Resenha: Amigo de Um Amigo Meu

Álbum: The First Days of Spring

Artista: Noah and The Whale

Lançamento: 08/09/09

Selo: Cherry Tree/ Interscope Records

Myspace: myspace.com/noahandthewhale

Rockometro: 8,5

– Toc toc.

– Quem bate?

– É o frio…

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Depois de um ano, um encontro casual. Daqueles sem espaço para falas, para gestos ou mesmo qualquer esboço de iniciativa. Melhor seria chamá-lo de tropeço ou desencontro: o suficiente para trazer tudo à tona novamente. Ainda mais quando a própria natureza não poupa seus esforços para ajudar criar “o” clima. A pirotecnia dos clarões dos relâmpagos acompanhada pela sinfonia de trovões é o contraponto ideal para o tilintar dos pingos da chuva; o que parecia apenas um barulho caótico se revela preciso depois de um tempo, quando o ouvido ganha sensibilidade. As imagens e os tempos começam a se misturar. O sono, sem avisar, te retira da órbita.

Como sequer tivesse dormido, você acorda. A chuva, agora fina, ainda recobre a cidade. Não há como desmentir. A resignação paira no ar da manhã, erma, embora já avançada. “Onde estão as pessoas?”, você se pergunta. Até o ponto de ônibus apenas um deserto de chuva. Ao adentrar o veículo, eis a surpresa: lá estão os corpos ausentes extraídos da paisagem cotidiana. Corpos em fuga. Por sorte restava um lugar ainda não ocupado junto à janela. Tão embaçada quanto seus próprios pensamentos. Mas a estrada ainda estava lá.

The First Days of Spring, segundo disco dos ingleses do Noah and The Whale, é o perfeito retrato musical da descrição acima, inspirada na singela história de um amigo de um amigo meu. Assim como no belíssimo For Emma, Forever Ago, trabalho de estréia do Bon Iver, também são as agruras do amor que dão a tônica a esta nova bolachinha do conjunto. Mas enquanto Justin Vernon se abrigava na ardorosa decomposição característica do inverno (Bon Iver significa “bom inverno”, em francês), a estação das canções do Noah and The Whale é precisamente o final do tempo da estiagem.

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Noah and The Whale – Blue Skies

As onze músicas que compõe o repertório de The First Days of Spring soam, na verdade, como uma enorme canção em onze movimentos. O que teria tudo para ser enfadonho, afinal, as estruturas melódicas obedecem a uma mesma fórmula – 90% de melancolia em progressões repetitivas de violões e/ou percussões permeadas por pequenas intervenções pontuais e minimalistas de pianos, violinos e xilofones + 10% esperança em seus respectivos desfechos épicos – resulta em algo nada mais nada menos do que sublime. Algo como se o Paul Banks (vocalista do Interpol) totalmente debilitado tivesse sido chamado para substituir os vocais de Stuart Murdoch nas músicas mais deprês da carreira do Belle and Sebastian, mas ainda assim, contrariando todas as probabilidades, conseguisse resgatar ao final de suas interpretações um átimo de vida.

***

– Minha porta está sempre aberta, mas eu não tenho nada. Talvez não seja o fim, só que não podemos continuar mais assim. Hoje somos quase desconhecidos. E os céus azuis estão chegando…