Marcelo Camelo e Cícero @ Circo Voador-RJ 10/03/2012
foto por Letícia Aido (Flickr)
Estavam ali no palco duas gerações de uma mesma levada. Professor e aluno, contrastam no repertório mas dividem o mesmo banquinho para segurar seus violões. Enquanto Cícero tem fala rápida e desleixada, misturando palavras com seu nervosismo, Camelo esbanja alegria e sorrisos – tranquilidade de quem estava ali para fazer seu mais novo registro em vídeo. Noite para assistirmos ídolos se tietarem.
Enquanto um outro aluno de Camelo canta nas rádio que “Felicidade é só questão de ser”, Cícero ainda dá seus primeiros passos, cada vez mais firme em um solo que parece ainda ser desconhecido para o jovem músico. Sempre muito nervoso, muito desacreditado de tudo, a apresentação do agora amado músico está mais profissional, fazendo deste o melhor show que a banda Cícero já fez em questões técnicas.
foto por Letícia Aido (Flickr)
O palco em nenhum momento pareceu largo demais para o quinteto e muito pelo contrário, soou aconchegante naquela noite de lua e poucas nuvens. Ainda tímidos, porém cada vez maiores, a voz do público ecoou dentro da lona verde e branco do Circo como a beleza do show, crescendo a cada acorde do músico. O que podemos ver ali é que Cícero é, agora, o novo grande nome da música brasileira.
É engraçado notar também a discrepância sonora das duas estrelas da noite. Cicero cita o carnaval como um ‘escarcéu’; Camelo celebra a alegria e nostalgia de “Copacabana”. A voz e os acordes de Cícero são tristes, carregados de um sentimento denso envolto em decepções passadas, enquanto Camelo descarrega amor nas canções de Toque Dela, seu recente álbum.
Despojado, barba feita e estranhamente desacompanhado de sua musa inspiradora, Marcelo fez aquele show que muitos já esperavam: lágrimas nos olhos e coros sublimes. Ícone entre os fãs do Los Hermanos, o flamenguista e trompetista Bubu foi o primeiro a ser ovacionado pelo público seguido pela perfeição harmônica do Hurtmold, banda que acompanha Camelo em seus shows.
Já no clima da reunião de sua banda principal, o repertório do Los Hermanos foi privilegiado: “Casa Pré-fabricada”, “Fez-se Mar”, “A Outra”, “Ta Bom”, “Além do Que Se Vê”, “Pois É” e “Morena”. A nova canção, “Luzes na Cidade”, pareceu ainda tímida e desconhecida para os cariocas, mas “Cara Valente” e “Santa Chuva”, ambas dedicadas à Maria Rita, caíram como uma chamada ao vasto repertório do cantor – fato provado pela variedade de pedidos de músicas durante os instantes ‘violão e voz’ do show.
foto por Letícia Aido (Flickr)
As novas versões de “Janta”, “A Outra” e “Liberdade” ganharam destaque e o fato da voz de Marcelo estar em perfeitas condições contribuiu em muito para que acontecesse ali uma apresentação digna de um DVD inesquecível e apaixonante. E a turma diz: Assim é que se faz!
Talvez algumas pessoas esperassem uma surpresa descompromissada, uma canja entre professor e aluno, uma brincadeira ou até uma citação, mas o único momento de encontro entre Camelo e Cícero ficou eternizado em uma única foto de Ramon Moreira e numa inusitada versão que Cicero mostrou de uma canção de seu ídolo durante um webcast na última quarta. Talvez não seja professor e aluno, mas sim uma geração apresentando a próxima para o mundo.