Eu acho graça nas entrevistas do Wado. Não que a polêmica já não gire em torno de suas declarações há anos, sempre extremistas e ditas totalmente de forma direta e algumas até bem verdadeiras realistas, mas mais pelo foco dele em explicar o porque ele não é um grande artista de massa – porque claro, na concepção dele ele deveria ser. Ele está mais do que certo em buscar isso e muito errado na forma que faz.
A grande fala atual vem de uma entrevista de setembro de 2013 feita por Anderson Oliveira, do Passagem de Som, onde Wado exclama sem medo: “O Brasil possui inúmeros grandes artistas, mas infelizmente as pessoas não os conhecem. Artistas como eu, Curumin e Lucas Santtana não somos conhecidos do grande público, principalmente se compararmos aos nomes em ascensão durante a década de 90. (…) acredito que o Brasil seja gradual demais para que algum artista possa despontar de uma forma tão intensa, de certa forma estão subestimando a capacidade público ao acreditar que ele não pode consumir algo melhor do que aquilo que está sendo imposto nos grandes canais. Acredito que com a ascensão das classes D e E o nível da canção brasileira caiu consideravelmente e isso tem que se retomar, nós perdemos os talheres e estamos comendo com as mãos novamente, precisamos mudar isso.”
Se ainda desconfia do teor, ouça a naturalidade da resposta do música em áudio gravado durante a tal entrevista e cedida gentilmente pelo próprio Anderson:
Ora, veja só! Não é o próprio Wado que está subestimando o mercado brasileiro? A pergunta é: Será que o público quer ouvir Wado, Curumin e Lucas Santtana? Basta só colocar na Globo e nas rádios, os veículos da massa, que resolve? Basta só fechar um contrato com gravadora para o estrelato? Acho que se fosse fácil assim as bandas e artistas ‘de canção’ que tocaram no programa da Fátima Bernades, no Altas Horas, no Som Brasil, Malhação, novela das 19h já estariam muito bem encaminhadas, não Wado? E olha que teve gente que passeou por mais de um desses programas.
Está clara a falta de entendimento do mercado pelo músico. Como já é sabido, com a eclosão da internet nas casas dos brasileiros no início dos anos 2000, depois dos artistas 90 que o músico cita, as gravadoras tiveram que se reestruturar, passando a investir apenas no garantido de venda e deixando de lado novidades. Por conta disso, o público passou a estar desacostumado a ouvir coisas novas, acomodou-se com a urgência de novidades e vive atualmente dentro da moda Sertanejo Universitário, assim como já viveu do rock, do pagode, da MPB, da bossa nova, do axé e de outros gêneros.
Quem movimenta o mercado musical no Brasil (e em qualquer parte do mundo) não são as mídias e sim as gravadoras que distribuem pelos meios de comunicação e eventos seus produtos e que criam estilos, nomes e tendências musicais com grandes investimentos. Quando se é artista independente ou sem ‘costas quentes’ o que resta é buscar se equiparar através de estratégias e gerar seu público num trabalho árduo, mas necessário e que hoje só existe com esta força, qualidade e variedade, por conta da abertura da internet. Ou saberíamos quem é Wado sem nossos computadores?
Ou seja, se a música não toca na rádio, não é porque o nível da canção caiu e sim porque a atual conjuntura do mercado musical brasileiro não permite e, na maior virada da mesa, a culpa está longe da classe D e E e sim justamente de quem mais tem dinheiro, a classe A e B que, provavelmente, Wado pertence. Cá entre nós: quem vai investir em algo que não está na moda se é fácil ganhar em outro lado e em quantidades bem maiores? Quem cuida da cultura é o governo. Quem trabalha com dinheiro são as mídias e gravadoras. Não há erro nisso, são negócios.
Em outubro deste ano, participei de uma mesa em Belo Horizonte com Agostinho de Rezende Campos, Presidente da Associação Mineira de Rádio e Televisão e dono de uma infinidade de meios de comunicação em toda Minas Gerais. Entre as constatações dele, que nem conhecia muitas das bandas presentes, fica claro e fácil de enumerar os motivos possíveis para um artista independente não ter destaque em meios de massa:
1) O artista é desconhecido. Não é porque a música é boa ou acessível que tem que tocar em rádio ou tv. Fazer o nome além do underground é necessário.
2) Porque o artista não distribuiu sua música para a incrível infinidade de rádios existentes. Gravadoras fazem isso e existem serviços pagos que custam 500 reais e distribuem para 500 rádios. Se não conhecer produtores de TV ou programadores de rádio, um assessor ou um produtor podem ajudar. Existem até programas regionais dentro das assossiações de rádio para ajudar a divulgar e distribuir música e funcionam gratuitamente.
3) A direção artística. As rádios mais populares e de massa tocam música de massa, como pagode, axé e sertanejo. Não há motivos para entre Chiclete Com Banana e Os Travessos tocar Thiago Pethit ou Cadú Tenório, por exemplo.
4) Por conta do jabá que força alguns outros artistas a terem mais visibilidade, o que não quer dizer que o independente não possa pagar o jabá. Vale lembrar que jabá não é só dinheiro. Camisas, CDs, ingressos para festivais, brindes com nomes das bandas distribuídos em rádios para funcionários e sorteio são uma forma velada de jabá.
5) Porque o público não quer ouvir o seu som, já que ninguém é obrigado a gostar de um estilo musical, pedir e transformar em ídolo.
Onde a classe D e E entram nessa história? Em lugar nenhum. Não são obrigados a apreciar música e não são críticos para saber se há 3 ou 30 acordes em tal canção, se há aprofundamento da letra ou se os refrões são apenas interjeições ou palavras repetidas. O público, a massa, ouve música para se divertir, para se distrair e a qualidade pouco importa para eles. São puramente consumidores, assim como a A e B, que cada vez mais compartilha dos gostos das classes mais baixas. No Norte e Nordeste, os artistas gravam seus shows na mesa de som, copiam sem um mínimo tratamento e vão divulgar correndo nas banquinhas. Para a massa a qualidade é o de menos e sua ascessão financeira significa mais consumo e mais vida para o mercado cultural em geral, o mesmo que o próprio Wado e todos os artistas de seu nicho participam.
Apesar de se proclamar grande artista, é difícil definir o que é um. Como despontar? Complicado, depende de muita coisa que vai muito além da música que sai do violão. Saber definir se o nível da canção caiu? Na verdade isto é uma opinião pessoal que é difícil de explicar e apontar embasamento sem parecer que está olhando, na verdade, apenas para o próprio umbigo, para o próprio gosto e o que faz.
É óbvio que ninguém quer viver apenas do mercado médio, apesar de ser possível – e esse é o real tamanho dele, não o grande como ele apontou. O que um artista precisa é muito mais que dar entrevistas polêmicas e gerar ódio dentro de um nicho que ele frequenta e o único que faz parte. Buscar formas de sair, de abrir caminho e usar a inteligência e dinheiro em favor da música pode sim gerar resultados na carreira. Se o Wado é tão bom assim quanto se julga e ainda não fez sucesso dentro dos parâmetros que ele determinou como bom nível da canção brasileira então alguma coisa está errada e pode ser justamente com ele, com sua música e a forma que ele gere sua carreira, e não o público ou outros artistas.
apoiado
Alguns momentos pensei nessa coisa, o público molda o perfil das rádios ou as rádios ditam o que o público tem que ouvir. Vejo que as rádios realmente exerce forte pressão. E além disso, colocar a culpa de algo tão complexo apenas nas mãos das classes C e D, da qual inclusive faço parte, é uma observação superficial demais. Na verdade, o Wado tem que agradecer o fato das novas possibilidades vindas com a internet, em fazer com que eu aqui em Santo Amaro, recôncavo da Bahia, o possa conhecer.
[…] cara, ao som dessa fabulosa trilogia, lembrei-me do texto de Marcos Xi, onde ele alerta que Wado não parece muito ligado em como funciona o mercado musical hoje, onde as […]
O chá de alecrim, com chapéu de couro e catuaba ou o xarope natural preparado com mel, guaraná e ginseng são alguns exemplos de remédios caseiros que podem ser usados para ajudar em casos de impotência sexual masculina.