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Los Hermanos, A Banda Mais Bonita da Cidade, Tibério Azul e Somato @ Abril Pro Rock, Recife-PE 20/04/2012

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Estamos no comecinho de abril de 1993 e o Recife se prepara para ter um final de semana histórico. Chico Science e a Nação Zumbi e Mundo Livre SA subiriam ao palco do agora extinto Maluco Beleza nos próximos dois dias, marcando o nascimento do festival Abril Pro Rock. Duas décadas se passaram e o festival se tornou um dos maiores do país. Escalando sempre artistas conhecidos e outros independentes no seu line-up, o APR preparou três dias que irão marcar novamente a cena musical: para comemorar seus 20 aninhos, o festival recebeu na sexta nada mais nada menos que o primeiro show da turnê de 15 anos do Los Hermanos. Subiram ao palco na mesma noite antes do quarteto carioca levar a plateia ao delírio, o artista pernambucano Tibério Azul, os curitibanos d’A Banda Mais Bonita da Cidade e a banda vencedora do concurso Bis Pro Rock, Somato, de Florianópolis.

Com o público ainda pequeno para o espaço, a Somato subiu ao palco no horário previsto, e tocou por um pouco menos de uma hora. Mas conseguiu animar bem o público, que aparentou aprovar a banda. Misturando rock com música típica francesa, o violoncelo e o uso do megafone animaram a plateia. Assim como o momento em que a vocalista jogou uma camiseta e um CD ao público. A banda pareceu bem satisfeita no final do show, quando agradeceu a oportunidade de estar naquele palco.

Aproximadamente às 21h30 foi a vez de Tibério Azul, acompanhado dos seus músicos. O fiel público pernambucano já estava a postos para recebê-lo e ouvir as faixas do seu primeiro disco solo, Bandarra. Um dos fundadores da Mula Branca e a Fabulosa Figura e vocalista da Seu Chico, Tibério mostrou mais uma vez que a poesia e a música fazem uma só.

Além de cantar, ele recitou um poema enquanto a banda tocava em que diz que ele não é da informática, mas sim da “invencionática” e usa as palavras para compor seu silêncio. O músico explicou também à plateia que seu CD estava sendo vendido ali por 2 reais, pois “é a nota mais desprezada, que ninguém dá valor. E a poesia dá valor ao que ninguém dá”. E as surpresas não pararam por aí: Tibério chamou ao palco seu “parceiro, quase irmão”, o virtuose Vítor Araújo, pianista da banda Seu Chico. Os dois tocaram a faixa Alquimista Tupi, com direito a um solo poderoso de Vítor, que satisfez plenamente o público.

Depois foi a vez dos mais bonitos de Curitiba de estrear no Recife. Com um Chevrollet Hall já bem cheio, o quarteto quebrou o mito da banda de uma música só. Devo admitir que fui um tanto cética, crente que iria ser um show com interpretação forçada e melosa demais. Mas me surpreendi com a potência da voz de Uyara ao vivo, o fato dela sentir de verdade o que canta e o desempenho do grupo como um todo. E parece que toda a plateia pernambucana também reconheceu o talento dos paranaenses. Além de entoar as reconhecidas Mercadoramama, Boa Pessoa, o grupo tocou ainda Meu Príncipe, da cantora Lulina e finalizou com Oração. Faixa que, como era esperado, todos cantaram em coro e com vontade.

E quando deu meia noite, chegou na tão desejada hora da banda de maior peso da noite entrar em cena. Fiquei pensando em como descreveria a sensação que eu senti ao assistir e participar do show deles. Lembrei imediatamente das minhas aulas do semestre passado de Teorias da Comunicação, e do conceito de aura de Walter Benjamim, que seria a sensação de você ver ao vivo e em cores uma obra original, depois de ter visto só reproduções. E mesmo este conceito abordar especificamente as obras de artes plásticas, acho que não tem como melhor falar sobre a noite de sexta. Com a casa comportando as 15 mil pessoas que pode comportar, os cariocas iniciaram sua turnê comemorativa de 15 anos com Além do que se vê. Nunca pensei que fosse ser uma daquelas fãs histéricas que não canta, mas sim berra, que não só se emociona, mas que também chora em show de rock. Pior do que isso, nunca achei que fosse ser uma daquelas fãs alucinada que contam até três com a melhor amiga para gritar no segundo de silêncio que se instala de vez em quando entre uma música e outra, achando que Rodrigo Amarante vai ouvir (e não foi que ele ouviu mesmo?!). Para mim, apesar de ser mais do que normal enlouquecer e perder a voz em shows, estas atitudes eram de leitoras assíduas da Capricho.

Mas não tinha como não perder a cabeça vendo uma das maiores bandas nacionais de todos os tempos tão satisfeita por estar no palco junta mais uma vez. Ao contrário do que se fala do último show dos Hermanos no Recife, que aconteceu no ano retrasado, os músicos estavam em perfeita sincronia. Ver Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante trocando olhares e riffs, Bruno Medina e Rodrigo Barba sorrindo de satisfação levou todos os presentes à loucura. Todo mundo cantou em uma só voz faixas como Morena, Cadê teu Suin?, Sentimental, Deixa o Verão Pra Mais Tarde, A Flor, O Vento e Pois É. E quando foi a vez de Cara Estranho, o público enlouqueceu. Acho que nunca vi tanta gente pulando junta como em O Vencedor e Todo Carnaval Tem Seu Fim (a não ser num show de Nação Zumbi).

Além das renomadas músicas, a banda tocou duas inéditas de Rodrigo Amarante e Acostumar, de Camelo. Quem fechou a noite antes do bis foi Conversas de Botas Batidas e o clássico dos namoros Último Romance. E lindo de verdade foi ver Marcelo Camelo regendo os metais que acompanham a banda desde o começo ao mesmo tempo em que Amarante cantava “e só de te ver, eu penso em trocar a minha TV por um jeito de te levar…”. Amarante também aproveitou para lembrar que o APR foi um dos primeiros festivais em que ele tocaram, quando ainda não faziam tanto sucesso.

Quando voltaram ao palco, os cariocas resgataram músicas do primeiro disco como Quem Sabe e Tenha Dó. Incrível como todo mundo já deve ter passado por situações que as músicas descrevem, por que todos ali cantaram com muita vontade. A banda fechou ainda com chave de ouro a música que a plateia vinha pedindo: Pierrot. Mas no final, quem ficou chorando pela noite ter acabado não foi ele, mas sim o público fiel do Los Hermanos.

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