lágrimas com versos como ‘And I say oh, my Lord! Why am I not strong like the wheel that keeps travelers travelling on, like the wheel that will take you home?‘. E olha que não é brincadeira. Olha eu chorando aqui de novo…
Nas duas últimas faixas a estética sonora muda um pouco: os arranjos folk mais complicados que marcaram principalmente o The Wild Hunt voltam e “Tangle In This Trampled Wheat” e “Thrown Right At Me” dão aquela sensação maravilhosa de aconchego e uma tranquilidade quase bucólica.
Sometimes The Blues is Just a Passing Bird só confirmou novamente o que já estava confirmado: um novo gênio trovador começou sua carreira e, no meu caso, já teve o trunfo de marcar uma época importante em minha vida. Há muito tempo não surgia um ser humano capaz de, com sua música, me fazer refletir e de certo modo mudar o rumo de uma pequena fase turbulenta de minha vida. Sem querer comparar, mas o último que fez isso (na verdade ele mudou minha vida) foi aquele tal de Ian Curtis. Já ouviram falar?