Há 10 anos Andrea Agda e Daniel Arruda lançavam o disco “Yes, We Have Bananas” onde com a alcunha de Banana Scrait tocavam um punk-rock grudento e divertido. Hoje, depois de uma década de companheirismo e banda, eles chegam a uma sonoridade nova, cheia de calmarias, descontrações e charme.
Recheados por castanholas, trombone ukelele o disco tem produção de Régis Damasceno. Andrea Agda e Daniel Arruda explicam que “…nada é permanente, exceto a mudança” ao falarem de mudança que tiveram na última década e nos fazem entender o motivo do seu atual disco chamar “Voo”.
Conversamos rapidamente com o duo de Fortaleza para entender essa trajetória e conhecer um pouco mais do Banana Scrait. Confira:
RINP: Músicas sobre voar, caminhar, sobre o tempo… assuntos e desejos que podem ser identificados por qualquer pessoa, genéricos em sua maneira. Esses momentos são pessoais? Existem momentos mais pessoais no disco?
Daniel: Tudo é pessoal e autobiográfico. Cada nota, letra e imagem contam um pouco sobre nós. Se o que falamos é algo que as pessoas também sentem, é porque todos esses sentimentos, algumas vezes contraditórios, fazem parte da natureza humana: amor, solidão, angústia e alegria fazem parte das nossas vidas.
Andrea: “Quase sempre passa” por exemplo é uma letra que fala sobre morte, sobre a angústia de perder alguém que você ama, mas não dá pra perceber isso de cara. No entanto, ao fim ela também traz um pouco de esperança. o que eu mais gosto é o jeito simples de falar de algo profundo, é como aquele sorriso leve, otimista, que aparece quando estamos com os olhos cheios de lágrimas e sentimos algum conforto.
Nunca vou me esquecer quando Johan Van Lenghen falou pra mim de o quanto se identificou com essa letra pouco tempo depois de perder sua esposa Rose. Além das minhas memórias e sentimentos sempre lembro deles quando canto essa música.
RINP: O primeiro disco de vocês “Yes, We Have bananas” não tem muito a ver com o “Voo”. Lá atrás vocês pareciam mais ligados ao hardcore e punk melody (lembram muito a banda americana Helen Love) qual o tempo de diferença de um trabalho para o outro e porque tal mudança?
Daniel: O tempo foi longo, mais de dez anos entre os dois discos! No meio teve um EP, Tecnotopia. Acredito que nada é permanente, exceto a mudança… na real eu iniciei na música antes dos oito, estudando piano clássico. Aos dezoito fui estudar saxofone no conservatório. Depois fui tocar baixo no Banana Scrait. Agora, estudo clarinete… então eu estou sempre mudando.
Andrea: O porquê é porque a gente muda mesmo. Na verdade acho que pra mim o estranho seria se a gente fizesse o mesmo som de quinze anos atrás. Nós gostamos muito de música e somos muito abertos. Gostamos de jazz, de música clássica, de música popular brasileira, de eletrônica e de rock. Seria impossível ser diferente. Não é uma escolha, é o que somos!
RINP: Do rock sujo para uma música pop com ukelele, é mais difícil ser rock’n’roll no cenário brasileiro?
Daniel: Vou te dizer que difícil mesmo era fazer rock em Fortaleza no início da década de noventa. E ainda mais cantando em inglês, com a Andrea Agda, uma guitarrista mulher, sendo bandleader.
Andrea: Acho que hoje é bem mais fácil ser rock’n’roll no cenário brasileiro. Ninguém precisa mais ficar copiando fitas cassete e colocando no correio pra divulgar a sua banda. Ter um estilo bem definido também ajuda a colocar o disco na prateleira certa. E isso nós não temos. Nós nunca procuramos fazer o mais fácil… gostamos dos desafios que se impõem e fazem parte da vida e não temos outra opção além de ser verdadeiros e mostrar isso na nossa música sem a preocupação de se manter dentro de um determinado estilo, mesmo que seja difícil colocar o nosso disco na prateleira certa.