Marcos Xi: Como a internet destroi e reconstroi carreiras tão rápido
A internet, hoje em dia, é definitivamente uma faca de dois gumes para o artista. Cria e destrói carreiras com a mesma velocidade que se baixa um álbum completo no The Pirate Bay ou no New Álbum Releases. No Brasil, ações que envolvem a internet tendem a ser ainda mais drásticas. Em uma nação onde a internet é informalmente a primeira via de notícias dos jornalistas para criar pautas principalmente de cultura e uma postagem aleatória numa rede social sem qualquer estudo ou apuração já é dada como verdade, sofrem os artistas que não sabem se portar ou se relacionar com o extremismo crítico e pouco cético dos usuários.
Com uma simples ação da produção, Avril Lavigne ganhou repúdio até dos fãs e o que seria uma boa turnê de divulgação num país que ainda guarda admiradores da cantora e paga bem pelos shows acabou virando um circo de piadas que cobriu até a mídia internacional e alguns dos sites mais acessados do mundo, como o Buzzfeed e o 9Gag. Hoje, Avril Lavigne é uma piada criada de um dia para o outro por conta da internet. E eu não preciso explicar o porque, você viu o que aconteceu.
Já no fim do ano passado, Justin Bieber virou de cabeça para baixo a mídia e os fãs, perdendo muito do apoio que tinha após pixar muro, ir a termas, ser desagradável no meet & greet, sair antes do fim do show em SP e dormir e ser fotografado com uma ‘groupie’, isso ao que veio a conhecimento do público. Engraçado que, muitas vezes, essas polêmicas vieram primeiro pela ação dos próprios fãs na internet criticando o ídolo para depois virar manchete. Bieber, que fez sucesso através do Myspace, agora é tratado apenas como garotinho mimado e rebelde pela mídia, desaparecendo dela nos últimos meses e, aparentemente, desaprendendo a lidar com a rede mundial de computadores.
É interessante analisar que todas as ações citadas não foram arquitetadas pelos artistas para criar algum buzz em seu nome e geraram uma repulsa da mídia e fãs, além de todas terem ocorrido no Brasil. Enquanto isso, Miley Cyrus e Rihanna causam em pontos isolados da mídia, atraindo os holofotes propositalmente para se manter sob as luzes da crítica e da internet – uma jogada que outros como Beyoncé, Jay-Z e Justin Timberlake não precisam se sujeitar.
Para outros, a internet vem do acaso e, sabendo usar, acabam transformando o mal para o bem. Um aposentado cantor, desiludido pelo sucesso pontual na década de oitenta vira meme na internet mundial e retorna aos palcos em uma turnê de ingressos esgotados: Rick Astley, o Rickroll, seguiu a risca a superexposição acidental que seu nome ganhou e se lançou novamente ao mercado, chegando a tocar no Brasil com pompa. A nossa representante brasileira do estilo, Katia, do famoso “Não está sendo fácil”, aos poucos volta aos palcos e aproveita um pouco do gosto do sucesso novamente, justamente por um descontrolado meme de internet.
Porém, memes são, acima de tudo, como cantores one hit wonder: passageiros. Estratégias bem tramadas já reviveram grandes nomes da música brasileira enterrados pelo tempo. Tom Zé, após um período sem reconhecimento e trancafiado, convidou baluartes da nova geração como Rodrigo Amarante, Emicida e Mallu Magalhães para participarem de seu então disco inédito. O músico criou uma plataforma de vendas online, ficou independente, alinhou assessoria com o foco mais jovem e em pouco tempo já era capa da Rolling Stone e voltava a ser valioso para a música, rejuvenescendo suas canções e criando um novo público.
Zé ainda mantém escritos por ele mesmo suas redes sociais e lança músicas exclusivamente na internet, aproveitando atualidades como a vinda do Papa no Brasil ou a polêmica propaganda da Coca Cola que narrou, transformando as críticas em um EP inédito, novamente lançamento somente para a internet e que, com o sucesso, ganhou versão física mais tarde. Em suma, ações simples que corresponderam a um novo fôlego na carreira a curto e longo prazo.
Semelhante ao caso de Guilherme Arantes que, durante 7 anos sumiu da cena e, quase que do nada, encontrou novidades da música e prontamente os convidou para gravar em seu álbum, ao mesmo tempo valorizando as novas vozes e trazendo o público deles e também se posicionando como pai e influenciador de toda uma geração de músicos, resultando no sucesso da sua reimersão de carreira dentro do mercado independente, livre de pressões de gravadoras.
Seria bonito ver artistas como Bebeto, Belchior, Edu Lobo e vários outros se reposicionando junto a nova geração e relançando carreira de forma independente, se atentando ao novo mercado e a possibilidade de liberdade e ganhos diretos comparado com os contratos atuais oferecidos. Um nome experiente, uma boa estratégia e uma olhada nos blogs pode converter uma carreira a novos anos de vida. E nem é tão difícil assim começar de novo.