Resenha: Antony and The Johnsons – The Crying Light (2009)
Artista: Antony and The Johnsons
Selo: Rough Trade
Lançamento: 19/01/2009
Myspace: www.myspace.com/antonyandthejohnsons
Rockometro: 8,2
Longe de qualquer semelhança de sons e emoções com algum álbum do amigo Rufus Wainwright ou de Andrew Bird, Antony Hegarty ainda reina no meio obscuro do sentimento musical. No próximo dia 19 será lançado The Crying Light, o novo álbum que já vazou na internet desde o ano passado e chegou ao ouvido do seu blog atento.
É sublime a emoção que a voz inconfundivel de Antony nos dá. Mesmo apostando num formato mais consumível ao ouvido mais leigo, não deixa de ter marcas da genialidade presente nas músicas e que fizeram todo o sucesso de crítica no álbum passado I Am a Bird Now. Em “Her eyes are underneath the ground”, balada de cortar os pulsos e avaçaladora para os corações desesperados, abre o cd. Na segunda faixa, “Epilepsy is dancing”, você escuta Antony repetir diversas vezes o mesmo verso num circulo hipnótico que te prende ao som. É de uma beleza inquietante. Já a seguinte, “One dove”, se mostra muito solitária e triste, remete a sons de paisagens onde você encontra, por exemplo uma árvore sozinha na estrada ou uma flor no asfalto. O piano e a orquestra, conduzida por Nico Muhly em todo o álbum, dá um tom mais sombrio a música, claro que a voz de Antony é o que realmente faz doer o coração.
Na próxima, a mais comestível “Kiss my name” nos leva a quase uma alto compreenção e animação do autor. A levada da bateria e a velocidade, maior que o comum, até surpreende, mas Antony não muda assim como quem não quer nada, a faixa tema do álbum “The crying light” completa a primeira metade do álbum com violões, um solitário violino e um simples piano. A música vai ganhando elementos simples como um back vocal, uma voz acompanhando e palmas com estalos de dedo. Interessante não? Termina, premeditadamente, com o violino solitário. Sim, é belo demais. “Another world” foi o nome do ep lançado por Antony no ano passado e que continha um prelúdio do que ouviríamos em The Crying Light. Essa faixa simples, com piano e voz tem um tom masoquista de tão solitária que é. Uma guitarra ao fundo sugere gritos e nos faz sentir que estamos dentro de uma caixa, de onde não podemos sair, somente sofrer.
Para “Daylight and the sun” se formou um cerco melancólico formado pelo piano de Antony, sua exuberante voz e a orquestra que ilustra essa belíssima faixa. Uma das mais formosas do álbum. O final é simples e duradouro, vale a pena ouvir até o último acorde. “Aeon” é a primeira da tríade de encerramento álbum. É quase um soul sem bateria e guitarra, praticamente a voz em um ritmo e a música em outro tema. Enquanto que “Dust and water” e “Everglade” terminam, de maneira triste e soberana o álbum. Não é difícil se emocionar com o que Nico Muhly fez em “Everglade”, é simplesmente o final perfeito para um álbum fabuloso.
O som que Antony produz já faz uma década de solidão e um lado soturno de todos nós. É isso que nos aproxima dele. Todos nós nos identificamos com a obra desse impressionante compositor pois temos um lado nosso que Antony exemplifica em forma de música. Nós sentimos o seu som dentro dos ouvidos e guardamos no coração. Não é um álbum que vá mudar o rumo dos melhores da década ou do século. Mas sim uma obra que muda o rumo de nossos pensamentos ao que se diz respeito a emoção. Essa sim, Antony domina com o coração.