maPEando: Graxa, um músico com Molho

“…Eu vou lhe dizer
Entenda o que você quiser
Ou não
Que se o acaso vier te levar
Tudo em volta de mim vira um vão.”
– Tudo em Volta de Mim vira um vão
por Graxa, em Molho.

Não adianta juntar inúmeras referências ou nomes dos mais famosos ou undergrounds artistas do blues ou da psicodelia nordestina, Angelo Souza, ou simplesmente “Graxa” é e, pelo que vem sendo observado, continuará sendo uma eterna incógnita da atual cena musical Recifense, surgindo sempre aos poucos, mas sempre causando alarde com sua voz grave, sua forma macabra de conduzir seus poemas em meio a temas dos mais variados e sua vocação para a alquimia de timbres.

“Molho”, seu disco de estreia, lançado em 2013, é a maior prova de sua volatilidade e facilidade em expor suas letras e ritmos em harmonia com timbres a princípio um tanto incomuns e intimadores, tramando a instigação do ouvinte e conquistando fácil a segunda, a terceira, a quarta reprodução, e assim por diante, cumprindo o encargo de mostrar ao ouvinte que sua obra é de necessária audição minuciosa para captação das mais profundas mensagens e sensações, sem tornar o álbum cansativo ou tampouco desconectado dentro de si e de suas alquimias poéticas e harmônicas.

“É um trabalho bem sincero, que trabalha em várias áreas da música, que foi feito na raça, com o que tinha, que mesmo assim é um disco com qualidade e foi reconhecido ao ponto de ser lançado em vinil, pra citar algumas coisas.”
– Respondeu Graxa quando perguntado sobre o que o ouvinte deve prestar atenção em “Molho”

Em uma conversa fluente e deveras relax, por meio do facebook Graxa também fincou a estaca sobre o que realmente está acontecendo sobre a tão comentada e criticada “Cena Beto”, movimento musical que teoricamente surgiu ano passado, tendo JuveNil Silva, Graxa, Aninha Martins, Zeca Viana e inúmeros outros músicos esquecidos no subúrbio recifense ganhando destaque através de uma matéria redigida pelo jornalista d’O Globo, Silvio Essinger, com JuveNil Silva e acabou por gerar um tremendo furdunço nas críticas socio-culturais e filosóficas sobre o nascimento de novas cenas, o que elas tem a acrescentar no cotidiano e até mesmo sobre o jornalismo nas mídias digitais e suas formas de interpretações e contatos.

(Leia o texto na íntegra clicando aqui)

“Beto – personagem fantasioso, fruto de um mito, que intitula a cena – ainda existe?”, perguntei eu e, sem deixar espaço para mais questionamentos, o protagonista de “Molho” retrucou:
“Existe pra mim, sempre existiu, mas agora existe, também, pra mais pessoas. Existia, existe e que exista até quanto dure.”

Aprofundando o assunto, citei alguns momentos onde se evidenciam tentativas de morte a Beto e questionei-o sobre o porquê de tais atos, já que o mesmo ainda está de pé, firme e forte.

“Eu penso que alguns pensam que o individual do pessoal sobrepõe a cena. Penso também que não legitimam porque, de acordo com a história, todos esses movimentos considerados de vanguarda, se assim podemos dizer, são feitos com manifestos, tem sinais em comum, são interligados e dão uma unidade, por isso que alguns acham que o individual sobrepõe a tal cena, e outros não legitimam porque, mesmo misturados, somos diferentes musicalmente e individualmente.

Mas aí que eu me pergunto o seguinte. Como é possível que quando um de nós apresenta uma opinião, os outros julgam como opinião coletiva, mas o fato de estarmos sempre nos ajudando musicalmente não é visto dessa forma? Não é visto como um trabalho coletivo entre nós, com nossas diferenças.

As outras pessoas que eu acho que querem acabar com Beto, são outros músicos. Porque seria? Porque os que já estavam estruturados foram pegos de surpresa.

Mas aí tem dois polos, os que eram antigos, que estavam naquele termo frequentemente usado por Jeder Janoti, numa “zona de conforto”, e os que também estão em busca de espaço, mas não se mobilizam por terem discordâncias entre si. E tanto um como o outro, possivelmente procuram deslegitimar a coisa, sacou?’”