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Resenha: “Alexandre”, Mombojó

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Treze anos atrás acontecia o primeiro ensaio de um grupo de meninos, com uma média de 17 anos, no Estúdio Skill, em Recife. Hoje, mais seguros, maduros, e consequentemente mais velhos, os músicos da Mombojó comemoram o lançamento de Alexandre, seu quinto disco de estúdio, lançado pelo slap.

O novo trabalho faz referência ao início da carreira da banda, quando se reuniam no estúdio do Seu Damião. O nome, inclusive, é resultado de uma piada interna dos integrantes. A brincadeira surgiu por conta da sonoridade de uma voz do teclado do pai de Samuel Vieira, ex-baixista do grupo, que dizia “Are you sure?”. A frase soava como “Alexandre”, nome que seria dado ao debute dos recifenses. Porém, no fim, a banda acabou batizando o disco de 2004 de “Nadadenovo”.

Em Alexandre, o grupo retoma a atmosfera criativa de sua origem. Munidos da experiência adquirida com o tempo, os músicos hoje estão seguros para arriscar novos caminhos. Assim, a concepção partiu do experimentalismo, que foi levado ao extremo e tornou o disco uma compilação de sons, ambientes e influências distintas.

Sem fazer mistério, a Mombojó entrega essa nova estética logo na faixa de abertura, “Rebuliço”, criada inteiramente em estúdio. A música é um verdadeiro alvoroço, que mistura uma marcha de carnaval aos efeitos de um aplicativo de iPad, que emula sons de baterias eletrônicas.

Segunda faixa do disco, “Me Encantei Por Rosário” surge como uma representação política da banda, que utilizou uma recombinação de trechos do Movimento Direitos Urbanos, criado em 2012, em Recife. A música tem forte inspiração na banda Stereolab, influência mais do que declarada dos músicos. Laetitia Sadier, vocalista do grupo franco-britânico, participou inclusive da composição e dos vocais de “Summer Long”, outro destaque desse lançamento.

Outra presença feminina de peso está em “Diz o Leão”, faixa em que Felipe S divide os vocais com a cantora Céu, além do suporte do guitarrista Yuri Queiroga e do percussionista Pupilo. A canção alterna dois momentos muito distintos nos arranjos, que acompanham e ambientam a história contada na letra.

“Hortelã”, uma das músicas mais orgânicas de Alexandre, é também uma das mais lentas e calmas de todo o álbum. Tendo a dupla voz e violão como base, surge como um breve momento de introspecção e relaxamento, em meio ao universo frenético que a envolve.

“Dance” e “Cuidado, Perigo!” retomam a agitação do registro . A primeira, mixada por Buguinha Dub, traz um belo arranjo com intervenções de solos de guitarra.  Para a segunda, a banda convidou o instrumentista Dengue, da Nação Zumbi, para construir a linha baixo em uma seção ao vivo, acompanhado de guitarra e bateria. Na versão final, a faixa ganhou um surpreendente arranjo de cordas de Pedro Mibielli.

O disco encerra com a pegada pop de “Pro Sol”, canção com uma bela narrativa e um refrão marcante. No disco, ainda cabem vinhetas, como a simpática “Ping Pong Beat” e também a faixa-título, com locução de Phillip Vohringer, clown alemão e amigo dos tampos de escola da banda.

Assim é Alexandre. Por vezes excêntrico, por vezes nonsense e até mesmo rebelde e desconexo em alguns outros momentos. Esse é o personagem instável, inteligente e interessante criado pela Mombojó. Por meio de ideias visuais, em um processo que ignora regras e reinventa fórmulas, a banda apresenta aqui um trabalho curiosamente coeso e afiado.

Se eu tenho certeza? Claro que sim.

Nota: 8,5

Ouça o disco aqui

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