Marcelo Jeneci @ Oi Casa Grande, Leblon-RJ 10/01/2011
Noite carioca de janeiro: ‘À noite, lágrimas de diamantes; De dia lágrimas, à noite amantes’. Virando uma nova fase na programação da Oi Fm, o Ronca Ronca de Maurício Valladares ganhou a chance única de chefiar um show que o próprio artista principal achou que só por uma vez iria poder mostrar. Marcelo Jeneci escolheu acordes delicados e letras tocantes para abrir o coração de algumas centenas de pessoas que lotaram o Oi Casa Grande nesta última segunda-feira.
Os olhares tortuosos de pessoas que esperavam há horas a entrada do mais novo diamante da música brasileira dividiam dúvidas com os curiosos e famosos que estavam presentes no lançamento de Feito Pra Acabar, primeiro e histórico álbum de Jeneci. Luzes baixas, público apreensivo sentado e um telão gigante no fundo do palco, em um tom expressivo de laranja, destoava o clima intercalando os logos da Oi FM e do icônico Ronca Ronca.
Jeneci entra no palco para fazer um show único para futuros sonhadores. Um show que contradiz a faixa-título do álbum e por vezes insistia em parecer ser infinito, fazendo apenas a mágica. Como num circo, onde hipnotizar olhares da platéia é a meta final, fez no palco toda a maravilha emocionante que o povo quer assistir arrepiado, de boca aberta.
(foto por Ramon ‘Xalmer’ Moreira – www.xalmer.com)
A escolha de “Copo D’água” e “Café com Leite de Rosas” para a abertura da sessão transmite a tal sensação, criando o clima e sorrisos que pontuarão a noite inteira. “Jardim do Edem” é a abertura para a Orquestra de Câmara regida pelo maestro Arthur Verocai entrar no palco e aflorar o sentimento mais contido durante os primeiros segundos de “Quarto de Dormir”, seguida por “Felicidade” e “Pra Sonhar”, duas das melhores músicas do ano.
Mas as primeiras lágrimas só viriam aos olhos em “Dia a Dia, Lado a Lado”, canção emblemática composta e executada com Tulipa Ruiz, simplesmente os dois maiores artistas de 2010, conforme o próprio e falante Jeneci brincou durante sessão de fotos com fãs. As lágrimas só desceriam de vez durante a histórica e inesquecível execução de “Feito Pra Acabar”, com orquestra e metais, assombrando seus ouvintes com seus movimentos épicos indescritíveis, levando a platéia à catarse total: todos aplaudiram de pé.
A partir daí, Marcelo Jeneci iniciaria os momentos intimistas da noite com uma canção inédita solo ao piano, cantando seus poucos versos em círculo, até que os presentes pudessem repetir o refrão e cantarem juntos (“A chuva é a vontade do céu de tocar o mar. E a gente chora assim também quando perde alguém. Mas quando começa a chorar, começa a desentristecer. Assim se purifica o ar depois de chover.”). No palco, “Doce Solidão” ganha vocais mais expressivos de Marcelo Camelo, incluindo guitarras mais estridentes e introdução ao piano de Jeneci e da bela e simpática Laura Lavieri.
(foto por Ramon ‘Xalmer’ Moreira – www.xalmer.com)
Já “Liberdade” dá mais uma amostra da destreza de Jeneci em seu acordeon, tirando inclusive o foco em Camelo e passando para o declarado fã do ex-hermano, que exclamava aos ventos que jamais seria um compositor se não existisse Marcelo Camelo. De improviso e experimentado, Marcelo Jeneci criou uma linha de piano densa na versão de “Pois É”, em um dos momentos mais surpreendentes da noite, perdendo talvez para o espanto de Jeneci ao notar as vestimentas de Marcelo Camelo: camisa de botão, bermudinha praiana e chinelo de dedo.
Entre outras canções, a escolhida para encerrar a primeira parte do show foi “O Outro Lado da Cidade”, um cover animado e dançante de um clássico esquecido do mestre Roberto Carlos, agora entonada na voz doce de Laura Lavieri. De bis, “Longe” trás o clima introspectivo de volta, cortado aos risos com o querer do crooner da noite em mostrar “Dar-Te-Ei” ao seu ídolo Roberto Carlos. Ao fim, uma repetição ainda melhor executada de “Copo D’Água”, agora, junto com Tulipa Ruiz.
Após 20 músicas, quase duas horas de show, muita microfonia, simpatia e sotaque paulista, tivemos uma apresentação de encher os olhos de lágrimas e cansar os pés de dançar; um show de se dormir lembrando e acordar cantando; uma noite feita para acabar, para aí sim, fazer parte de todas as nossas lembranças, pra sempre.