Historicamente o repente é uma mistura entre poesia, música e improviso. O raciocínio rápido, a criatividade e os duelos lembram em muitos aspectos o rap contemporâneo. Com isso em mente, o cearense Francisco Igor Almeida do Santos incorporou essa rica tradição e criou a fusão entre o rap e a embolada.
Sob a alcunha de RAPadura Xique-Chico, o rapper apropria-se da embolada, do maracatu, do baião e das cantigas de roda em meio a letras contundentes que tratam da cultura nordestina, da seca e dos contrastes com o cenário urbano.
Em sua apresentação na Choperia do Sesc Pompéia, que aconteceu dentro do projeto Prata da Casa, RAPadura contou com a afiada banda Dona Zaíra e outras grandes participações. Entre os convidados, estavam Sombra e a cantora paraibana Socorro Lira.
O repertorio foi composto por faixas de sua FITAEMBOLADA do Engenho e por músicas como Hip Hop Criolo Tá Vivo, Partituras de Gravuras Mortas e Mímesis. Mesclando canções mais dançantes com momentos mais pesados, arranjos com banda e beats, o sagaz artista reforçou um estilo próprio e demonstrou uma grande diversidade de referências.
Outro fato evidenciado em muitos momentos do show foi o valor dado à cultura nordestina. Em músicas como “Norte e Nordeste Me Veste”, as rimas trazem mensagens como “Não vejo cabra da peste, só carioca e paulista, só freestyleiro em nordeste, não querem ser repentistas, rejeitam xilogravura, o cordel que é literatura, quem não tem cultura, jamais vai saber o que é RAPadura!”
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No final do show, o rapper mostrou que não honra a obra de Gonzagão apenas em samples. Ao lado de todos os músicos de sua banda, RAPadura voltou para o bis e apresentou uma surpreendente versão de “Pagode Russo”, um dos grandes sucessos do Rei do Baião.
Coincidentemente, na mesma noite em que o show acontecia no Sesc, uma matéria com o rapper era transmitida na Globo, no programa Profissão Repórter. A reportagem o acompanhou em um show para mais de 100 mil pessoas na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal, e seu embarque para sua segunda turnê na Europa.
Conquistando seu espaço entre os bons nomes que renovam o rap nacional, RAPadura surge como um artista único e mostra que seu som pode até ser doce, mas de mole não tem nada.
[…] No Rock In Press: “Outro fato evidenciado em muitos momentos do show foi o valor dado à cultura nordestina. Em músicas como “Norte e Nordeste Me Veste”, as rimas trazem mensagens como “Não vejo cabra da peste, só carioca e paulista, só freestyleiro em nordeste, não querem ser repentistas, rejeitam xilogravura, o cordel que é literatura, quem não tem cultura, jamais vai saber o que é RAPadura!” (continue lendo) […]