Marcos Xi: Blogs são desnecessários no mercado musical brasileiro

Ontem o RockinPress recebeu mais um elogio superlativo vindo de um outro blog menor (que não é nem melhor nem pior que os outros). Também fui cobrado de participação maior no site por uma leitora e no final de semana por jornalistas dos três maiores impressos do país, além de ensaiar a tempos uma nova reformulação no formato da página bege junto ao meu grande amigo Eduardo Araújo. Isso tudo me fez lembrar das entrevistas de TCC que respondi este ano, quatro para ser mais exato, e todas envolvendo cultura independente na internet.

Domingo, numa sala VIP num museu em Salvador, entreguei uma bolsa escrita ‘Alegria Alegria’ para um jornalista. Frase que Mallu Magalhães falou para mim no dia 22 de novembro de 2008, um dia antes do lançamento oficial deste blog, com uma entrevista com a artista citada no mesmo dia que seu namoro polêmico com Marcelo Camelo foi noticiado e oficializado.

A função de um blog independente de música atualmente é ser um funil de informações de um nicho musical que o leitor e o autor se identificam, mostrando um conteúdo diferente dos formatos engessados de portais e grandes meios, tornando as coisas mais impessoais tanto para o leitor quanto para o artista. A verdade é que blog musical não tem mercado e nem audiência como um de moda ou de humor, por exemplo. E isso é claro, já que o mercado musical está em transformações e não há margem para riscos, muito menos investimento em meios de alcance e nicho limitadíssimo.

Blog musical é uma plataforma que afunila certo conteúdo para uma parcela de público minúscula e em pouquíssimos casos para meios maiores (sempre sem créditos, servindo apenas como referencia velada), tendo um número ínfimo de leitores comparados com a massa real de ouvintes de tal estilo ou concorrentes de grandes veículos. Em si, são um ponto para um público específico, minúsculo, tornando os blogs quase que desnecessários dentro da cadeia musical brasileira. Blogs de música são, no Brasil, apenas portfólio para jornalista e currículo de abertura para artistas minúsculos. É um estágio onde você e seus amigos são o próprio chefe.

Os blogueiros são intermediários de primeira instância entre público e mídias maiores, mas não determinantes dentro do mercado. Damos credibilidade e currículo aos artistas e apresentamos ao ouvinte e a veículos de maior importância, mas num fictício mundo onde não houvessem blogs, acredito não  haver falta destas informações criadas neste formato de ‘jornalismo lo-fi’ que praticamos, até porque entramos no meio de uma cadeia, somos parte dela, mas apenas funcionamos como um micro funil frágil para quem gosta de informações mais mastigadas de artistas mais difíceis de encontrar. Os jornalistas e assessores podem criar seu próprio filtro musical e a necessidade de blogs torna cada vez menor.  Fora que a opinião blogueira é muito mais fácil de ser comprada e por um preço bem mais barato, muitas vezes um cd, um ingresso ou uma cerveja, já que financeiramente não há retorno real e muito menos compromisso com credibilidade. Veja a fila dos ‘parceiros’ nos festivais indies como Planeta Terra e Lollapalooza. Esse é o meu ponto na sinceridade e digo isso por fazer parte do meio.

Sejamos realistas: blogs musicais independentes (ou mesmo parceiros de grandes ou médios portais) têm baixíssima audiência e poucos donos que vivem somente do rendimento de seu trabalho (acho que só o Tony do Tenho Mais Discos, que vendeu um carro para isso, ou o Whiplash, que nunca teve qualidade como sua virtude), sem ‘paitrocinio’ ou trabalhar com algo por fora. Falamos para pequenos e médios artistas dentro de um nicho que ocupa cerca de 1% do mercado, enquanto o outro lado tem muito menos artistas, muito mais dinheiro e visibilidade. Mesmo que o comparativo venha de sites independentes como O Esquema ou PopLoad, basta olhar quem os forma: grandes jornalistas de outros meios que aproveitaram o trampolim que um blog proporciona para criar moral em seu nome, mas nunca sendo sustentados somente pelo se próprio site.

Olhando de cima da pirâmide, até nossos artistas médios são considerados minúsculos para o mercado. As próprias grandes gravadoras ignoram a existência de blogs mesmo que o motivo seja rejuvenescimento necessário do público de um artista antigo, até porque sabem que o alcance é pequeno e o tempo perdido. Cabe lembrar que não existe frequência e quantidade de sites ‘caseiros’ voltados a reggae, rap, axé, sertanejo e ritmo populares, todos dominados e sendo noticiados por grandes veículos, sendo a maior incidência de blogs justamente o que tem menos mercado: o independente.

Não é questão de largar tudo, mas de entender sua real função e posição sócio-cultural. Blogueiros de música não são reconhecidos além do que pelos próprios blogueiros de música. São tão (ou mais ninguém) que nossos leitores. Somos os leitores que escrevem, na verdade. Os artistas que gostariam de criticar. Somos menos importantes e impactantes do que as notícias absurdas que costumamos a zoar vindas do EGO.

Se a função de citar um artista novo para um grande meio leve os louros pela descoberta já é feita com afinco, o que resta é cravar seu nome e aproveitar a abertura que esta oportunidade dá. É da zona dos blogs que tem se revelado futuros nomes do jornalismo que irão substituir a safra polêmica-audiência atual que se arrasta desde algum dos mil enterros da Bizz e que hoje ocupam as páginas de portais chamando suas áreas de blog, quando não passam de colunistas contratados para gerar audiência.

Entendendo a posição de um blog, o que resta é buscar qualidade para gerar currículo e experiência para o mercado, fazendo deste um grande teste aberto para o trabalho que buscou estudar, seja músico ou jornalista. Seu reconhecimento nasce aqui para terminar no lugar verdadeiro: um meio de comunicação decente, isento (sic) e que vai te direcionar para o profissionalismo. Criar um blog musical independente hoje é apenas dedicação sem esperar realmente nada em troca  e aprender bastante para usar na sua carreira pelo resto da vida. Aqui vai ser o único lugar onde realmente há liberdade de falar o que quer.

Se não há investimento de iniciativa pública ou privada e o mercado não dá espaço, o que resta é o amor – este malandro presente em tantas músicas citadas nas críticas alternativas e que não paga contas, mas que cria uma relação de afetividade com algo que é importante para a profissionalização. É assim que mantenho o RockinPress.

E você que não é blogueiro e está lendo, cuidado: este é um texto amador e de credibilidade questionável.