“Se não pra crer e ser crescendo sendo” verso da segunda canção de “Serviço”, primeiro disco solo de Castello Branco, ex-R Sigma que lançou no mês setembro seu debut. A canção citada é “Crer-sendo” e faz uma boa alusão ao desenvolvimento da carreira de Lucas Castello Branco como artista solo e que surpreendeu a todos em um ano com lançamentos não tão chamativos como em 2012.
O disco, que foi produzido pelos seus ex-parceiros de banda, Tomas Tróia e Diogo Strausz e também junto de Lou Caldeira, forma uma estética muito bem definida desde os primeiros acordes. A aposta era trazer os elementos que remetessem à época em que Lucas viveu no monastério e, consequentemente contextualizar com tudo que o músico já passou e trouxe na bagagem.
Algo realmente preciso e pensado para a transição de banda para artista solo e na criação da sua identidade como persona. Para isso, ele convidou nomes como Alice Caymmi, Gabriel Ventura e Ana Lomenino e nomeou essas 12 músicas de “Serviço”.
O disco é primoroso do começo ao fim, Lucas consegue trazer tais questões sem cair na repetição da tal “mpb”, mas fazendo dela uma referência. Há quem posso imaginar que algumas orientações se assemelham ao que Milton Nascimento já fez, mas Castello Branco vai além e experimenta com faixas que valorizam outras vozes, como a de Alice Caymmi ou até mesmo a sua em outros tons.
A caçula Caimmy, por exemplo participa na faixa “Palavra Divina; Quietude Extraordinária” e o seu tom controalto profundo encaixa perfeitamente na intenção de tornar o ambiente lento e que remetesse aos corais, definindo a estética supracitada.
Porém o disco é flexível, para evitar que seja cansativo, e canções como “Tem Mais que Eu” e “Guerreiro” se mostram pontos altos, a primeira por contagiar facilmente com o sertão e a segunda pelo seu crescimento e ápice dos tons. “Kdq”, outra que merece destaque, tem uma evolução muito relevante, desde os seus primeiros segundos ela transmite essa impressão de que está aumentando, mas sempre mantém uma tensão na espinha.
Muito bem amarrado, o que chama atenção é o jogo de músicas, que está muito bem posicionado, parecendo um disco pensado justamente nessa ordem, com canções que conseguem ter crescentes concorrendo bem com os momentos introspectivos. Nada que desentoe.
Mas acima da bela voz de Lucas e de seus convidados, o que está em evidência é a sua percussão. Os detalhes são perceptíveis facilmente, e esses arranjos só melhoram conforme a audição, pois não caem em vícios e se mantém simples e fáceis de digerir, como na canção “Necessidade”, que passa por momentos mais lentos e outros um pouco mais caribenhos e até dançantes.
Lucas conseguiu, após muitos anos de rock, mostrar que a música popular brasileira ainda é influenciada pela bossa-nova mas que não se resume a isso e muito menos a repetição que sentimos em alguns artistas, ele está se reinventando e possivelmente colocando a sua visão a frente de muitos. Lucas provavelmente terá um longo Serviço pela frente.
Nota: 9,0
Música Favorita: Kdq
Lindo o post. Mas o Lou Caldeira também foi um dos produtores, por favor não esqueçam dele. 🙂
beijos.
Editei e coloquei ele 🙂