Marcos Xi: Sua banda colocaria a moral em jogo por 5 minutos na TV?
O que os críticos do novo programa musical da Globo não notaram até hoje é o bom e real serviço que ele presta. O Superstar está revelando com velocidade bandas sem direcionamento e por vezes personalidade, correndo desesperadamente atrás de mídia e sendo rejeitados ou banalizados ao vivo por julgadores inexperientes.
O erro já está dentro da proposta inicial de um programa que busca bandas promissoras mostrando trabalhos cover sugestionados pela produção, julgados por um público médio desacostumado com novidades e por ‘padrinhos’ que desconhecem as próprias atrações e por vezes estilos musicais. Em contrapartida, bandas com alguma estrada e renome colocam sua moral em jogo num game de regras que mudam semanalmente e com um aplicativo instável, apenas para alcançarem 5 minutos na televisão em horário crítico, brigando com um histórico Silvio Santos, e na maioria das vezes sem nem mostrar seu trabalho autoral, seguindo a risca ordem da produção.
O fato da produção pré-determinar a canção que o artista toca, em detrimento de músicas próprias em maioria e tendo o nome dos artistas pouco mostrado já anula grande parte da divulgação da banda, mostrando erradamente quem são e o que tocam. Além disso, o instrumental não é tocado ao vivo, como se tem a impressão e na verdade é gravado previamente, evitando elucidar a segurança, qualidade e técnica dos músicos participantes, outro ponto determinante que o programa mascara.
O que está sendo elegido ali não é um artista promissor e sim quem toca a música mais famosa e que agrade mais o público não antenado. O público votante é exatamente o mesmo público que não ouve um disco completo e se preocupa apenas em escutar o que está na moda. Com os artistas mostrando covers, evita-se que o público de massa tenha acesso a novidades e assim perde-se o que seria a grande inventividade do programa, que seria revelar grandes bandas e compositores.
Enquanto isso, ouvimos discursos inocentes dos jurados que apontam ‘desconhecer certo estilo de música’ (Ivete) ou ‘que os artistas tem mais que botar a cara’ (Dinho), sendo que este formato explicita na verdade a rivalidade entre os participantes e acima de tudo a desmoralização de nomes já reconhecidos no cenário independente, como por exemplo as bandas Lapada, Tipo Uísque, CW7, Medulla, Chaparall e Fake Number. Ou, você produtor de casa de shows, não irá duvidar se estes artistas realmente tem público e fãs para fechar um show após ver o fracasso deles ao vivo contra bandas bem menores?
A sequencia do formato do programa é ainda mais dramática: Batalhas pela aprovação do público e crítica só empurram as bandas a tocarem mais versões covers, forçando ao programa criar um monstro: o ganhador será quem agradar mais o público, mas não pelo talento e carisma e sim por conta das canções não autorais que tocam. O que está sendo criado ao vivo é mais uma banda de gravadora, movida a interesses e que não mostrará seu real potencial. Está aí a bola de neve e a retrógrada proposta musical na televisão atual, colocando em jogo o formato “2.0” do programa e sua questão dita ‘antenada’.
O mais interessante é que as próprias mídias que estão fazendo matérias sobre o programa fazem questão de se focar no formato, nos jurados, nos apresentadores e evitam citar o nome dos artistas presentes no programa, quando não fazem uma matéria ao nível “Banda indie eliminada no “SuperStar” diz que Ivete “deveria pesquisar mais””, que convenhamos, denigre ainda mais a moral do artista que já está em cheque. De brinde, a mãe de uma vocalista ganha um selinho de Fábio Jr. e é mais comentada que a própria banda participante nas mídias.
O grande prêmio é uma assinatura de contrato com o selo Som Livre (alguém conhecem as regras do contrato? Envolve a contratação de booker, gravação de discos, marketing, assessoria, clipe, distribuição e outras coisas?) e mais 500 mil reais que, provavelmente, deverão ser gastos com a própria banda. Vale lembrar que a Tipo Uísque, já assinada com a Som Livre (no caso com a divisão Som Livre Apresenta), nem foi aprovada na primeira fase e, como já pode ser visto, não teve grande apoio da gravadora para a divulgação de suas músicas.
Acima de tudo, antes de aceitar um convite da TV, é sempre justo entender qual serviço o programa vai prestar para a carreira e como é possível se amostrar dentro dele. Com diversos produtores de conteúdo diferentes dentro da Globo ou qualquer outro canal, um simples ‘não’ não fará tanta diferença se seu bom assessor conseguir um Encontro Com Fátima Bernades, um Esquenta, um Som Brasil ou uma trilha noveleira, pontos que cada vez mais artistas novos e independentes tem alcançado e tido destaque. Afinal, do que adianta aparecer em um programa e não poder ou saber converter isso em seu público, além de não ser você mesmo?
Certa é a Globo que nunca teve compromisso em mostrar novidades e qualidade em seus reality shows musicais e visa apenas a audiência e o lucro. Errados são os artistas que se dispõem a se apresentarem em um programa que não valoriza e nem se preocupa com a banda. Alias, alguém sabe como anda o último ganhador do The Voice Brasil?