O Português e o Plural no Brasil; Vinicius Castro – Jogo de Palavras
Artista: Vinicius Castro
Lançamento: 25/11/2010
Selo: Independente
Ouça: viniciuscastro.com.br
Rockometro: 8
Vinicius Castro é um jovem cantor de ritmos plurais que atualmente se reserva no Rio, mas é nascido em Recife e já rodou o país absorvendo novas culturas e estilos – que de algum jeito foram despejados em sua música verde e amarela. Jogo de Palavras é um trabalho totalmente autoral, com foco nas letras e destaque nos arranjos.
Vinicius decidiu organizar as palavras com a gramática em baixo do braço, pontuando as frases com fáceis rimas cantáveis e trabalhando o recheio com letras que o transformam em um professor de português. As melodias são formadas por intrincadas montagens melódicas criadas pelo próprio jovem músico, transformando Vinicius num incrível e versátil compositor e arranjador, que transita facilmente entre o blues, a MPB e o ritmo que sua voz achar mais relevante.
A variedade de estilos realmente chama a atenção e cada música parece ser tirada de uma época, de uma pessoa diferente. A começar pela faixa de abertura, “A Sentença”: um legítimo tango argentino – com sua bateria rufada, acordeom e piano – e uma incrível letra-aula de português, numa jogada ao mesmo tempo irônica e desafiadora. Uma forma diferente e gramaticamente bem explicada sobre um fim de relacionamento.
Vinicius passa ainda mais segurança cantando com sua veia nordestina com “Carcaça”, com seus ensinamentos pop em “Pecado Original” e na sentimental “Sangramento”, que encerra o disco. Destaques para o legítimo MPB de “Cara Metade”, a cantiga infantil “Dos Pés a Cabeça” e no estonteante samba irônico “Bala Perdida” – que tem outra das letras mais incríveis que você possa ouvir na nova leva da MPB brasileira. O disco ainda guarda excelentes momentos com “Blues da Solidão”, “Marca” e no dueto-briga de “Casa ao Revés”, que tem participação de Luiza Sales, Ana Luiza e Clara Rescala.
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“Blues da Solidão”
Em alguns momentos, você começa a imaginar como outros cantores poderiam inserir as canções de Vinicius em seu repertório. Em Jogo de Palavras, a versatilidade predominante abre caminho para que desde Dominguinhos até Vanessa da Matta poderem re-interpretar uma canção do rapaz. Talvez isso se dê ao fato da voz nasal de Vinicius Castro, que dificulta um pouco a audição do disco. O fato de ter colocado de “A Sentença” para abrir o disco (faixa que tem a voz nasal mais aparente) também implica numa re-audição do álbum para se acostumar e realmente prestar atenção nos detalhes de arranjo e letra do álbum.
Assim que ouvi este petardo pela primeira vez, instintivamente acreditei que sobra qualidade nas letras de Vinicius Castro e falte um pouco de real sentimento e entrega às canções do jovem compositor. Um dia, ao questioná-lo sobre isso, fui surpreendido pela seguinte resposta: “Você pode gostar mais de algo que seja mais caído pra emoção e eu curto o que é mais racional. Afinal, Jogo de Palavras e não Jogo de emoções!”. E lá se foi o meu argumento…