Resenha: A Nova Cara do Blues
Artista: The Black Keys
Lançamento: 18/05/2010
Selo: Nonesuch
Myspace: http://www.myspace.com/theblackkeys
Rockometro: 9
Prepare-se para o blues da nova década. Toda a irreverência do estilo que se baseava nas guitarras que tomavam vida própria com seus desabafos veio crescendo por entre os anos e chegou a um patamar onde guitarras elétricas dão o tom para efeitos eletrônicos, grandes arranjos que misturam riffs inteligentes encravados em percussões pulsantes, e às vezes até um pouco de psicodelia. O novo disco do The Black Keys conseguiu captar tudo isso muito bem, e é talvez o exemplo mais perfeito para essa nova fase do blues.
Era só uma questão de tempo até o ápice do blues-rock finalmente dar as caras. Quando o Cream decolou em 1967 com o épico Disraeli Gears, alguns adeptos do blues clássico fizeram cara feia quando viram as guitarras ácidas e o clima psicodélico ecoando no vinil. O que eles não sabiam, é que Disraeli Gears mais tarde se tornaria um divisor de águas e influenciaria uma geração interminante de bandas – e uma delas é o Black Keys; o Cream dos anos 00.
O disco tem várias fases, mas todas estão dentro do mesmo contexto. A incrível “Next Girl”, com sua guitarra cheia de efeitos ecoantes e psicodélicos dá o pontapé inicial para a excepcional sequência de músicas que vem logo a seguir: “Tighten Up”, primeiro single do disco, vem com um ritmo sedutor, guiado pelos riffs brilhantes de Dan Auerbach apoiados com perfeição pela bateria de Patrick Carney, que se misturam num final cheio de sintetizadores.
“Howlin’ For You” traz de um lado a guitarra de Dan mergulhada em efeitos, e do outro um sintetizador que acompanha a linha de baixo ao fundo. “She’s Long Gone”, uma das melhores, vai crescendo de forma impecável, até que nos vemos no meio de um jam cheio de efeitos eletrônicos bem colocados. A faixa seguinte, “Black Mud”, é uma viagem instrumental ao passado, onde se entrelaçam teclados sessentistas, arranjos de guitarra que parecem falar, e até efeitos que deixam a bateria mais abafada e sedosa.
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O clima muda um pouco mais pro final do disco. “The Go Getter” mostra um pouco disso: a melodia das guitarras se tornam mais suaves, e um sintetizador ácido que acompanha o ritmo se curva diante de Dan, que canta como um verdadeiro mestre. “These Days”, que fecha o disco, é uma das músicas mais lindas do ano. O ritmo calmo, quase sonolento, nos faz viajar em meio aos frágeis acordes de guitarra, e é o vocalista que novamente nos causa arrepios.
Brothers conseguiu retratar perfeitamente a nova era do blues, em todos seus aspectos. Se em Attack & Release (2008) eles estavam mais crus e mais barulhentos, aqui em Brothers eles estão mais técnicos, e mais atentos aos detalhes. E foi todo esse cuidado e toda a riqueza sonora que vemos neste álbum que dão à ele o título de melhor disco da carreira do Black Keys. Sem falar que qualquer álbum deles se encaixa facilmente no rótulo de “um dos melhores do ano”…