Texto: Marcos Xi
Fotos: Letícia Aido
Devo admitir: Nunca havia ido a um show da Nação Zumbi. Pior: não tinha nenhum cd da banda, nem mesmo baixado, e acreditava nem saber quais músicas eles cantam. O que me moveu até aquele Circo Voador foi a convicção possessiva que as outras pessoas se referiam sobre a banda. Era algo como uma devoção absurda, que me passou a segurança suficiente para encarar exatamente o que eu não conhecia, ou achava que não conhecia.
No primeiro toque do tambor do Gilmar Bola 8 já tinha gente que sabia a música que eles abririam o show, quando Lúcio Maia mostrou os acordes, em companhia do mestre Pupillo, eu já estava pulando. O Circo todo parecia uma orda de pernambucanos felizes que estavam disfarçados de cariocas o tempo todo e automaticamente aprenderam o sotaque nordestino e compartilharam histórias de vida.
Dengue passeava seu groove numa altura que saturava nos falantes. Prestando atenção naquelas linhas marcantes percebi que poderia compartilhar daquelas letras, que alguma coisa dali já tinha me passado pelos ouvidos através da MTV ou por outros artistas em suas versões. Lembrei que havia alguns anos que não via um clipe incrível que terminava com uma mão fechada – “Hoje, Amanhã e Depois”. Eu sabia cantá-la, sabia bem como era aquela batida e lembrei que em algum carro de amigo eu já tinha ficado intrigado com aquelas quebra de tempo de “Fome de Tudo”.
Foi quando alguém me puxou para aquela roda louca na frente do palco, acho que em “Jornal da Morte”. Era um grupo de desconhecidos compartilhando sua felicidade de dividir mais um show de uma banda que tem diversos cds de cabeceira. Até as novas canções estavam agradando o público, que ainda tímido, não sabia cantar, mas fez a festa continuar com a mesma força sempre. Todos ali, desde a Nação Zumbi até o público estavam em casa, querendo ou não.
Tudo estava fazendo sentido. Um sentido que eu já conhecia e havia se perdido na história de uma mente que, na época, não soube reconhecer a importância daquela banda. Já me senti entregue e dominado logo no início do show e sabia muito bem, até pelo extenso setlist, que havia muito tempo para conhecer a história e aprender a cantar aqueles hinos todos que a casa lotada já sabia há anos – décadas, na verdade. Foram duas horas de show e aprendizado. Não há muita produção ou encenação. Não há cenário, não há firulagem a toa. É uma banda que não precisa de exageros para empolgar, para causar comoção.
Eu fiz os metais com a boca na hora de “Trincheira da Fuloresta”, cantei com gosto o “Maracatu Atômico” e pedi o bis, duas vezes. Quando B-Negão invadiu o palco para cantar “Da Lama ao Caos” eu vibrei, bati no peito como um fã verdadeiro. Lá no fim, ainda veio “Manguetown”, para o delírio mútuo do público. Tantos artistas já tocaram essa música em seus shows e tantas vezes eu cantei com força, por que agora seria diferente? Eu já estava me sentindo mais um dos enfeitiçado por aquelas músicas atemporais.
Depois de dois bis, duas horas de shows e muitos litros de suor e calorias perdidos, encerrei meu primeiro show da banda líder da última revolução musical no país. Saí de lá não só com o DVD Ao Vivo no Recife nas mãos e com a reclamação pessoal de que faltou “Samba Makossa”, mas também com uma nova história presa no meu pescoço. Uma nova crença de que música boa passa o tempo e não morre, somente conquista novos e novos fãs.
Excelente post e análise…Só tem 2 detalhes que não estão corretos…O Primeiro é a data que foi no dia 31/03/2012 e a música cantada junto com o BNegão foi Da Lama ao Caos! Mas parabéns aos comentários.
opa, corrigido!
Ótimo!!!
Eu vim com a Nação Zumbi!