Marcos Xi: O mercado dos SESCs e o mercado da polêmica velha
Sei que é difícil um jornalista entender de mercado, ou melhor, do funcionamento e criação de renda para um artista, mas ao ler uma frase do André Forastieri em uma entrevista sobre seu novo livro, lembrei que grande parte da antiga gama de jornalistas musicais usa da polêmica, do exagero, para ganhar audiência e manter seu nome em voga.
A referida frase é clara, direta e embalsamada de diversos significados: “Se o Sesc fechar amanhã, essa cena inteira acaba e todo mundo vai ter que arrumar emprego, o que vai ser difícil. Adoraria ver essa cena.”. Essa é só um fio dentro de um livro que conta assuntos já debandados e saturados, como ‘a morte do rock’, ‘a pirataria pela internet’ e ‘morte da indústria’. Em meio a tantos assuntos e opiniões facilmente confrontáveis, prefiro me abster, esperar uma boa e recomendada leitura do livro e focar no tema principal deste texto.
Em uma frase, o crítica subjulga o artista e o ouvinte, determina sua limitação mercadológica e física, ao mesmo tempo que trata o leitor como um depósito de ficção e decepção. Dos referidos na frase (Jeneci, Froes e Emicida), é interessante pensar que para cada um sustentar uma banda, assessoria, gravação, clipes e outras coisas precisariam de pelo menos 5 shows por SESCs por mês, isso levando em conta o cachê máximo oferecido pela instituição: 6 mil reais.
Dentro da conjuntura do mercado atual independente brasileiro, SESC é um local que oferece cachês entre regular e baixo (nunca poderá ser dito como ‘alto’) e usado quando possível pelos artistas porque oferece estrutura, ingressos baratos e uma rede de casas em pontos estratégicos do país. Ou seja, o Sesc é apenas um ponto dentro de uma longa estadia de trabalho dentro do esquema do artista.
Emicida tem seu próprio selo e tem aparecido cada vez mais em jogos de vídeo game, tvs abertas e grandes eventos. Jeneci tem gravadora e produtora que apoia em suas turnês, trilhas emplacadas em filmes e novelas, além de se apresentar como músico contratado quando convém. Tulipa Ruiz tem até linha de cadernos próprios assinados na Livraria Cultura e pela marca Cícero. E os exemplos são inúmeros.
O problema é entender porque de vender conteúdo dito intelectual usando mentiras, polêmicas e desconhecimento mercadológico. O mercado para estes músicos e de qualquer artista que se prese não se impõe apenas dentro de São Paulo, do SESC e da Augusta. Será que é motivo de orgulho de um jornalista antigo não se atualizar dentro do mercado brasileiro?
PS. Quem quiser ler a entrevista e todas as mortes que Forastieri amou cravar, clique aqui.
Outras citações mágicas:
“Tudo que veio depois do grunge [nos anos 90] é revival. O que existe é um remix infinito da iconografia, da simbologia, dos acordes do que já passou” – como se o próprio grunge não tivesse nascido através do revival do punk e do metal, dando sequencia a cena garage-alternativa oitentista.
“A partir do momento em que não se ganha dinheiro, por que se vai querer tocar? Então hoje, quando alguém pega numa guitarra, é para homenagear o passado.” Porque hoje, não se ganha dinheiro com a música, claro.
“Hoje o artista fica o dia inteiro tirando selfies e colocando no Instagram. Imagina o Jim Morrison fazendo isso? Ninguém iria achá-lo o grande deus se houvesse essa facilidade.” Lembrando que Morrison era uns dos que mais se auto veneravam e fazia questão de mostrar isso, parte do que foi adaptado e facilitado se mostrado através do Instagram, ganhando velocidade. Tanto ele, quanto quem faz ‘selfie’, quer se mostrar e é bem isso o que um artista deve fazer.