Texto: Marcos Xi
Fotos: Juliana Ribeiro
Mais Fotos: Facebook.com/RockinPress
O Rancore e o R.Sigma são bandas irmãs. Ambas sobem ao palco concentradas e sentindo a música correr por entre seus dedos, condensando a força e transformando-a em sentimento. Nesta quarta, o representante carioca e a representante paulista, se apresentaram no Espaço Sérgio Porto com a missão de passar a sua mensagem da maneira mais clara possível, deixando o público flutuar sobre as palavras e sentir a música pulsar.
A noite vinha com o nome do Rancore, pois era o lançamento oficial de Seiva, terceiro álbum de inéditas da banda, lançado recentemente pela Deck. Por isso, a banda resolveu desfilar o álbum na integra e em sua ordem original, encerrando a apresentação com 3 faixas de Liberta, álbum anterior. Teco já segura o microfone sorrindo, seguro de que bons momentos se esticarão durante o tempo que os amplificadores estiverem ligados.
O show empolga. Passa uma sensação bonita e uma eterna vontade de gritar, pular no palco e cantar junto com a banda. Todos os músicos dominam com maestria as músicas e seus arranjos, tornando uma banda bastante segura e inteligente, procurando sempre fugir da mesmice dos arranjos pops e transformando-os em novidades. Metade do Seiva poderia ser de singles. A outra metade nunca será compreendida por quem só escuta música como hobby, sem saber o que é sentimento.
Apesar dos arranjos serem executados da maneira exata como consta no álbum, algumas músicas se destacam, como “Transa” e outras perdem força como “Mulher” e principalmente “5:20”, que não combina com o clima e começa de maneira arrastada, estranhando o público. Alias, os fãs presentes não parecem ter ouvido o Seiva o bastante e permaneceram tímidos durante o show, inclusive na porrada “Escravo Espiritual”, Já nas faixas de Liberta a roda de pogo e os coros do público acabaram empolgando ainda mais o Teco, mantendo seu sorriso até o fim da última música.
Logo em seguida, o R.Sigma toma seu lugar. Todos estão com calças cortadas como shorts, sem camisa e com uma marca de mão vermelha no peito, na altura do coração. Esta marca só é feita pela vocalista Castello-Branco, que entra em palco só após o início do show, totalmente pilhado e com sua mão esquerda ainda suja de tinta, passando um pouco da cor vermelha para a bermuda desbotada. É como um ritual, uma passagem de sentimento ou uma forma de tocar um ao outro. Faz sentido com o que vemos no palco.
A banda é inquieta. Não deixa um arranjo antigo em versão normal, trabalhando nele cada vez mais e fazendo uma lapidação cada vez maior, trocando os ritmos, os solos e as passagens. Uma eterna renovação do mesmo repertório, que aos poucos vai dando espaço para canções além das presentes no álbum Reflita-Se e no EP Borboletas. Uma primeira amostra do novo trabalho entrou no repertório do show e mostrou já o interesse da banda em trabalhar em novas texturas de guitarra com repetidores sonoros. Interessante.
O show, além de ter sido aberto pelo Rancore, também foi o que arrastou mais público. A união dentro da banda surpreende, decidindo cada acorde, passagem ou jam com apenas olhares e intuição. A certa altura do show, Castello-Branco já participava do arranjo de bateria, desistindo quando conseguiu quebrar uma baqueta tocando chimbal. O público ainda ficou pedindo “Furacão”, último single da banda, mas não deu tempo, o horário já pedia o fim da apresentação.
Uma noite para gritar e presenciar. O peso e a velocidade, os não rótulos e força, não impedem o sentimento de imperar dentro de um mesmo recinto, de uma mesma música, ou em algumas palavras. Foi bem bonito.