Graveola e o Lixo Polifônico – Vozes invisíveis (ou 2 e 1/2)
Ouça aqui: http://graveola.com.br
Depois de quase três anos de “Eu preciso de um liquidificador” e poucos meses do DVD ao vivo no Palácio das Artes em Belo Horizonte, a Graveola chega a surpreender os novos e também os velhos ouvintes, mesmo aqueles que já esperavam um álbum tão espetacular quanto os anteriores, com “Vozes invisíveis (ou 2 e 1/2)” e sua forma única de demonstrar que 2014 ainda nem começou e já temos um grande candidato a melhor do ano.
O disco segue de forma crescente e torna-se cada vez mais interessante com as melodias sempre recheadas de instrumentos e vozes que reverberam suas combinações criativas. Já as letras tornam¬-se um show a parte quando sente-se facilmente tamanha profundidade e delicadeza no decorrer das, sempre impecáveis, composições do José Luís Braga, Luís Gabriel Lopes, e as de altíssimo nível de Bruno Oliveira, Luiza Brina e JP Simões, tornando inevitável a harmonia exuberante resultante de tal alquimia.
Alquimia essa relatada pretensiosamente, já que é bastante perceptível a influência de mistura e experimentalismo de Jorge Ben e Tom Zé, em paralelo com o movimento bossa nova dos anos 50 e a música mineira de Milton Nascimento e Lô Borges em Clube da Esquina, desde o primeiro disco, mas que foi mais acentuada em “Vozes Invisíveis”, enriquecendo mais ainda o som da banda.
Faço questão de destacar o belo acerto em arriscar nos sons mais eletrônicos e moderninhos de “Cafeína”, o que ainda não tinha se tornado presente nas obras anteriores, “Voz invisíveis”, que é talvez a mais referente aos trabalhos anteriores e intitula o disco com digníssimo merecimento, “A mão e a roseira” que tem uma sutiliza que segue em seu decorrer tornando cada vez mais bela e chiclete, “Canina intuição” e sua letra destinada a cães, tal como é “Canção para um cão qualquer” no álbum de 2011 (seria essa uma nova marca?), e seu arranjo que faz renascer a boa e velha MPB com um toque a mais de Guilherme Arantes, “Até breve” que dá um pequeno susto te fazendo imaginar que o disco se despede ali, mas talvez propositalmente, torna-se a prova de que após a despedida existe muito mais, “Cleide” que revive os bons tempos dos Demônios da Garoa e o original samba paulista com um toque de chorinho mineiro, “Maquinado” e sua bela ressalva bucólica futurista do mundo que vivemos e, por fim a marchinha “Da janela” da Luiza Brina, que se torna um fácil assovio em poucas audições.
Eis, que no final das contas, Graveola e o Lixo Polifônico prova em “Vozes invisíveis” que mudanças de influências, estéticas e sonoras acontecem naturalmente mas não precisam ser relacionadas diretamente à perca da essência, tornando assim o seu mais novo álbum um registro das alterações melódicas da banda e o experimentalismo da mesma, sem desacelerar o passo estabelecido lá atrás no primeiro disco, valendo dizer que “Vozes invisíveis” pode-se escutar de trás pra frente, de frente pra trás, do meio pro fim, do meio pro começo, mas permanece belo e totalmente coerente.