O tempo geralmente é usado no mundo da música de maneira muito específica. Não acharia melhor forma de começar a lançar os meus comentários no Rock in Press, sem envolver o tempo no meio disso tudo. Em primeiro lugar o tempo para que essa resenha saísse de uma vez por todas.
Se tudo tivesse acontecido da maneira estrategicamente pensada, o release do show ficaria pronto na mesma noite “cansada” da vinda dos noruegueses ao Rio. Mas como sempre os acontecimentos comigo respeitam indiscretamente Murphy, nada deu certo depois do show; Incluindo, lógico, a longa estadia do meu PC na manutenção técnica. Mesmo assim, os momentos que precederam essa maré de azar foram muito bem aproveitados ao som da boa música do A-ha e de seu “wave retrô” – que contarei para todo o pessoal da Rock in Press a partir de agora.
A quinta-feira do dia 26/03, na Barra da Tijuca, já era a arena dos fãs do A-ha. Eu cheguei às 14h30min, aos xingamentos dos meus amigos, que já estavam na fila desde as 10h (o meu evidente problema com atrasos). Todo mundo que já estava lá tinha uma história bacana pra contar sobre os agitos promovidos pelo A-ha: como acontecimentos dos últimos anos ou todas as apresentações realizadas no Brasil, o que virou sinônimo de status para os fãs mais antigos, que assumiram ter pulado com Morten Harket e seus shortinhos de ciclista durante o Rock in Rio II – evento comentado nostalgicamente centenas de vezes durante toda a espera para o início do show.
Aliás, um dos pontos principais dessa divertida tarde foi um comentário inesquecível dirigido a mim: “Nossa! Quantos anos você tem? Meu Deus, quando A-ha veio pela primeira vez ao Brasil você nem era nascido!”. Comentário despretensioso de Lili, consultora de moda em São Paulo, e uma das várias pessoas com quem eu puxava assunto por toda extensão da fila (como em todo show). Ela tinha acabado de chegar do show de São Paulo, que aconteceu um dia antes da apresentação da banda no Rio, e que “acidentalmente” esbarrou com Morten e companhia na ponte aérea – e viajou com eles para o Rio. Mal sabia ela que, assim como eu, muitos remanescentes nascidos nas abas do tão aclamado Rock in Rio II, estavam ali.
A fila tinha todo aquele clima old school e muita bebida para preparar todos nós a uma verdadeira viagem às nossas lembranças, sejam elas quais forem ou da época que forem. Já eram aproximadamente 18h40min, quando os seguranças começaram a encaminhar toda aquela gente, que já mostrava não agüentar mais esperar, para o portão principal. Acho que todos já podem imaginar a batalha épica pelo famoso espaço coladinho no palco, que muitos lutam, mas poucos conseguem, e que felizmente tive a oportunidade de alcançar e ficar a três metros da banda, mesmo com a casa lotada.
Eram por volta das 21h, quando ao som de uma corajosa introdução orquestrada estranhamente escandinava, entrou o trio – formado pelo tímido Paul Waaktaar-Savoy (guitarra), o simpático Magne Furuholmen (teclados) e o aclamado Morten Harket – que alias, é um vocalista que não hesita em jogar seu charme para as garotas que se acabavam em gritos crescentes, ignorando a presença de sua esposa e produtora do show, olhando bem ali de pertinho, e acompanhando tudo. Eles ainda foram acompanhados por um grupo de excelentes músicos que levaram todo o show muito bem, através de uma percurssão afinada e passagens eletrônicas muito boas e -vale frizar – sem usar o contra-baixo em nenhuma canção.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=-G1z1IMkT6w]Hunting High and Low
A apresentação do A-ha já estourava com a plateia logo nas primeiras canções: “The Blood That Moves the Body” , “I’ve Been Losing You” e a divertida “Cry Wolf”, foram finalizadas com o já clássico “Obrigado” bem estrangeiro. Daí pra frente todos se sentiam anestesiados com a onda de hits muito bem “vestidos” que passavam pelo palco, como “Shadow Side”, “Riding the Crest” e “Manhattan Skyline”, música na qual Morten sacou um megafone audacioso para cantar os versos “You know I don’t want to cry again/I don’t want to cry again/Don’t want to say goodbye …”.
Logo depois do delírio coletivo que o A-ha provocara, um presente para os fãs: Uma banda diferente daquele dos anos 80, bem mais acústico, mostra uma versão de “Hunting High and Low” só em teclado e violão, sendo seguida pela incrível sensação de ouvir a força das melodias de “Crying in the Rain” , “Train of Thought”, “Forever Not Yours”, “What There Is”, “Living Daylights” e a indescritível “Stay on These Roads”, que emocionou a todos, mostrando uma gigante estrada no telão do fundo do palco, que por sinal, é mais uma amostra de que o show tem uma produção fantástica.
Já no finalzinho de toda aquela mistura de sensações promovidas pelo A-ha, a banda começa a se despedir teatralmente dos fãs – que não acreditavam na cena e continuam à espera de “Take on Me”. Foi quando ressurgem os três (Magne com um capacete Viking, doado por um dos fãs), como de um descanso de milésimos de segundos, para tocar a inesperada “The Sun Always Shines on TV” e “Analogue”, que leva o nome do último álbum da banda. Por fim, A-ha levou novamente todos à loucura, fechando a noite com a eterna “Take on Me”, esgotando a voz de todos que estavam ali.
O A-ha mostrou com maestria nesse show, que para a música não existe tempo nem limite, desde de que seja tratada com sinceridade, criatividade e inovação. Parabéns para a banda, porque soube administrar o tempo da melhor forma.
por Wall Rocha
Achei sua resenha sobre o show bem legal. Como fã do A-ha, fui de Salvador para o Credicard Hall em São Paulo e valeu muito a pena.